"Não desejava um museu envidraçado, mas com o grande salão de exposições cercado de paredes retas, circulado por uma galeria que o protegesse e permitisse aos visitantes nos momentos de pausa apreciar a vista extraordinária."Oscar Niemeyer

O MAC de Niterói foi concebido e construído em meio às discussões e revisões pelas quais passa a produção arquitetônica nesta virada de século.

Em paralelo às tendências atuais da produção arquitetônica, que não apenas defendem o pluralismo, como também a revisão do Moderno, Niemeyer mantém o discurso na defesa da simplicidade das formas em seus projetos.

Adotando o predomínio da linha horizontal e fazendo da estrutura em concreto a própria forma do prédio (o exosqueleto), ao mesmo tempo em que solta o seu volume do terreno, levemente apoiado em pilar único, o arquiteto cria a relação de continuidade da praça com a paisagem e o mar.

A forma circular do Museu, aliada aos grandes vãos, conduziu-o a uma solução estrutural essencialmente radial, dividida em seis setores, em conformidade com o projeto de arquitetura. Tal solução pode ser a lição aprimorada daquilo que Le Corbusier expressou no protótipo da "Maison Domino", ou seja,"a ênfase na horizontal, interpenetração do dentro e fora, criando-se os meios para a fachada livre". O plano livre destruiu a fachada fixa, liberando a arquitetura moderna de tal preocupação.

Em lugar de confinar as obras de arte às tradicionais quatro paredes, Niemeyer adotou, em parte, uma solução aberta, onde o entorno participa do espetáculo oferecido ao visitante.

A transparência da varanda

Uma das características que tem norteado o vocabulário arquitetônico contemporâneo é a aplicação de materiais que, por suas capacidades de permitir a passagem de raios luminosos visíveis, fortalecem (ou facilitam) o diálogo dentro/fora.

Ao dispor a varanda como espaço que envolve todo o salão hexagonal de exposições, Niemeyer trabalha a atuação da paisagem circundante; além de transferir a função de mirante para aquele lugar, também provoca a invasão da paisagem da baía – e toda a sua qualidade sedutora – ao seu interior, num processo de museificação dos objetos operantes no entorno do edifício.

Tal relação, ao contrário do que poderia ocorrer nos espaços expositivos tradicionais, tem provocado inúmeros artistas frente aos embates promovidos pelas discussões que permeiam o processo realizador da arte contemporânea.

Acompanhando a montagem do trabalho de um artista, na varanda, em 1998, ouvi sua reclamação: "É uma disputa desigual desta arquitetura com o nosso trabalho! Como é possível competir com esta paisagem, assim escancaradamente invadindo esta varanda?!" (1) Naquele instante foi possível a percepção de uma outra relação da arte com a arquitetura. A obra passa a ter um referencial, um pano de fundo, uma cena, uma nova profundidade concomitante com a paisagem como obra de arte museificada. No MAC, não como paisagens estaticamente emolduradas, mas como imagens impressas nos setenta fotogramas que circundam a varanda, produzindo o movimento pleonástico do cinema. Linguagem esta tão utilizada nas construções plásticas da arte contemporânea.

Outra obra, também criada para aquela arquitetura, estava lá na varanda (2). Eram centenas de sentinelas com seus olhares voltados para o infinito da saída da baía, e que talvez poderiam estar cruzando com outros, partindo das imensas janelas do MAM.


O percurso

A geometria das áreas expositivas, antecedida pelas curvas da rampa, leva o visitante a um percurso circular, numa caminhada que se inicia no portão da praça, apresentando vários pontos de vistas através das disposições dos elementos arquitetônicos.

A arquitetura do MAC, utilizando o conceito de "promenade architectonique", desde a sinuosa ascensão pela rampa, circulando num sentido – de modo inconsciente – anti-horário pela varanda, fazendo uma interseção pela escada helicoidal que leva ao segundo piso, agora tomando a direção naturalmente horária, sugere ao visitante a sensação espacial de infinito.


(1) Exposição de Antonio Manuel e Artur Barrio, em 1998, quando o primeiro ocupou a varanda do museu com a construção de diversas paredes coloridas com furos propositadamente "marretados", criando diversas visadas da baía da Guanabara.
(2) "Terra à vista", de Nelson Leirner, faz parte do acervo do MAC de Niterói. Sandro Silveira Diretor da Divisão de Arquitetura







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