O artista visual Rafael Matos está em cartaz com a exposição "A Espera Imanente", na Sala José Cândido de Carvalho, no Ingá, até o dia 10 de abril de 2017. Com curadoria da pintora Desirée Monjardim, a mostra, primeira individual de Rafael, é exemplo de como a arte pode superar desafios e traz 17 desenhos do artista feitos com carvão ou pastel seco. A abertura acontece na terça-feira, 07 de março, às 19h.
Diagnosticado com esquizofrenia, Matos encontrou na pintura a força para enfrentar o dia a dia. Há mais de 10 anos, paciente do Hospital Psiquiátrico de Jurujuba (HPJ), em Niterói, o autor faz da arte a sua terapia. "O desenho tomou tamanha proporção que já não há separação entre eu e a pintura. Não consigo me imaginar sem a arte", diz o Rafael.
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Os desenhos do artista trazem figuras humanas, cachorros e cavalos, além de muitos momentos do seu cotidiano.
"Meu primeiro desenho no hospital foi outro paciente. Depois comecei a perceber a bonita relação entre os médicos e pacientes que conviviam comigo e isso me inspirava", conta Rafael, que, ao som de música clássica, deixa a imaginação fluir.
O amor pela arte surgiu quando criança. Aos cinco anos, foi incentivado pelo tio, também artista, a seguir o caminho. Enquanto o tio esculpia rostos em madeira, Rafael tentava reproduzir o mesmo nas telas. Morando na casa dos avós, ele copiava os quadros pendurados na parede.
Rafael frequentou ainda ateliers de renomados artistas, durante um período. Depois, aprofundou seu desenho na arte da animação, ouvindo aulas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Com a morte dos avós e a venda da casa, Rafael passou a dormir nas ruas e foi com a ajuda da arte, vendendo alguns de seus quadros, que ele conseguiu sobreviver.
Assim que chegou ao HPJ, psicólogos e outros profissionais perceberam a afinidade de Rafael com a arte. O estímulo surgiu com alguns frascos de tinta dados a ele. A partir daí, observar a história de outros colegas que viviam naquele espaço se tornou sua inspiração.
Rafael Matos desenha a figura humana, cachorros e cavalos. Em todas as representações, as figuras interagem e, em alguns casos, se superpõem. A qualidade de seus desenhos é inegável. No entanto, o que mais impressiona nos desenhos são os sentimentos e as expressões de suas inquietações, que sobrepujam o traço, as manchas de carvão ou pastel seco nas cores azul e sanguínea. O desejo de conquistar um amor, a luta contra a solidão, o movimento da vida, todos os movimentos, além de todas as impressões que sobrevoam a sua mente aparecem em suas representações expressionistas. E vão mais além: remetem à ideia imanente do Ser humano em constante busca de si mesmo.
Rafael frequentou ateliers de renomados artistas durante um tempo. Depois, aprofundou seu desenho na arte da animação. Os desenhos que apresenta nesta exposição, em alguns momentos, representam a ideia do movimento que o impressionou na elaboração dos desenhos de animação. Em outros, Rafael representa a espera. E além da relação com o movimento da animação e os momentos da espera, o que mais marca nos desenhos é o tempo da busca, o tempo da interação, um tempo que se torna difícil para todos os artistas e que é o tempo da satisfação. Por este motivo, Rafael não para de desenhar. Um dia, quem sabe, ele se aquiete para observar o belo que se entranha em suas obras de arte. E aí, quem sabe, ele possa parar e observar.
Prof.a Dr.a Rosana Costa Ramalho de Castro
Prof.a Associada da UFRJ
Especialista em Semiótica Aplicada as Artes
Serviço
Exposição: A Espera Imanente, de Rafael Matos
Curadoria: Desirée Monjardim
Abertura: 07 de março de 2017, às 19h
Visitação: Até 10 de abril, de 2ª a 6ª, das 9h às 17h
Entrada franca
Classificação etária: Livre
Local: Sala José Cândido de Carvalho
Rua Presidente Pedreira, 98 - Ingá, Niterói
Tel.: (21) 2719-9639
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