Com quase 50 anos lotando plateias e divertindo a criançada de Niterói, o ator, cenógrafo e diretor Ricardo Brandão foi um dos mais aclamados nomes da cena teatral da cidade, marcando sua história em dezenas de produções e com vários prêmios em sua carreira. Artista múltiplo, um mestre detalhista na arte de ensinar teatro, nos últimos anos integrou o elenco de atores da TV Record.
Ricardo Brandão trabalhou na maioria das companhias de teatro da cidade e participou de todos os movimentos, desde os anos 1970, na criação da Associação dos Trabalhadores de Teatro do Rio de janeiro, do Fórum Niteroiense de Artes Cênicas, da Associação de Trabalhadores de Artes Cênicas de Niterói (ATAVEN), de várias Mostras, Festivais e Leituras Dramatizadas.
Niteroiense nascido em 11 de dezembro de 1962, Brandão começou a fazer teatro aos treze anos, com Eve Sobral e Patrícia Bardavid, na peça 'Príncipes, Princesas e Outros Babados', do autor mirim Everardo Nazareth Sobral. Dois anos depois, em 1977, atuou junto ao grupo de teatro do Colégio Figueiredo Costa, no qual estudava, sob a direção de Rogerio Figueiredo.
Em 1978, já morando em Itaboraí, passou a fazer parte da Cia de Repertório de Comédias, com a qual ficou até 1980, quando participou do filme 'Amor e Traição (A Pele do Bicho)'. Na mesma época, voltou a residir em Niterói.
Alguns anos depois, em 1983, mudou-se para São Fidelis e passou a integrar o Grupo de Teatro Esquálidos, com o qual participou de várias montagens, dentre as quais: 'Eles Não Usam Black Tie', de Gianfrancesco Guarnieri, 'Profanus', de Antonio Roberto, e 'Amor em seu Momento Maior', uma coletânea de textos de poetas escritores fidelenses, todos dirigidos por Pirre Wilman.
Voltando à Niterói, em 1985 conheceu Carlos Adib e passou a integrar o elenco da peça 'Um Palhaço Sem Nome', de autoria e direção de Abid. No ano seguinte, conheceu Elyzio Falcato, ator, diretor e produtor, que o chamou para integrar o elenco de 'Os Três Porquinhos'. Falcato foi um de seus mais constantes parceiros no palco. No ano seguinte, participou do espetáculo 'Maria Minhoca', de Maria Clara Machado, com direção de Marcello Caridade.
Em 1987, foi convidado para ser assistente no curso da atriz Silvana Lopes, e dirigiu a montagem 'Os Sapatinhos Vermelhos', adaptada por Marcello Caridade. Logo depois, participou do Grupo Estável de Teatro da UFF, onde fez parte da montagem de 'O Auto da Compadecida', de Ariano Suassuna. Dirigida por Ronaldo Mendonça, o espetáculo foi destaque no II Festival de Teatro Niteroiense daquele ano, no Theatro Municipal.
Ainda em 1987, ao lado de Elyzio Falcato, Ricardo Sanfer, Luca de Medeiros e Evans de Brito, fundou o Grupo dos Cinco, com o qual atuou ao lado de Evans de Brito em 'O Assalto', de José Vicente, sob a direção de Sanfer. Ainda em 1987, participou do II Festival Estadual de Teatro Infantil, no antigo Teatro Leopoldo Fróes, com o espetáculo 'Os Três Porquinhos. O Leopoldo Fróes, localizado no Centro de Niterói, foi um de seus palcos mais constantes na década de 1980.
Nesta época, foi convidado por Sohail Saud para fazer parte da diretoria da ATACEN, onde ficou durante seu mandato e, na gestão posterior exerceu o cargo de Diretor Financeiro. Em 1988, ainda com o Grupo dos Cinco, atuou em 'Pinóquio em 2000', escrita e dirigida por Ricardo Sanfer e Elizyo Falcato. Também em 1988 se tornou profissional como Diretor e Ator de Teatro. No ano seguinte, participou, novamente a convite de Sohail, da montagem de 'A Revolta dos Brinquedos', de Pernambuco de Oliveira e Pedro Veiga.
