Mineira de nascimento, Neide Barros Rêgo era declamadora, professora, escritora, acadêmica e soprano. A artista era considerada uma das principais escritoras e cantoras em Esperanto, idioma criado em 1887 para facilitar a comunicação entre povos de diferentes países. Fundadora do Centro Cultural Maria Sabina, espaço próprio que administrou durante décadas em Santa Rosa, Niterói, Neide promoveu incontáveis e inesquecíveis saraus literários, nos quais a prosa e a poesia eram celebradas em confraternização de amigos reunidos e unidos pela cultura.
Filha de Wanda Paschoal Martini de Barros e Francisco das Chagas Barros, Neide nasceu em São Tomás de Aquino (MG), em 18 de outubro de 1938. Com 13 anos passou a residir em Niterói, e com sua irmã gêmea, Nilde, fez o Curso Ginasial no Colégio Nilo Peçanha (1951 e 1952) e no Liceu Nilo Peçanha (1953 e 1954).
Ainda estudante, em 1955 a artista iniciou o namoro com o advogado, compositor, poeta e declamador Walmir Ventura Rego, com quem casou-se em 1963. Walmir veio a falecer em 2019.
Professora formada pelo Instituto de Educação de Niterói, em 1957, Neide ingressou, no ano seguinte, por concurso, na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Também cursou Administração Pública na Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro.
Em 1960, foi estudar a 'Arte de Dizer' com a poetisa Maria Sabina de Albuquerque, no Curso Olavo Bilac, com sede em Copacabana. Neide conquistou o diploma em declamação e dicção, após prova pública, na qual apresentou um recital solo de poesias, no Theatro Municipal de Niterói, em 5 de janeiro de 1964.
Além disso, a artista fundou (em 1961) e dirigiu o Centro Cultural Maria Sabina. Ali, funciona o Curso Maria Sabina, de Arte de Dizer, e são realizados eventos lítero-musicais. No ano de 1985, fundou, com Marly Prates, Aparecida Barreto, Gracinha Rego e Patrícia Faria Santos, o Grupo Nuance.
Em 1992, Neide, já uma poetisa premiada no Brasil, na Holanda, na Bulgária, na Rússia e na Itália, foi eleita Cidadã Honorária de Niterói, título concedido por iniciativa do vereador Fernando de Oliveira Rodrigues.
Esperantista, declamava e cantava na língua criada por L.L. Zamenhof, desde 1965. Neide era ainda membro vitalício e delegada da Associação Universal de Esperanto, especializada em poesia e declamação. A poeta declamou e cantou em inúmeros congressos nacionais e internacionais de Esperanto (Brasil, Áustria, França e Argentina).
Intérprete e autora premiada em concursos de poesias no Brasil e no exterior, a artista organizou várias antologias. Entre elas, a aclamada "Água Escondida" (1994), livro que reuniu 234 poetas nascidos ou radicados em Niterói. O nome do livro não significa, para a cidade, somente a tradução de seu nome, de origem tupi-guarani. As palavras dizem respeito também ao momento em que a cidade descobriu mais uma de suas facetas: a poética.
Ainda nos anos 1960, Neide estudou canto lírico com Masha Kellner e, anos mais tarde, com a também pianista Therezinha de Maria Carvalho Pinto, com quem gravou o CD "Revo de amo", com 20 músicas em esperanto. Neide ainda participou do Coral Internacional, regido pelo maestro búlgaro Dimitar Terziev, em Viena (1992) e Montpellier (1998). Como solista, cantou em Buenos Aires (2014). Gravou o CD "Fascinação", cantando em português, francês, italiano, espanhol, inglês, russo, alemão, latim e esperanto.
Em 2004, Neide lança seu primeiro livro: "Revelação" (poesias). Compôs a Comissão de Redação do volume XVI da Revista da Academia Fluminense de Letras (2005). Em 2007, com Sylla Chaves, organizou as antologias: Brazila Esperanta Parnaso e Poesias Escolhidas do Brazila Esperanta Parnaso (bilingue), ambas com poetas de todo o Brasil. Com Gracinha Rego, a artista organizou Girassóis para Neusa (2003). A partir de recitais, publicou "Poetas Encantados da Niteroiense" (2013). No ano do Centenário da Academia Fluminense de Letras, 2017, publicou "Poetas Encantados da Fluminense" (um em fevereiro e outro em agosto de 2017).
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Neide integrava as Academias Barbacenense, Fluminense (Classe de Belas-Artes) e Niteroiense de Letras; o Cenáculo Fluminense de História e Letras e a Associação Universal de Esperanto, entre outras instituições de cunho cultural. A solenidade de sua posse na ANL, Cadeira nº 38, patronímica de Raul de Leoni, foi realizada em 27 de agosto de 2007. Na Academia Nacional de Letras e Artes, tomou posse em 2017 na Cadeira nº 39, patronímica de Maria Sabina.
Eleita pelo Grupo Mônaco de Cultura, em Niterói, recebeu o título de Intelectual do Ano 2010. Detentora de troféus, diplomas e medalhas, entre elas a Tiradentes, concedida pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.
A artista tem poesias de sua autoria publicadas em mais de 150 antologias, no Brasil e no exterior. Tem participação em mais de 120 antologias e é verbete na Enciclopédia de Literatura Brasileira, de Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa.
Neide Barros Rêgo faleceu num domingo 11 de dezembro de 2022, aos 84 anos. A artista não resistiu a um câncer de pâncreas.
Nas palavras da presidente da Academia Fluminense de Letras (AFL), Márcia Pessanha: "Sua brilhante trajetória será sempre lembrada por todos nós. Ela semeou bondade, generosidade, beleza e carinho por onde passou. Era um ser iluminado, estrela que sempre brilhou no palco cultural".