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A Sala José Cândido de Carvalho, localizada no primeiro andar da sede da Secretaria de Municipal de Cultura, apresenta a partir desta terça-feita, 07 de julho de 2015, a exposição "Flaminga e os Flamingos", da artista plástica Karenina Marzulo. Com essa mostra, Karenina procura transmitir que a imagem e as palavras, ditas e não ditas, se entrelaçam para contar uma história. "É uma imagem ou uma história? É a história da imagem ou uma imagem da história?". A mostra fica em cartaz até o dia 1° de agosto e pode ser visitada de segunda a sexta, das 9 às 17h.

Ao espectador é oferecido um convite de entrada para outra realidade, num espaço lúdico e íntimo. O espaço propõe uma ficção própria, na qual se é possível transitar em outra vida, além de se reconhecer como personagem. A mostra possui como elementos principais uma menina, representada por meio de fotos antigas de diferentes crianças, e os flamingos. Essas meninas existiram, mas não há nomes e datas. Nessas montagens, o encontro dessa nova realidade para a qual foram transportadas, ocorre em um meio que nunca existiu.

A criação da composição tem como base as fotografias de autoria da artista, fotografias antigas (não datadas, porém pela indumentária e composição fotográfica crê-se que são do séc. XIX) e outras imagens pesquisadas. A pintura entra como uma interferência de cunho criativo para complementar as composições criadas digitalmente por meio de colagem ou fotomontagem.

Inicialmente o objetivo desse projeto era de ilustrar uma história, porém no decorrer do processo foi abandonada a vinculação de imagens e palavras para se tornar uma criação independente.

    É uma imagem ou uma história? pergunta Karenina.

    Uma imagem é uma realidade recriada, como diz Nelson Goodman na obra Linguagem da Arte. Nesta condição, surgem os recalques de nossas vivências, onde toda cultura que nos alicerça se faz presente numa fração de segundo da elaboração mental. Podemos considerar, na elaboração da imagem, uma re-construção do nosso próprio conhecimento, posto que a imagem extrapola o âmbito do consciente de um observador. Se a imagem mental surge da re-construção daquilo que não está ali, então para que serve a arte? No caso da obra de Karenina, a arte está lá, na imagem que enriquece nossa percepção de mundo, porque ela desperta, em si, a riqueza dos detalhes presentes e passados, re-construindo um universo, que tanto pode nos levar para as lembranças de outrora ou para as angústias do tempo, que passa, e muitas vezes, mal notamos. A arte de Karenina demonstra seu valor ao proporcionar a chance de vivenciarmos o lapso entre o antes e o agora; entre o real e o ilusório.

    Karenina nos apresenta uma menina de uma história qualquer, antiga ou infantil; cinematográfica ou ilusória. Do sonho? Talvez. Mas, em cada obra e a todo momento, existe o toque cortante do flamingo como diferenciador. A menina? Será Karenina? Ou seremos nós como personagens dos contos de fadas que permeiam nossos próprios pensamentos? Enquanto nos vemos na menina, o flamingo está presente nas nossas mentes, pinicando nossa memória para que não percamos tempo. É surreal, mas entendemos como real, pois há algo que instiga sempre as nossas mentes, numa forma ou num detalhe que nos escapava, mas que sempre extrapolará em algum momento para o campo do reconhecível.


    Rosana Ramalho de Castro
    Prof. Associada UFRJ
    Doutora em História UFF
    Pós-Doutora em Semiótica Aplicada ás Artes


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A artista

Carioca, Karenina Marzulo é graduada em Pintura pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro e frequentou a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, fazendo cursos como o Programa de Fundamentação. Sua produção artística se utiliza da pintura e da fotomontagem ou as duas técnicas misturadas. São características de seus trabalhos, as cores saturadas e a temática que faz referência ao surrealismo, colocado em diversos suportes como tela, madeira e papel.

O trabalho de Karenina é influenciado pelas sequências cinematográficas apoiadas pelo lirismo da poesia. Além do cinema, suas referências também estão na literatura, histórias passadas, diálogos, frases soltas, todas emaranhadas em um universo onírico. Há ironia, há deboche, há tristeza, há sarcasmo, há palavras como tantas outras que podem descrever essa loucura, assim, abraçada por ela, essencialmente.

Sobre a Técnica

Na técnica da colagem digital, escolhem-se as imagens que serão utilizadas, recorta, sobrepõe para constituir uma unidade. Uma forma de criar efeitos interessantes é combinar a fotomontagem com o desenho e a pintura, como realizados nesse projeto.

Diferente da fotografia, que afirma que algo esteve lá, em um determinado momento, mas que não existe mais e jamais irá se repetir, a colagem fotográfica digital realizada nesse trabalho, possibilita a criação do que nunca existiu, mas que está ali e que nunca poderá acontecer novamente. Desprendendo-se das proporções e perspectivas, a colagem remete a algo que em algum lugar da fantasia, pode acontecer e se posicionar como uma imagem única.

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Serviço

"Flaminga e os Flamingos", de Karenina Marzulo
Curadoria: Desirée Monjardim
Abertura: 07 de julho de 2015, às 19h
Visitação: Até 7 de junho, de 2ª a 6ª, das 9h às 17h
Entrada franca
Classificação etária: Livre

Local: Sala José Cândido de Carvalho
Rua Presidente Pedreira, 98 - Ingá, Niterói - RJ - Tel.: (21) 2719-9639


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Publicado em 19/06/2015

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