"Tanto falaram do cinema nacional, bem e mal, que o coitado vai avançando aqui, fracassando ali, firmando-se acolá. Há dez anos, o simples lançamento de um filme nacional era um acontecimento, fato extraordinário. Mas a coisa pegou. Todo mundo começou a fazer fita. No meio desse entusiasmo, um grupo de rapazes de Niterói vem trabalhando para dar ao Estado do Rio sua primeira empresa cinematográfica organizada, a "Intercontinental Filmes S.A.". Lutaram contra o descrédito dos próprios fluminenses, lutaram para arranjar capitais e técnicos. Venceram. Seu primeiro filme, "Dentro da Vida", estará pronto em julho."

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Assim o jornalista Ney Machado iniciou uma matéria na Revista "Carioca", em 1950, dedicada ao lançamento do filme "Dentro da Vida", uma história do jovem niteroiense Lyad de Almeida, de apenas 28 anos, dirigida por Jonald, e produzida pela nascente produtora da "Banda D'Além", que improvisou seus estúdios no Teatro Municipal João Caetano.

Para estrelar o filme, ambientado em Niterói, os produtores escolheram uma jovem atriz, esposa do repórter esportivo Luiz Mendes. Dayse Lucidi, da Rádio Globo, faria o papel principal na película, ao lado de Paulo Renato, Beatriz Consuelo, Hemílcio Fróes, Renée Bell e Laura Botelho. A direção foi de Jonald e a fotografia de Roberto Mirity. A primeira produção realizada em Niterói, marcou também a estreia cinematográfica dos quatro atores principais: Daisy, Renato e Hemílcio, estrelas do rádio-teatro, e Beatriz, então primeira bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

"Fugindo aos temas carnavalescos e cômicos, vulgarizados no cinema nacional, 'Dentro da Vida' é uma história forte, humana e emocionante. Pela leitura do argumento é de se prever uma boa aceitação por parte do público e da critica em geral para o mencionado celuloide. Aliás, este pode ser considerado o filme mais discutido do ano, tendo, antes de ser exibido, suscitado acalorados debates e polêmicas através da imprensa e do rádio", observou Ney Machado.

A beleza de Beatriz Consuelo, estrela de "Dentro da Vida"
"Este celuloide promete arrebatar os espectadores, da a sua história empolgante, de autoria do conhecido escritor Lyad de Almeida. "Dentro da Vida", que será estreado no próximo dia 11 do corrente, nos principais cinemas de Niterói, Rio e São Paulo, está fadado, pois, a ser um dos grandes lançamentos desse ano", registrou a Revista Fon-Fon no início de 1951.

"Pelo fino acabamento que recebeu o celulóide, náo temos dúvidas em augurar para "Dentro da Vida- a mais alvícareira trajetória pelas telas do Brasil. Cumpre agora a cada acionista da empresa, secundando o trabalho heróico dos seus diretores, promover sistemática propaganda do filme, a fim de que as correntes populares sejam canalizadas para os ciremas onde estiver em cartaz a primeira película Interconíinental", afirmou Rubem Tramont.

A rádio-atriz Daisy Lucidi estreia no cinema.
Perguntado sobre o filme que estrelou, Paulo Renato respondeu: "Sou suspeito para falar dessa película, entretanto posso adiantar que ela deverá agradar a todos, dada a beleza do argumento e ao carinho com que as equipes de técnicos e artistas se empregaram para a confecção de um filme que será um orgulho dos fluminenses". Renato vive um jovem epilético, que tenta se vingar de um colega conquistando sua esposa.

Em razão do lançamento do filme, fato marcante na existência da Intercontinental Filmes S.A., seus 4.000 acionistas prestaram homenagem a Rubens Tramont e Herdy Cunha, respectivamente Presidente e Superintendente da produtora, que completaria 1 ano de vida no dia 17 de dezembro de 1950. O ambicioso projeto da empresa, chegou a contar com a doação, pelo governo do Estado do Rio, de uma área destinada à construção de uma verdadeira cidade cinematográfica, com a montagem de um grande estúdio, com os mais modernos equipamentos da época. Assim, a casa produtora esperava realizar, no espaço de um ano, um mínimo de seis películas. Mas o futuro não foi tão generoso. O segundo longa-metragem da produtora, "Comecemos Outra Vez", tambpém de 1950, não chegou a ser finalizado.


Na sequência, (1) Paulo Renato e Beatriz Consuelo; (2) Hemílcio Fróes; e (3) Daisy Lucidi e Hemílcio Fróes


Sinopse

Em um ambiente agitado na Faculdade Fluminense de Medicina, os doutorandos não dominam a sua ansiedade, quando surge o velho professor Antônio Pagé, a fim de apresentar o resultado do concurso de teses. Particularmente, Carlos (Paulo Renato) não consegue dominar seu nervosismo. O professor então anuncia a vitória de Eduardo (Hemílcio Fróes), um jovem rico e feliz, que se fazia acompanhar de sua noiva, Marta (Dayse Lucidi).

