Familiarizada com desenhos desde criança, a pintora, gravadora e curadora Desirée Monjardim Lait é uma das mais reconhecidas artistas visuais de Niterói.

Niteroiense nascida em 10 de abril de 1948, Desirée é autodidata e conta que sempre contou com o apoio familiar quando resolveu trabalhar com arte. "Meus pais sempre me apoiaram em tudo o que eu fiz, devo muita coisa a eles", afirma.

Desirée descobriu sua vocação desenhando e aperfeiçoou-se nas técnicas de xilogravura e entalhe no final da década de 1960. No atelier que abriu em Rio Bonito, começou a trabalhar com pinturas, passou também pelos utilitários, como luminárias e decoração de interiores. A partir de 1984, frequentou a Oficina de Gravura do Ingá, dedicando-se ao desenvolvimento da gravura em metal, sob a orientação de Anna Letycia Quadros, Isis Braga e Rossini Perez.

Em 1969 expôs suas talhas com sucesso na Feira de Arte de Ipanema e no ano seguinte, na carioca Galeria Cavilha, mostra que contou com apresentação de Antonio Houaiss (veja em depoimentos). Em 1975 participou de uma exposição coletiva de talhas na Galeria Le Chat, em Icaraí, ao lado de Jesuíno Campos, Mário de Andrade, Ivahy de Aguiar, Karla Schmidt e Lia Helayel.

A partir de então, exibiu sua obra em exposições coletivas e individuais, em diversas cidades do país e também do exterior.

Em 1988, integrou uma mostra coletiva no Museu do Ingá, ao lado de Ísis Braga, Maria Lúcia Maluf, e dos Mestres escultores Expedido, Mudinho e Guarani. No mesmo ano, participou da exposição 'Gravadores do Ingá' no Centro Cultural Paschoal Carlos Magno. Em 1989, integrou a exposição coletiva no Gabinete de Estampas do Parque Lage e inaugurou uma individual na Galeria Artespaço, no Rio de Janeiro. Na galeria de Arte SESC da Tijuca, expôs suas obras com o escultor João Weslwy, mostra que no ano seguinte ocupou o Museu do Ingá. Também em 1990 participou de uma mostra coletiva na Átrio Galeria, com David Largman e Marco Antônio Fernandes. Em 1996, mostrou seus trabalhos na Galeria da Aliança Francesa de Niterói.

Em 1998, abriu uma mostra no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, e foi convidada por Cláudio Valério para comandar a Sala José Cândido de Carvalho, localizada na sede da Fundação de Arte de Niterói. No ano seguinte, assumiu também a direção do Museu do Ingá.

Militante da causa manicomial, a curadora inaugurou seus trabalhos na Sala José Cândido de Carvalho com uma mostra que reuniu desenhos, pinturas e fotografias produzidos por 15 usuários dos serviços de atendimento psiquiátrico de Niterói. "Como curadora consegui o meu objetivo de anos: informar muita coisa sobre esse projeto que as pessoas não sabiam. Foi um sucesso o dia do vernissage, deram muito valor aos trabalhos", conta Desirée.

Para Desirée, a função de curadoria é de extrema responsabilidade. "Eu analiso os books e o currículo dos artistas que querem expor na sala, às vezes também vou no atelier das pessoas. Vejo a qualidade dos trabalhos e julgo se são bons para serem expostos. Tudo depende dos meus critérios, o meu olhar. Têm ocasiões que peço a críticos de artes para também avaliarem os trabalhos, antes de mostrá-los", conta a curadora.

Entre as inúmeras exposições coletivas e salões de arte que Desirée Monjardim tomou parte distinguem-se as mostras realizadas na Câmara Municipal de Niterói (1982); na Casa de Cultura Laura Alvim - RJ; No Espaço Petrobrás (1987); na Fundação Armando Álvares Penteado - SP (1987); Projeto Maria Julieta Drummond de Andrade - RJ; Semana da Cultura Brasileira, São José da Costa Rica (1989); Verso e Reverso do Rio, Galpão das Artes do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1991) e 48 Contemporâneos, Galeria de Arte Universidade Federal Fluminense/Museu do Ingá (1996).

Sua obra foi premiada no IX Salão Carioca de Arte, com o 1º. Prêmio de Gravura, 1985; no II Salão de Inverno da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com o 1º. Prêmio de Gravura, 1990 e no I Salão Nacional de Gravura, SESC, com Menção Honrosa, 1996.

