Membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IGHB) na primeira metade do século XIX, o médico, poeta e jornalista Francisco de Paula Menezes dedicou-se com afinco ao magistério e à literatura. Possuía o dom da palavra, de fácil compreensão, de imaginação brilhante, eloquente e arrojado, era admirável no improviso e arrebatador falando a seus alunos.

Francisco de Paula Menezes, nasceu a 25 de agosto de 1811, na freguesia de São Lourenço dos Índios, hoje um bairro da cidade de Niterói. Vira a primeira luz perto do lugar em que Martim Affonso, o Arariboia, assentara a sua aldeia depois que Mem de Sá fundara a Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Chamava-se seu pai José Antunes de Menezes.

Ignora-se onde fizera a maior parte dos seus estudos primários e secundários, mas desde cedo demonstrou o mais vivo desejo de seguir a carreira das letras. A vontade paterna queria consagrá-lo à 'arte de Raphael': "o pai adivinhava talvez um pincel na mão do filho, mas não podia então prever que os quadros que ele daria à pátria seriam traçados com a pena, e não executados com a palheta", escreveu um de seus colegas no IGHB. Rebelde, Paula Menezes seguiu o curso de latinidades com o célebre professor Florêncio.

Paula Menezes matriculou-se na Academia Médico-Cirúrgica do Rio de Janeiro em 3 de outubro de 1834. Tomou o grau de cirurgião formado em 1835, e o de doutor em medicina em 1838, na Escola de Medicina do Rio de Janeiro, escolhendo para tema de sua tese a coincidência entre as moléstias do coração e as do fígado.

Em 1844 foi nomeado pelo governo de Sua Majestade, professor público de Retórica e Poética da Capital do Império, e em 1848 professor da mesma cadeira do Imperial Colégio de Pedro II. No mesmo ano começou a servir como cirurgião do 1º Batalhão da Guarda Nacional e anos depois no de artilharia da mesma guarda, do que lhe resultou a condecoração de Cavalleiro da Ordem Imperial da Rosa.

Obteve depois a nomeação de médico privativo da polícia, em cujo emprego prestou bons serviços, deixando, quando dele se exonerou, um mapa completo sobre as diferentes espécies de ferimentos, sua gravidade, tempo de cura, e sobre todas as questões que se podem suscitar nos corpos de delito. A 1º de Junho de 1844 foi nomeado cirurgião do 1º batalhão da guarda nacional do município da Corte.

Apesar de dedicar-se com um zelo nunca desmentido aos seus deveres do magistério, e dos diversos empregos que exerceu, nem por isso abandonou um só dia a sua clínica médica. Por alguns anos dedicou-se à prática da Homeopatia, o que lhe rendeu violentas críticas entre os seus colegas de Academia.

Antes de haver concluído os estudos do seu primeiro grau de medicina, aceitou uma missão do governo para prestar socorros aos habitantes da Vila de Santo Antônio de Sá, devastada em 1833, por febres perniciosas; e voltando desta missão, caiu logo à chegada prostrado por aquela mesma terrível moléstia.

Deixando a escola ingressou na Academia de Medicina e ali conquistou a sua primeira palma, como literato, lendo, em presença de S. M. o Imperador, e de um concurso numeroso e escolhido, uma homenagem ao Dr. João Alves Carneiro, o médico tão celebre por sua prática como por suas virtudes e filantropia. Esse "Elogio" lançou os fundamentos da reputação literária do Dr. Paula Menezes.

Entre seus trabalhos na literatura médica, destacam-se: "proposições sobre a degeneração cancerosa em geral, ou osteosarcoma e suas diversas formas", tese apresentada à Faculdade de Medicina, no concurso para Cadeira de Cirurgia; "sobre abcessos subperitoniais da fossa ilíaca"; "discurso sobre a importância da cirurgia militar" (recitado perante o Imperador em 1842); "necessidade da edificação de cemitérios"; "dissertação em Ciências Cirúrgicas - Da Eclampsia durante a prenhez e o parto".

Membro da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, do Instituto Dramático Brasileiro e da Sociedade de Literatura Brasileira, no campo da literatura e dramaturgia deixou obras e uma variedade de manuscritos - alguns infelizmente incompletos -, a se destacar: "Elogio histórico ao Cônego Januário da Cunha Barbosa" (1848); Quadros de Literatura Brasileira (faltando a última parte); Lúcia de Miranda (tragédia em verso decassílabo); "A noite de São João na roça" (comédia); "Memória sobre o fato da ida de Diogo Alvares (Caramuru) à França", etc.

Um dos redatores dos "Anais Brasilienses de Medicina" e de "Brasil Ilustrado", dirigiu a "Revista Brasileira", especializada em literatura, teatro e indústria, e a Revista Médica Brasileira, da Academia Imperial de Medicina. Por ordem de S. M. Imperial, em 1856 traduziu e adaptou para o ensino brasileiro, a "Nova Retórica" de Vict. Le Clerc.

Membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro foi uma de suas mais fortes colunas durante alguns anos de desalento; serviu em diversas comissões, foi seu segundo secretário por longo tempo; em uma sessão, substituiu o eloquente orador Manuel de Araújo Porto Alegre, que se achava doente. São inumeráveis os discursos que leu nos atos de distribuição de prêmios e colação de grau de bacharel no Pedro II, e em sessões solenes de sociedades e academias.

O Dr. Francisco de Paula Menezes faleceu em 10 de setembro de 1857, vítima de endocárdio arterite. Foi casado em primeiras núpcias com D. Maria da Assumpção Menezes, que morreu deixando-lhe uma filha, Francisca de Paula Menezes; casou-se em segundo matrimônio com Claudina de Paula Menezes, de quem teve cinco filhos.


Notas

"A Academia Imperial de Medicina perdeu no mês de setembro próximo passado, um de seus membros titulares na pessoa do Sr. Dr. Francisco de Paula Menezes, médico distinto por sua ilustração, quer médica, quer literária, professor de Retórica e eloquência do Imperial Collegio de Pedro Segundo, onde deixou grande sentimento e saudades, quer na corporação dos professores, quer nas várias classes dos alunos, aonde seus conhecimentos e eloquência, e pessoais qualidades o faziam muito estimado.

Na classe médica e na corporação Acadêmica, o conceito e estima do Dr. Paula Menezes sofreram um pouco pela sua adesão em parte às ideias e práticas da homeopatia, nas quais contudo convém dizer, que nunca desceu ao cinismo, e às indignidades do charlatanismo declamador, e insultante difamador de tudo o que a seus princípios fosse estranho. Ele, no meio das suas convicções, que a todo homem, que quer ter liberdade a respeito das próprias, convêm respeitar e tolerar, soube sempre conservar certa moderação e decoro, que infelizmente não temos visto em outros. Ele nunca cuspiu no manto de Hipócrates, nem apostasiou ou afetou de apostasiar inteiramente das doutrinas do bom senso e da razão esclarecida; somente o seu ecletismo o estendia até à pretendida ciência de Hanhemann e dos seus seguidores. " (Revista do IGHB, setembro de 1957).



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Publicado em 25/06/2023

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