Homenageando à imperatriz Thereza Christina de Bourbon, em 8 de Agosto de 1884, inaugurou-se nesta cidade, com a presença de S.M. o imperador d. Pedro II, o teatro, que, com a denominação de João Caetano, pertence atualmente à municipalidade.
Mas sua longa história define bem os esforços de um grupo de incansáveis, cuja recompensa foi a ingratidão e a perda do edifício que passou para o domínio e propriedade do Governo da Província do Rio de Janeiro.
Faltara dinheiro para conclusão das obras (aparelhos de cenografia) e aquisição de mobiliário e a diretoria do teatro construído sob responsabilidade de uma companhia, contraiu com o governo - Lei nº 2901 de 25 de outubro de 1882 - um empréstimo de 10:000$000 aceitando uma letra que devia ser paga em tempo determinado.
A título de curiosidade, a lei foi aprovada com o voto contrário do deputado Luiz Carlos Fróes da Cruz, que viria a ser, naquele mesmo ano de 1882, precisamente 5 dias depois, pai do menino Leopoldo Fróes, que deu justamente neste palco seus primeiros passos nas artes cênicas. Sua justificativa foi: "É por ser obra de luxo".
Esse compromisso, porém, não se pode realizar por falta de numerário, pois a diretoria lutava com grandes dificuldades, Não houve moratória, e o governo, ignorando tantos sacrifícios, mandou acionar a companhia que ficou sem o teatro, recebendo, os acionistas, em 1887, a quantia de 10:774$868.
Acresce que o sr. Felício Tati, gerente da companhia, tinha contrato assinado com o governo que se comprometia à subvenção de 20:000$000 anuais, pagas trimestralmente pelo erário provincial, sendo as quantias indenizadas com as quotas provenientes de extrações de loterias.
Apesar dos obstáculos que surgiam a cada momento, conseguiu ainda assim a diretoria proporcionar bons espetáculos, mantendo uma companhia dramática com residência nesta cidade e, para mais acentuar os seus esforços, fez representar companhias lricas e exibir peças como
Gran Galeoto, Gentil Dunois, Pipilet, Trovador, La Favorita e outras.
Teve diversas diretorias nas quais figuraram como presidente, o Barão da Laguna; secretários, José Francisco de Sá Junior, Pinto Moreira e depois Augusto de Souza Lobo; tesoureiros, Augusto de Souza Lobo, e por último Clemente José de Góes Vianna e empresário-gerente o já citado Felício Fortunato Tati.
Segue, para que não se perca no silêncio do arquivo particular, o "Auto de Inauguração" do novo edifício do então Theatro de Santa Thereza.
"Aos oito dias do mez de Agosto do anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos e oitenta e quatro, na Imperial cidade de Nictheroy, na Provincia do Rio de Janeiro, á rua da Imperatriz em o novo edificio construido pela companhia Theatro de Santa Thereza, ás 8 1/2 horas da noite achando-se presentes S. M. o Senhor D. Pedro 2°, Imperador constitucional e Defensor Perpetuo do Brasil, S. Ex. o Sr. Dr. José Leandro de Godoy Vasconcellos, Presidente da Provincia, os exms. Srs. Chefe de Policia, Deputados Provinciaes, Vereadores da Camara Municipal desta cidade, Membros da Representação Publica Provincial, diversos cidadãos e a Administração desta companhia, todos reunidos no salão principal do edificio, Houve por bem S. M. o Imperador declarar inaugurado o theatro Santa Thereza.
E para constar mandou o mesmo Senhor lavrar o presente termo que eu Augusto de Souza Lobo, secretario da Companhia "Theatro Santa Thereza" escrevi, assignando commigo as pessoas presentes. Assignados: D. Pedro 2º - Conselheiro Antonio H. Miranda Rego - José Leandro de Godoy Vasconcellos - Antonio Roiz Monteiro Azevedo - Barão da Laguna -
Augusto de Souza Lobo - Dr. Manoel Vieira da Fonseca - Paulo F. P. de Almeida Torres - Dr. Marcos Rodrigues Madeira - Luis Carlos Fróes da Cruz - Manoel Rodrigues Peixoto - Pedro Luiz Soares de Souza - João Gomes de Mattos - Salvador C. de Sá Benevides - Leopoldo da Rocha Barros - José Antonio de M. Garcez - Clemente F. de Góes Vianna - Miguel de S. Mello e Alvim - João Antonio Corrêa - João Carlos Pereira do Lago - Augusto de Castro - Antonia Pinto Moreira - Felício Fortunato Tati - Carlos Frederico Castrioto - José Francisco de Sá Junior - M. Mendes da Costa - José Dias Braga.
Eis a origem do Theatro João Caetano, adjudicado mais tarde à municipalidade por 45:000$000. Com a sua construção desde os alicerces foram despendidos 80:00$000, mais ou menos, e em 1896, com algumas alterações que sofreu no interior e no frontispício, gastou a Câmara cento e tantos contos de réis!
Cem anos e uma dezena de - em alguns casos infelizes - reformas depois, o Theatro Municipal João Caetano sofreu, na década de 1990, um amplo trabalho de restauro, comandado pelo artista plástico Cláudio Valério Teixeira.
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