A obra de Desirée Monjardim está representada em diversos acervos, como o do Museu Dom João VI da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro; do Museu de Arte Costarriquenha, São José da Costa Rica; do Museu de Arte Latina da Europa, na Universidade de Essex, Inglaterra; da Exposição Itinerante da Associação de Mulheres Uruguaias Lourdes Pinto e da Coleção RioArte.

Em 2000, um dos seus quadros, que faz parte do acervo do Museu de Essex, em Londres, foi selecionado para a exposição 'Outros 500'. Desirée abriu o catálogo da mostra londrina, que também contou com Daniel Senise, Fransz Weismann, Cildo Meirelles, Sebastião Salgado e Waltércio Caldas.

Encontra-se, ainda, citada, no Dicionário Brasileiro de Artistas Plásticos, coordenado por Walmir Ayala e publicado pelo Instituto Nacional do Livro, 1977.




    Depoimentos

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    "Vede como o obsessivo angustioso de suas caras massificadas se faz, por gesto de feminino carinho no entalhe, grafos significantes a um tempo tristes e pícaros, humilhados e esperançosos, mudos e eloquentes. Isso é de artista, Isso é arte." ANTONIO HOUAISS - 1970

    "Gravadora em madeira no começo de sua carreira, Desirée vem a quatro anos trabalhando na técnica do metal. Constante, perseverante, obsessiva mesmo, desenvolve seus trabalhos dentro de uma linha construtiva. Caminho pouco explorado na gravura. Com o resultado de chapadas compactas - usando uma técnica (a água-tinta) posta a serviço da gravura para variações tonais, ao gravar e regravar inúmeras vezes, reduz a superfície ao seu grau zero. Um caminho aberto para muitas experiências, muitas proposições, muitas ideias, de estruturas visuais mínimas. Nesta sua primeira exposição individual mostra gravuras de grande nível técnico." ANNA LETYCIA - 1989

    "Ao vermos as gravuras de Desirée, o que mais nos intriga é a pergunta que automaticamente fazemos. 'Que técnica é esta?'. É uma gravura em metal de leitura extremamente bem realizada, mas, podemos falar de uma vocação pictórica dentro da melhor tradição da pintura geométrica rigorosamente 'bem feita'. Uma policromia econômica, são curvas e retas que se organizam no espaço resultando uma visualidade extremamente simples. Desejamos a Desirée que venha a expandir sua pesquisa a outros meios de expressão, tais como pintura, serigrafia, técnicas que tão facilmente receberão Desirée." HAROLDO BARROSO - 1989

    "[...] É o belo, comovente, pungente, absorvente e corajoso caminho que tem sido palmilhado por Desirée Monjardim: tem uma visão, digamos euclidiana, do mundo, digamos geométrico-elementar das coisas, digamos simples (o impossível de lograr) com a busca do puro em cada coisa, do racional em cada suporte, mesmo que irrepetível e irrepetitivo, de eliminação do fractal, do arbítrio, do quase-caos, mas pura, serenamente, a nos encaminhar na iniciação de que tudo que vem da busca humana pode ser belo e humanizador, se fruto da verdade, com sonho, com pertinácia, com amor. Digo, neste sentido, que cada objeto de Desirée é puro." ANTONIO HOUAISS - 1994

    "Considero Desirée Monjardim uma artista plástica de grande sensibilidade. Sua intuição a leva a conseguir efeitos insuspeitados das formas mais simples e despojadas. A arte minimalista é uma das mais difíceis e austeras formas de expressão, e na minha visão leiga, Desirée consegue dela alguns dos melhores efeitos que conheço." ROSE MARIE MURARO, 1996 "

    [...] Essa obra de Desirée [A tripa] tem uma carga de coragem, e de sacrifício também, muito notória, na medida em que uma artista sai do seu espaço convencional de trabalho, que seria o próprio museu, a própria galeria ou o próprio ateliê, sai para a rua, o espaço urbano, se revelando, se expondo inteiramente até as suas vísceras. esse sacrifício faz a gente pensar em como o ser humano, e como a própria sociedade, o homem dentro de sua história da civilização, cresce e rompe as barreiras e rompe sua própria estagnação..." MAURÍCIO BENTES - 1997



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