Série Antonio Parreiras, capítulo 4
Apesar de muito elogiado pela crítica fluminense e da Côrte, muitos especialistas argumentavam que faltava ainda a Antônio Parreiras uma temporada de estudo no exterior, uma imersão artística em países como Itália e França, berços das artes plásticas no mundo. Mais de uma vez o Jornal O Fluminense cobrou dos governantes da província, um apoio público a artistas que aqui se destacavam:
"Outro patricio nosso, muito distincto na arte é Antonio Parreiras, este moço, que tem dado de si as melhores provas em valiosas paysangens que já tem produzido, depois de grandes estudos, 'd'après nature'. Infelizmente, a provincia do Rio de Janeiro não tem sabido proteger seus filhos, como tantos outros os fazem. Ainda agora, Minas Geraes sustenta na Europa os estudos do Maestro Almeida Fleming e a Assemblea Provincial concedeu-lhe uma subvenção para uma sua obra. Porque a nossa não faz outro tanto, galardoando o talento de seus filhos? Esses dous jovens - Pinto Bandeira e Antonio Parreiras - bem mereciam um auxilio do governo provincial, afim de se aperfeiçoarem nos paizes estrangeiros." (Jornal O Fluminense, 26 de maio de 1886, grafia original).
Mas essa ajuda oficial não veio, pelo menos não diretamente e não por ação do governo da província, como veremos.
Quando no ano seguinte, Parreiras decidiu por conta própria partir para a Itália, recebeu a ajuda de amigos entusiastas de sua obra e de algumas sociedades que abriram suas galerias para que o artista expusesse suas obras. Em janeiro, abriu seu ateliê no Palacete Bartholdy - hoje Solar do Jambeiro, onde residiu por alguns meses antes de partir para o exterior. Em junho, expôs por quase um mês no Gremio de Lettras e Artes, localizado no Rio de Janeiro, sociedade da qual era sócio.
Em setembro, seus quadros ficaram expostos na Pinacoteca da Academia Imperial de Bellas Artes, quando recebeu a ilustre visita da 'Serenissima' Princesa Isabel. A própria Academia, localizada então num prédio já demolido da Travessa das Belas Artes, no Centro do Rio de janeiro, acabou adquirindo, com a chancela da Casa Imperial, dois de seus quadros, como noticiou o Jornal do Commercio:
"O Ministerio do Imperio autorizou o director desta academia a adquirir para a mesma, mediante a quantia de 3.000$ os quadros a oleo representando 'A Tarde' e 'Effeitos de Tempestade', compostos pelo pintor brazileiro Antonio Parreiras." (Jornal do Commercio, 7 de outubro de 1887, grafia original).
Em 27 janeiro de 1888, o artista abriu exposição no ateliê fotográfico do Sr. Insley Pacheco, na Rua do Ouvidor, no Centro do Rio de Janeiro, com quadros que ele trouxe de uma viagem artística de um mês à região de Cabo Frio. Esta seria sua última mostra antes de seguir para a Itália. Logo na abertura, que também contou com a presença da Princesa Isabel e seu esposo, o Conde D'Eu, foram vendidos 5 quadros. O próprio Casal Imperial acabou por comprar dois quadros, como anunciado nas páginas do jornal O Paiz:
"Sua Alteza Imperial a Princeza Regente fez acquisição de dous quadros, dos que figuram na exposição do talentoso paizagista, o Sr. Antonio Parreiras. O distincto pintor foi procurado hontem pelo Sr. mordomo da Casa Imperial, que designou os quadros 'Aldeia do Pontal' e 'Occaso no Arraial', escolhidos por sua Alteza Imperial. Dos 22 quadros, do que se compõe a exposição, estão vendidos 12." (O Paiz, 29 de janeiro de 1888, grafia original).
Em 3 de março, o jornal 'A Semana' publicava em nota: "Partio ante-hontem para a Italia no vapor 'Duqueza de Genova', onde vae completar os seus estudos o nosso estimado payzagista Antonio Parreiras. Desejamos-lhe muitos triumphos."
Na Itália, Parreiras frequentou a Academia de Belas Artes de Veneza, tornando-se discípulo do mestre Filippo Carcano. Lá, o artista se aproxima de técnicas impressionistas da pintura italiana e começa a interessar-se pela figura humana.
Ele só voltaria ao Brasil em janeiro de 1890 - saiu no Brasil Império, voltou na República - trazendo na bagagem "cinquenta e tantos" trabalhos que foram expostos logo em seguida na antiga Academia Imperial de Bellas Artes, que com o advento da República, dois meses antes, passou a se chamar Escola Nacional de Belas Artes. Sobre seu retorno, escreveu o crítico de arte Xisto Graphite, na reconhecida 'Revista Illustrada':
"Antonio Parreiras pertence áquelle celebre grupo de rapazes ajuizados, que se deixaram do ensino official de então e se entregaram á sabia direcção artistica do verdadeiro fundador da escola de paizagem brazileira, o saudoso artista allemão Georg Grimm" (Revista Illustrada, 11 de março de 1890).
E assim encerramos essa semana dedicada aos anos iniciais da carreira do artista niteroiense que primeiro ganhou destaque nacional e internacional. Antônio Parreiras é referência no estudo do paisagismo do Brasil e um artista que sempre levou, por onde passou, o nome de "Nictheroy".
Série Histórica Antonio Parreiras
Capítulo 1 - O Panno de Bocca do Santa Thereza
Capítulo 2 - A Foz do Rio Icarahy
Capítulo 3 - O Barrista
Capítulo 4 - Os preparativos para a imersão na Europa
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