"Um teatro popular é um teatro com a participação do povo, para o povo. Um lugar para se plantar o novo..." (Oscar Niemeyer).

"O acesso a este teatro é feito por uma extensa rampa, que como um passeio na arquitetura, vai mostrando aos visitantes a forma nova e surpreendente que ele apresenta. Além da plateia prevista para 500 indivíduos, a parede de fundo do palco pode abrir-se inteiramente, permitindo que o espetáculo possa ser visto, do exterior, por mais de 10.000 pessoas. A nossa preocupação de ligar a arquitetura com as artes plásticas prevaleceu neste projeto. No hall de entrada, é um enorme croqui mostrando o povo a se manifestar em defesa de seus direitos tantas vezes esquecidos. Externamente, na fachada principal, são mulheres a dançar, alegres, sobre os azulejos amarelos." (Oscar Niemeyer).


TEATRO POPULAR

    Por Anual Design

    O Teatro Popular integra o chamado Caminho Niemeyer, um conjunto de construções de autoria do arquiteto que se estende do mar até o Museu de Arte Contemporânea. Utilizando como material o concreto armado, o teatro é uma grande cobertura curva originado nas empenas do edifício. Com 3,5 mil metros quadrados, divide-se em dois pisos: térreo e superior. O programa inclui um auditório para 400 pessoas, foyer e palco reversível.

    As fachadas possuem acabamentos diferentes. Na área do foyer, optou-se por um grande pano de vidro com portas antipânico e sanca com iluminação revestida com painel de alumínio composto. A face que dá para a Baía da Guanabara em envidraçamento duplo e brises internos. E a oposta tem acabamento em azulejo amarelo com pinturas de Niemeyer. O acesso ao foyer é feito através de uma rampa helicoidal de concreto armado.

    O Teatro Popular está apto a receber até 10 mil pessoas na área externa, já que o palco se abre também para a praça, com uma porta de correr com 10 metros de largura por 5 de altura. Nas cores vermelha e preta, a porta é formada por paineis de alumínio composto, tem acionamento por controle remoto e a esquadria foi tratada acusticamente com lã de rocha.

    Do tipo italiano, o teatro possui caixa cênica em laje de concreto dupla em forma de onda onde foi implantada a infraestrutura cenotécnica para recolhimento vertical dos cenários e vestimentas, tanto para a plateia interna como a externa. O tratamento acústico para o uso da palavra isola o ruído externo nas esquadrias de vidro e no sistema de ar condicionado.

    O fechamento noroeste da construção, que dá para a Baía de Guanabara, possui duas peles de vidro laminado de dez milímetros na cor cinza, não reflexivo. Entre os panos de vidro, formou-se uma câmara de ar que abriga chapas de alumínio em forma de hexágono. Similares a colmeias, estas estruturas têm a função de brises metálicos e receberam pintura eletrostática na cor preta com acabamento fosco. O que, além de atender à estética da arquitetura, promove conforto ambiental.


UM ESPAÇO PARA A CULTURA ÀS MARGENS DA BAÍA DE GUANABARA
    Por Evelyn Furquim Werneck Lima

    Construído em concreto armado, o Teatro Popuylar Oscar Niemeyer é abrigado por uma grande cobertura curva que se origina nas empenas do edifício, com três mil e quinhentos metros quadrados de área construída que se distribuem em dois pavimentos. Do térreo parte uma rampa de concreto armado que desenha uma semivolta em seu segmento médio e conduz ao amplo foyer do teatro, projetado com 580 metros quadrados, que dá acesso à sala de espetáculo com capacidade para 400 lugares, projetada frontalmente à caixa cênica tradicional. Do pavimento térreo, parcialmente aberto e no qual funcionam um bar e um café, sobe uma escada helicoidal escultórica que também acessa o foyer. Na parte fechada foram projetados os camarins, sanitários e sala de ensaio. A solução da laje suspensa e as aberturas laterais promovem leveza à estrutura.

    Parte do piso térreo segue o plano livre em pilotis, permitindo a circulação pública e conferindo porosidade e fluidez à obra, já presentes no vocabulário de Niemeyer desde o Pavilhão da Feira de Nova York. (17) No foyer, o arquiteto criou um grande pano de vidro com portas antipânico de acesso ao auditório e na parede vedada, colocou um painel cerâmico com seus próprios croquis retratando mulheres em passeata carregando uma bandeira vermelha. A cada fachada do edifício correspondem diferentes soluções.

    A fachada noroeste, voltada para a baía de Guanabara, apresenta uma extensa área vedada com vidro duplo e com brises internos, enquanto para a fachada oposta o arquiteto concebeu o revestimento em azulejo amarelo com alguns croquis de sua autoria. Neste teatro, a cobertura em laje de concreto dupla em forma de "onda" permitiu projetar a infraestrutura cenotécnica para o recolhimento vertical de cenários e vestimentas de palco acima da área de atuação, e impedir a visibilidade do urdimento tanto da plateia interna como da praça pública.

    Detecta-se no projeto do Teatro Popular de Niterói (atual Oscar Niemeyer) a reutilização de soluções já empregadas no início de sua carreira, agora readaptadas em espaços diferentes e com a proposta de atender às artes performativas. No Teatro Popular, verifica-se que a laje curva da cobertura de concreto em forma de “onda” inspira-se no Conjunto da Pampulha, especificamente na Igreja de São Francisco de Assis (1943), obra na qual as cascas em abóbadas de berço geradas por parábolas eliminam a necessidade de alvenarias e causaram naquela época o “espanto” desejado por Niemeyer em sua arquitetura destinada a fins religiosos (20).

    A solução arquitetônica para o Teatro Popular de Niterói é (re) elaborada com elementos já utilizados, mas deve ser analisada em sua individualidade, sua adequação ao programa teatral e à época em que foi concebida, exemplificando como sugerem Bastos e Zein uma “manifestação sujeita a seu tempo ecoando um espírito do tempo e uma cultura arquitetônica viva, que sofre inflexões ao longo das décadas” (23). O elemento inovador neste caso está na solução inusitada da estrutura relacional da edificação que foi reaplicada como variante no projeto mais recente, integrando o repertório de linguagens do arquiteto. Mas ficam claras as alusões tanto à Igreja de São Francisco de Assis quanto ao Pavilhão da Feira de Nova York.


    LIMA, Evelyn Furquim Werneck. O Teatro Popular Oscar Niemeyer em Niterói e o Teatro Raul Cortez em Duque de Caxias. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 205.00, Vitruvius, jun. 2017









Publicado em 10/10/2014