Exaltado, Carlos protesta contra resultado que para ele foi direcionado. Ele leva sua exaltação até a presença de Eduardo que, ríspido, o agride intempestivamente. Prostrado no chão, Carlos tem, para a surpresa dos companheiros, um ataque de epilepsia. Até então ninguém conhecia sua doença e o fato causa consternação geral na Faculdade. Marta recrimina severamente o seu noivo, chocada com a sua violenta atitude, e é tomada de piedade pelo jovem agredido. Assim, de um simples incidente, origina-se as demais situações.

Carlos desfrutava da afeição de uma vizinha, Angela (Beatriz Consuelo), uma jovem linda, meiga e dotada de grandes qualidades de espírito. Precisamente por isso, e por saber incurável o seu mal, Carlos renuncia ao amor de Angela que, entretanto, resolve lutar a fim de manter a união. Porém, envolto no desejo de vingar-se de Eduardo, Carlos abre mão desse nascente amor.

Beatriz Consuelo, bailarina do Theatro Municipal, na foto ao lado de Jonald, o diretor, aprendendo alguns segredos da Câmera.
Invadida pelo sentimento de piedade pelo doente que, além do mais, é muito pobre, Marta, acaba despertando em Eduardo um complexo de culpa. Pouco antes de seu casamento, ao visitar o luxuoso consultório do noivo, consegue convencê-lo a convidar Carlos a clinicarem juntos. Carlos termina concordando em trabalhar com o colega, no entanto, apenas um desejo secreto o movia: aguardar uma oportunidade para vingar-se.

Passam-se os tempos, Eduardo e Marta estão casados e oferecem um "cock-tail" em sua casa. Carlos seguindo o destino, vislumbra uma chance para tentar a vingança. Apoiado na ajuda que Marta lhe oferecera, procura conquistá-la sendo, no entanto, delicadamente repelido.

Foi em uma certa tarde que uma segunda oportunidade surgiu. Marta adoecera e, na ausência de Eduardo, Carlos foi à casa do colega e declarou-se à esposa de Eduardo. A reação de Marta foi violenta, por quanto o esbofeteou sem piedade.

Beatriz Consuelo e Paulo Renato em cena de "Dentro da Vida"
Uma nova chance surgiu e desta vez Marta acabou em seus braços. Penalizada com sua própria reação, a moça foi ao consultório pedir desculpas, mas na saída do consultório tem um ligeiro tremor de fraqueza no olhar. Carlos percebeu e, assim, cumpriu sua promessa ou seu destino.

Tornaram-se amantes, ignorando Angela o que se passava. Desconfiado, numa tarde Eduardo segue Carlos que seguiu até sua própria residência. Esperando um filho, Marta é expulsa do lar e, desorientada vai em busca do amante. Angela acaba descobrindo o caso da forma mais decepcionante, sendo confrontada com o cinismo com que Carlos repeliu a ex-amante: "Nunca te amei, só queria vingança".

Magoada, Angela consegue transferência da escola em que lecionava e parte rumo ao desconhecido. E foi somente tarde demais que Carlos veio a reconhecer os terríveis erros que cometera. Inutilmente foi até a estação, mas o trem já havia partido, o barco já havia afundado.


Na sequência, (1) Paulo Renato e Beatriz Consuelo; e (2) Daisy Lucidi e Hemílcio Fróes


Ficha Técnica

Produção: Internacional Filmes S.A.
Argumento: Lyad de Almeida
Direção: Jonald (Oswaldo Marques de Oliveira)
Asssitente de Produção: Roberto Machado
Produção e Filmagem: 1950
Lançamento: 1951

Elenco: Dayse Lucidi (Marta), Paulo Renato (Carlos), Beatriz Consuelo (Angela), Hemílcio Fróes (Eduardo), Renée Bell (D. Olga, Dona da Pensão), Laura Botelho (Alice, mãe de Carlos), Wanda Domingues, Antônio Dix e Pagé de Carvalho

Categoria: Longa-metragem / Sonoro / Ficção
Material original: 35mm, BP, 24q
Música: Walter Schultz Porto Alegre
Fotografia: Roberto Mirily
Cenografia: Vickovic Nikicca e Daniel Barbosa
Sonografia e Montagem: Nelson Chult
Maquiagem: Erick Rzepecki
Distribuidora: Cruzeiro Distribuidora de Filmes


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Publicado em 28/04/2021

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