Cidade Negra, Natiruts e Ponto de Equilíbrio, três frutos da obra do maior cantor de reggae do mundo sobem ao palco do Teatro Popular de Niterói no próximo dia 11

Ele fez história na música com canções que defendiam a paz. Cantando suas emoções, tornou-se o mito da Jamaica, país onde nasceu e ultrapassou fronteiras geográficas, étnicas e sociais, popularizando pelo mundo mais que um estilo musical, uma filosofia: o Reggae. No dia 11, serão completados 32 anos da morte do líder rastafári Bob Marley e, para homenageá-lo, as bandas Cidade Negra, Natiruts e Ponto de Equilíbrio, três frutos de sua obra, sobem ao palco do Teatro Popular de Niterói para dar voz ao festival Tribo de Marley.

"Ele foi um revolucionário. Apesar das canções falarem muito de amor e paz, o que o movia era uma revolta interna social, em prol de uma mudança da Jamaica, de governo. Ele foi um cara da guerrilha, só que a guerrilha dele era armada por verbo e música, o que o fez ganhar o mundo", exalta Toni Garrido, vocalista do Cidade Negra.

Considerado o maior festival de reggae do Brasil, o Tribo de Marley nasceu na Fundição Progresso, como uma celebração póstuma à carreira de Bob Marley, cuja obra continua atual, e sua mensagem cada vez mais adequada aos novos tempos. As atrações, além de apresentarem trabalhos autorais, são convidadas a pintar a obra do Rei do Reggae com suas próprias cores, criando arranjos novos para músicas inesquecíveis.

Após três anos afastados, sem estabelecer nenhum tipo de contato entre os integrantes, o Cidade Negra retomou a formação original, composta pelos músicos Toni Garrido, Bino Farias e Lazão e produziu o álbum Hei, Afro!, com 13 faixas inéditas, mixado na Jamaica. A mais antiga das três bandas, na estrada há 27 anos, seguiu os passos de Gilberto Gil, primeiro artista popular a distribuir com força à estética reggae, e abriu caminho no seguimento.

"Os pioneiros a seguir foram os Paralamas, com o ska, nos anos 80, que misturava The Clash e Jamaica, fazendo um reggae brasileiro do rock’n’roll muito peculiar. O ‘Cidade’ talvez seja o primeiro representante da nova musica pós-rock anos 80 a ter aderido com tudo ao reggae. Me lembro que, nessa época, muitas pessoas perguntavam por que nos intitulávamos como uma banda de reggae, alegando que a onda iria acabar, mas nunca conseguimos nos desvencilhar do gênero", reforça Toni, acrescentando como é viver do reggae no Brasil. "Tem sido uma trajetória maravilhosa, apesar dos percalços. Nossa música já diz: o reggae quando bate, você não sente dor. Na real, uma metade do que a gente escreve, nós vivemos, e a outra, a gente intui, e acredita. E essa vivência foi dada pelo reggae. O ‘Cidade’ não é uma mentira, não é um meio de ganhar dinheiro, é uma junção de pessoas que filosoficamente se entenderam para fazer música de uma forma diferente, falando de coisas boas. Ter o reggae como arma é sensacional. Hoje, não vivemos mais daquela forte exposição midiática dos anos 90, o que é muito mais legal. Continuamos apaixonados por reggae, nos divertindo, e, ao mesmo tempo, conseguimos pagar as contas com o nosso trabalho, que ganhou credibilidade porque o fizemos de forma séria", completa.

Neste show, a banda irá tocar músicas do Hei, Afro! como Eu fui, voltei, Ninguém pode duvidar de Jah e Só Pra Detonar. No entanto, no repertório também estarão músicas que são velhas conhecidas do público.

"As pessoas estavam acostumadas com o nosso discurso de amor, sentimos esse saudosismo, e está sendo um enorme prazer poder tocar essas canções novamente", revela Toni.

Já o Natiruts traz para a noite o álbum Natiruts Acústico no Rio de Janeiro, que comemora os 15 anos da banda com um belo registro gravado no Mirante Dona Marta, que fica do lado oposto à comunidade de mesmo nome. Com nove discos lançados, a banda é atualmente uma das mais executadas nas rádios e exerce grande influência no reggae nacional.

"Procuramos abordar temas distintos. Muitos momentos que vivemos, em diferentes lugares, acabam virando música. E as pessoas entendem de forma muito espontânea que ali existe algo único e verdadeiro", explica Alexandre Carlo, vocalista e compositor da banda, salientando a importância do Bob Marley. "Ele é um dos maiores músicos de todos os tempos, que conseguia ser autêntico e criativo de uma forma incrível. E, no ‘Tribo’, vermos três bandas completamente diferentes tocando o mesmo estilo, significa que, finalmente, a comunidade reggae como um todo, incluindo produtores, artistas e público, entendeu que o reggae é rico e diverso, e que pode atender às expectativas de variados ouvintes", disserta o cantor, adiantando o que o público pode esperar do repertório. "Hoje, as pessoas vão aos nossos shows para ouvirem as nossas canções, mas por ser um dia de homenagem, sem dúvida tocaremos alguma do Rei", adianta.

O Ponto de Equilíbrio leva ao palco do Tribo de Marley um show da turnê Juntos Somos Fortes. A banda faz um reggae de raiz que perpassa o Brasil, Jamaica e África, enfatizando a importância da igualdade social.

"Buscamos propagar positividade, amor universal e, também, estimular o senso crítico das pessoas, para que possamos refletir e não aceitar tudo o que é imposto para nós", explica o guitarrista Marcio Sampaio, ressaltando também o processo de composição das canções. "Escrevemos músicas sobre variados assuntos. Seja sócio-político, religioso ou sobre o nosso cotidiano, mas sempre de modo a incitar o senso crítico", completa.

Apesar de ser a banda mais recente das três, o ‘Ponto’ conquistou um público enorme e fiel no Brasil. Além das viagens em turnê de Norte a Sul do País, a banda já esteve em países europeus como Portugal, Itália e Alemanha. No Tribo de Marley, já são quase fixos, mas a gratificação por poder participar do festival não mudou. "A sensação é de que estamos dando continuidade ao legado dessa grande estrela, que, mesmo depois de 32 anos de ausência, continua trazendo cada vez mais adeptos para esse movimento maravilhoso de consciência, que é a música reggae", divaga o vocalista Hélio Bentes.

Para Toni Garrido, apesar dos produtos musicais diferentes, as três bandas, que se apresentarão pela primeira vez juntas, se afeiçoam em um quesito.

"São todas extremamente influenciadas pelo reggae do Marley. O Alexandre Carlo, do Natiruts, é um filho natural da estética do Marley de fazer canções. As faz tão bem, que o Bob ficaria feliz de vê-lo compor. E os meninos do Ponto, eu sei que gostam muito do Marley também. Então, o Bob jamais será uma redundância, ele é o cara da noite", finaliza o líder do Cidade Negra.

Serviço - O Teatro Popular de Niterói fica na Rua Jornalista Coelho Neto, s/nº, no Centro. De R$ 40 a R$ 120. 18 Anos. Tel: 2613-2613.

Por Vanessa Verthein para o O Fluminense (05/05/2013)


Tags:






Publicado em 01/05/2013