O ator, produtor, cantor e professor niteroiense Carlos Adib estudou teatro com Paschoal Carlos Magno, produziu e atou em dezenas de peças, sendo considerado um dos pioneiros do teatro infantil contemporâneo em Niterói.

Carlos Izaías Adib, o Bacurau, como costumavam chamar os amigos mais próximos, nasceu em 1947 e começou sua carreira em 1962, cantando em bares da cidade. No ano seguinte, foi atuar no teatro amador e em mais de 35 anos de carreira, ganhou diversos prêmios de interpretação e direção.

Em 1969, criou na cidade o projeto "O Teatro vai à Escola", destinado a levar crianças ao teatro, um universo tão distante de sua realidade aqui no Brasil. "Foi com a peça A 'Ratinha Sabida', verdadeira miscelânea de textos que fui juntando e que conquistei as crianças", explica.

Outros espetáculos vieram na sequência, mas o próprio Adib destaca "Bento que Bento é o Frade" (1971), como seu mais importante trabalho. O ator afirmava que sempre gostou de trabalhar para o público infantil, por ser o mais exigente. "Teatro infantil tem que ser sério, bem feito, sem tratar as crianças como retardadas. Se for uma coisa ruim, eles chiam mesmo, principalmente hoje, que a garotada está mais esperta e não dorme no ponto", ensina.

Tamanha dedicação às crianças foi premiada com a participação, durante oito anos no elenco do 'Sítio do Pica-Pau Amarelo', vivendo o Carteiro Juca, de 1977 a 1984. Ainda na TV, atuou em episódios dos seriados 'Caso Verdade', 'Plantão de Polícia' e 'O Bem Amado', e nas novelas 'Barriga de Aluguel' e 'Meu Bem, Meu Mal'. Mas o teatro sempre foi mesmo a "casa" de Carlos Adib. "É minha casa, meu lar, nele me encontro e me realizo", contou. "Acho que o teatro é uma válvula de escape para o povo".

Trajetória




Em 1966, com o Grupo Teatral Lavínia Duarte, atuou nas peças "O Príncipe e Lenhador", sob a direção de Waldir Nunes, e "Festinha na Praça", de José Valuzzi; e, com a Companhia de Roberto Piola, em "Dama do Camarote", uma comédia de Castro Viana. Com o mesmo Piola, em 1967 integrou o elenco de "Quem Beijou Minha Mulher", que ficou em cartaz no Theatro Municipal de Niterói.

No ano seguinte, na companhia de Fernando Bonorino, interpretou a personagem "Bobo da Corte" em "A Gata Borralheira", uma adaptação de Lyad de Almeida e Luiz Mata, com direção de Conrado de Freitas. Conrado também dirigiu Adib no infantil "A Nova Estória de Branca de Neve", pela companhia liderada pelo diretor Waldir Nunes.

Sob a direção de Washingtom Guilherme, em 1969 Adib subiu ao palco nas peças "O Coelho e a Formiguinha" e Soldadinho de Chumbo". No Teatro Nacional de Comédia integrou o elenco de "A Fuga", com direção de Alexandre de Gall, e no grupo Teatro de Equipe, Adib atuou na peça "Sinhá Moça Chorou", com direção de Nelson de Lima. Ainda em 1969, no VII Festival de Teatro Amador de Cabo Frio, recebeu o prêmio de melhor ator coadjuvante e participou, como declamador, no programa "A Grande Chance", de Flávio Cavalcanti.

Carlos Adib teve atuante participação no projeto de desenvolvimento do teatro infantil na cidade, patrocinado pelo recém criado Instituto Niteroiense de Desenvolvimento Cultural (INDC, atual FAN), autarquia municipal vinculada então à Secretaria de Educação de Niterói e comandada pelo escritor e dramaturgo Lyad de Almeida. Em 1970, estrelou a Revista de Silva Filho, no Teatro Carlos Gomes, no Rio de janeiro, e interpretou o papel título de "Salamaleque, o Gato de Botas", de Fernando Bonorino, com direção de Conrado de Freitas.

Estreou como autor no espetáculo infantil "A Ratinha Sabida", que foi encenada com êxito no Theatro Municipal de Niterói. A produção esteve a cargo do elenco do INDC e contou no elenco com o próprio Adib, Nilberto Vilela, Roberto Piola e a menina Marta Rubia. O espetáculo representou a então capital fluminense no 4º Festival do Teatro Jovem Fluminense.

Leia mais: Em 1970 INDC forma seu elenco teatral permanente

Em 1971, no Teatro Opinião, em Copacabana, no Rio de Janeiro, integrou o elenco de "O sapo Dourado", de Dilu Mello. Também no Opinião, estreou seu novo texto infantil, "Bento que Bento o Frade", texto remontado por ele diversas vezes ao longo de sua carreira. No Municipal de Niterói, dirigiu o elenco de "A Onça Pintada".

Em 1972, estreou duas peças autorais no Teatro Glauber Rocha: "1º Festival da Bruxalhada"; e "Quatro Bichinhos em Confusão". Este último, depois, fez temporadas no Opinião e Municipal de Niterói. No mesmo ano, dirigiu e atuou em "A Formiguinha e a Borboleta", também no Municipal e fez sua estreia profissional na peça "A Noite das Mal Dormidas", viajando pelo país.

