Na obra do professor, pintor, desenhista, escultor e artista gráfico carioca Aldo de Paula Fonseca, o naturalismo e expressionismo se misturam ao seu temperamento romântico, em uma alquimia que produz telas de múltiplos temas e onde estão presentes desde figuras humanas - palhaços, foliões, banhistas - a paisagens em que o céu é de um azul profundo e as flores multicoloridas.

Filho e neto de pintores, Aldo Luiz de Paula Fonseca nasceu no Rio de Janeiro, em 15 de março de 1947. Do avô, Paula Fonseca, herdou o gosto pelas paisagens brasileiras; do pai, Paula Fonseca Júnior, o apreço pelas figuras. Em 1964, com apenas 17 anos, decide entrar para a Escola Nacional de Belas Artes e muda-se, sozinho, para Niterói. Na Enba tem aulas com Onofre Penteado, Quirino Campofiorito, Abelardo Zaluar, Bandeira de Melo e Jordão de Oliveira, entre outros.

Em 1970, deixa a escola para ingressar na gravadora Polygram, onde atua como Arte Finalista e, mais tarde, como Diretor de Arte. Por dez anos foi responsável pela criação das peças de divulgação do elenco de artistas brasileiros e alguns estrangeiros, tendo criado e coordenado a programação visual e gráfica de várias capas de discos. "Estruturamos o primeiro departamento de artes gráficas da indústria do disco no Brasil, para produção de capas de disco e outras peças de divulgação da MPB", conta o artista.

O trabalho em artes gráficas rendeu a Aldo bastante reconhecimento: em 1974, a revista suíça Graphis Annual publicou o cartaz de sua autoria do LP "Carlos Erasmo", de Erasmo Carlos; dois anos depois, a mesma Graphis, em seu número dedicado especialmente aos artistas gráficos brasileiros, publicou a capa do LP "Sinal Fechado", de Chico Buarque. Como se não bastasse, também em 1976 a revista americana Art Direction o elegeu The Best of November - o melhor diretor de arte de novembro.

Mesmo com todo o sucesso, após uma década dedicada às artes gráficas, Aldo começa a sentir a necessidade de voltar às telas e ao desenho. De 1976 a 1980, passa a ter um grande e proveitoso convívio com o pintor Newton Resende, seu vizinho em Icaraí. Aos poucos, vai percebendo que não deveria ter largado a pintura. "Mas nunca abandonei o desenho, que é a estrutura de toda a pintura. E fui me sentindo, com o passar do tempo, mais e mais dividido, só que ainda não tinha muita certeza se queria mesmo ter dedicação exclusiva às telas". Rezende, seu padrinho nesse novo parto, certa vez apreciando alguns de seus trabalhos, lhe diz: "Você é um artista, não há dúvida, mas precisa respeitar mais o seu trabalho. Não se esqueça que Arte é Mulher... que se ama. Divorcie-se ou se entregue totalmente a ela. Isso é problema exclusivamente seu".

Em 1980 refugia-se em Piratininga e mergulha em estudos e pesquisas, buscando seu próprio caminho artístico. Após uma concorrida exposição na antiga galeria Angelis, em Icaraí, com apresentação de Rezende e do poeta e crítico de arte Walmir Ayala, e na qual mostra desenhos em pastel e duas telas a óleo, decide finalmente se dedicar apenas à pintura. "No meu último trabalho para a indústria fonográfica, trabalhei em cavalete, usando óleo sobre papel", lembra. "O que quer dizer: eu já não pertencia mais aquele mundo era pintor, assumidamente".

"Mas não quero, de forma alguma, que se apague essa influência das artes gráficas. Afinal, foram dez anos trabalhando num quadrado, numa capa de disco; e isto, longe de ser algo ruim, é uma experiência a ser avaliada. Noto, em meu trabalho de pintura atual, essas influências na composição, no enfoque de minhas telas. Não é uma visão tradicional da pintura", afirmou.




Na Região Oceânica de Niterói se embrenha no mato, aprende a escutar o canto das aves fora da gaiola e, sobre uma bicicleta Gulliver "bastante rodada", conhece uma das regiões mais bonitas do Estado do Rio de Janeiro. "A passagem da arte gráfica para a arte plástica em tempo integral é resultado de um processo de muita dedicação e paciência, no aprender a olhar as formas da natureza e traduzi-las para a tela." Mas Aldo acabou descobrindo que na pintura tudo acontece diferente, o artista passa a centralizar todas as funções, ele faz tudo e resolve tudo sozinho.

Logo sua pintura desponta, sólida, madura, consciente e nessa retomada foi importante o exemplo familiar. Apesar de tomar a trilha realista e reeditar o tema paisagístico do avô, sua pintura é "autóctone", resulta primordialmente de observação e estudo apurado diante do motivo. Aldo de Paula pinta a óleo, acrílico, aquarela, pastel, paisagem, marinha, natureza morta, figura, o que lhe dá vontade. "Desenho muito com grafite 8B, adoro fazer croquis".

Apresentou sua obra também na Galeria Macunaíma (Funarte) - Rio de Janeiro, 1987; na Galeria Toulouse, também no Rio, onde expôs 25 telas a óleo sobre o tema "Carnaval Carioca", 1988; na Loja Momento, do Shopping da Gávea - Rio de Janeiro, com o tema "Paisagens", 1988; na Associação Atlética do Banco do Brasil - Niterói, 1989; no Espaço Cultural Acrópole, em Niterói, 1994; no Hotel Quitandinha - Petrópolis, 1995; no Atelier Bernardii - Niterói, 1997 e no restaurante Tanaka San, Leblon - Rio de Janeiro, 2001 e 2002.

Destacam-se ainda a "II Mostra de Artes Plásticas", realizada no Centro de Arte de Nova Friburgo; a mostra "Dez talentos das Artes Plásticas brasileiras", na Galeria Massena Gracioli, na mesma cidade, 1987 e a "VII Mostra Cultural Hispânica" no Centro Cultural Pascoal Carlos Magno, em Niterói, 1988. No mesmo ano ocupa as galerias do Centro Paschoal Carlos Magno em parceria com sua esposa, a escultora Renata Barros. Ele com 20 telas seguindo o tema paisagem; ela com 15 esculturas em barro cru. Em 1990, é convidado a participar de uma mostra reunindo dez artistas brasileiros na Galeria Toulouse, em Los Angeles, Estados Unidos.

Na Associação Fluminense de Belas Artes, o artista foi homenageado com o "Prêmio Menção Especial de Honra", em 1991. Em 1997 divide as paredes da galeria Novo Espaço, em Piratininga, com os colegas Bernadii e Celso Teixeira. Participa ainda das coletivas: "Estandartes" no Campo das Artes-Icaraí, 2003 e 2004; "Tanaka da Lagoa", 2004; "Forte de Copacabana", 2004 e "Museu Antonio Parreiras", 2005. Em 2001, se une a duas dezenas de artistas para pintar uma Via Sacra de Jesus Cristo, em 28 quadros, na recém-inaugurada Capela de São José do Cafubá, em Niterói. Todos os quadros foram doados à igreja.

Aldo de Paulo Fonseca nunca escondeu sua paixão pela cidade que adotou como sua: "Niterói é muito maior do que se imagina. E não estou falando de dimensões espaciais, e sim de valores: a densidade de artistas aqui, é impressionante. Não sei se pela sua situação geográfica - mas o fato é que esta é uma cidade estranhamente mágica. Lembro que, a época da Polygram, a melhor coisa para mim era a viagem de volta para casa de barca. É uma relação muito forte, a que eu sinto", confessa o artista.


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Publicado em 10/08/2023

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