"Dois Perdidos Num Dia de Sol" foi o espetáculo com o qual, em 1973, Carlos Adib e seu grupo de teatro infantil comemoraram os 10 anos de atividades do ator, autor e diretor fluminense, numa série de espetáculos sob o patrocínio do Serviço Estadual de Teatro, comandado pelo niteroiense Sohail Saud. O espetáculo também foi apresentado no Teatro Miguel Lemos, no Rio de Janeiro.

Em 1974, no I Festival de Teatro Infantil do Estado do Rio, Adib, com a peça "Palhacinho da Loja ABC", гесеbeu três prêmios: melhor ator, melhor espetáculo e melhor texto, como autor revelação. Durante 30 dias, a peça foi encenada no Teatro Leopoldo Fróes, em Niterói, sob patrocínio do INDC.

O musical "Isto é Lamartine" foi atração do Teatro do Sesc, no Rio de Janeiro, em 1975, com direção teatral de Carlos Adib e musical de Sheila Matos e Wilson Moura. O texto, que retrata a vida musical do compositor Lamartine Babo, é de Ronaldo Trigueiro.

Em 1976, Adib atuou no musical "Come Elas Tubarão", de Esther Tarcitano, no Teatro Brigite Blair, no Rio de Janeiro. No mesmo ano entrou em cartaz um de seus maiores sucessos, a peça "Gita", texto adulto, que foi remontado diversas vezes até os anos 1980.

Em 1978, o artista estrelou dois shows musicais: 'Metamorfose', com o grupo da Boate Casarão; e 'Transformação', com o grupo Inovação. Esse último inaugurou o Teatro Studio 78, na Rua São Lourenço, em Niterói, administrado por Adib e dirigido por Conrado de Freitas. Em 1980, escreveu e dirigiu o musical infantil "A Formiguinha e a Borboleta", que ficou em cartaz no Teatro Leopoldo Fróes.

Novamente no Teatro Leopoldo Fróes, em 1982 Adib apresentou o espetáculo musical "Pó de Esperança", no qual novamente mostrava seu talento como cantor e declamador. Em 1984, lançou com a cantora e compositora Bia Bedran, o disco infantil "Teatro Canta uma Estória", pela gravadora Gente Nossa. São duas histórias de Bira de Oliveira, "O Carteiro Feliz" e "Rabisco no Horizonte", transformadas em canção por Danilo Braga Coelho e Carlos Blanco, respectivamente.

Adib lançou em 1985, o espetáculo infantil "Palhaço sem nome", uma continuação de um de seus maiores sucessos nos palcos, "O Palhaço da Loja ABC". Nessa nova peça, Adib utilizou os mesmos personagens do texto anterior, mas adicionou características profundamente marcantes e crescentes no principal personagem, o Palhacinho, que passa de um simples manequim a robô e adquire, finalmente, o status de ser humano. Ainda em 1985, estreou no espaço infantil da antiga loja Sandiz, hoje shopping Bay Market, o espetáculo "O Segredo do Vovô Tiburcio".

Com texto de Bira de Oliveira e dirigido por Roberto Roney, Adib atuou, em 1986, no musical infantil "O Carteiro Feliz", inspirado no personagem vivido por ele no seriado Sítio do Picapau Amarelo. Em 1987, estreou a peça "A Onça e o Bode", uma adaptação sua do original de José Costa Leite, espetáculo que revisitou nos palcos por mais de 10 anos.




Em 1988, estreou o musical "O palhaço sem circo", em comemoração aos 25 anos de trabalho com o público infantil. Em homenagem ao palhaço Carequinha, em 1991, estreou "A verdadeira História do Circo". O espetáculo fez temporada no Teatro da UFF com mais de 30 artistas em cena, entre atores e bailarinos. No mesmo ano, misturando teatro, música e humor, apresentou no Duerê, em Pendotiba, "Ah! Bons Tempos", espetáculo no qual voltou a cantar e declamar poemas autorais e de Fernando Pessoa.

Em 1995 estreou, no Teatro da UFF, uma adaptação de "O Ladrão de Bagdá". No ano seguinte, no espetáculo "Sem Título", sob a direção de Eduard Roessler, Adib passeou pelo melhor da música popular brasileira, apresentando oito personagens, contando piadas e fazendo mímica. O espetáculo, que ficou em cartaz na boate Aquarius, em Charitas, iniciava com a chegada de um músico depois de uma frustrada tentativa de viver no exterior.

Além de sua grande contribuição para o teatro infantil, integrou o elenco do longa-metragem de comédia "Piranha de Véu e Grinalda" (1982), pela Roberto Machado Produções Cinematográficas. Como cantor, se apresentou nas rádios Mayrink Veiga e Nacional.

Carlos Adib morreu em 1999, aos 51 anos de idade.


Crítica

"Sou uma criança dos anos 1970 na cidade de Niterói. Quem compartilha esse dado em comum comigo cresceu assistindo ao teatro infantil de Carlos Adib. Precursor desta manifestação artística que hoje é referência de qualidade para a cidade, Adib muito fez pelo nosso teatro". Andrea Terra


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Publicado em 06/05/2024

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