Em 1990, foi convidado por Cristina Mira para dirigir e atuar - acumulando 3 personagens - em 'O Mundo Encantado de Alice', remontada dois anos mais tarde, e, em 1991, integrou o elenco da montagem de 'O Gato de Botas', produzida por Anibal Erthal e dirigida por Jorge Azevedo. Na mesma época, em 1992, fez 'O Coelhinho Pitomba', 'Os três Porquinhos', 'Três Peraltas na Praça', e, um ano mais tarde, 'Pinóquio', todas sob a direção de Elyzio Falcato.
Em 1994, voltou a trabalhar com Eve Sobral, atuando no 'Auto da Paixão de Cristo', nas escadarias da Câmara Municipal de Niterói, iniciativa do então Arcebispo Dom Carlos Alberto Navarro. Em 1998 voltou a encarnar o personagem Ursinho em nova montagem de 'A Revolta dos Brinquedos'. No ano seguinte, produzido pelo grupo Papel Crepom e novamente sob direção de Falcato, atuou na peça 'Pluft, o Fantasminha', de Maria Clara Machado, no papel do marinheiro Sebastião.
Em 2000, foi convidado por Marcello Caridade para integrar o elenco da peça 'A Bela Adormecida', assumindo em 2001 a assistência de direção deste elenco e, no mesmo ano, passou a atuar como assistente de Caridade na Cia de Repertório de Comédia Popular. Com Caridade, ainda atuou em 'Tarzan', com adaptação e direção assinadas por ele, e fez assistência de direção de 'Os Mongaboys', texto dele e de Maninha Cerrone, e de espetáculos como 'Maria e João' e 'Hércules' - todos adaptados e dirigidos por Caridade.
Naquele mesmo ano, assumiu a turma infantil da Oficina de Teatro de Marcello Caridade em Niterói e em São Gonçalo, fazendo a assistência de direção da montagem de 'Sonho de Uma Noite de Verão', de Willian Shakespeare, e dirigindo a peça 'Como Enlouquecer sua Mãe', adaptada por Caridade.
Produzido pela Cia Etc & Tal, em 2003 foi convidado por Elyzio Falcato para integrar, sob sua direção, o elenco de 'Brincando de Brincar', de Mario de Souza, participando ainda de 'Do Outro Lado', um espetáculo baseado no romance homônimo de Wilson Frungilo Jr. e dirigido por Ricardo Sanfer. Em 2004 viveu o cachorro Caco na montagem de 'A Dama e o Vagabundo', de Walt Disney, dirigida Falcato.
Em 2006, atuou e criou a iluminação do infantil 'Arca de Noé', uma adaptação de Wagner Duarte, com direção de Ricardo Sanfer. A convite do autor, ator e produtor Gualter Junior, dirigiu a montagem de 'Meu Quarto é um Conto', onde assinava, junto com ele, a cenografia, que ganhou o primeiro prêmio no Festival de Teatro da Cidade do Rio de Janeiro naquele ano.
Com a Cia Girassol, em 2008 dirigiu 'Gato Pra Cachorro', de Wagner Duarte, uma vez mais assinando, com ele, a cenografia. Ricardo foi um dos mais atuantes artistas do Ciclo de Leituras Dramatizadas, criado em 2008 pelo Theatro Municipal de Niterói e alguns anos depois, em nova versão, pelo Solar do Jambeiro.
Em 2009, participou do elenco da comédia 'Velório a Brasileira', de Aziz Bajur, a convite de Claudio Ramos, que dirigiu o espetáculo. Em 2011, fez parte do elenco de 'Rapidinhas', também de Claudio Ramos, atuou no musical circense 'Robin Hood', de Marcello Caridade, e voltou a atuar em 'A Dama e o Vagabundo', desta vez, sob a direção de Ricardo Sanfer.
E 2015, fez a Produção de Arte em Cenografia do musical 'Capitães de Areia', de Marcello Caridade e atuou em 'Tá, Julieta, Tá?', uma divertida leitura da TEAR Produções para a obra do satírico dramaturgo húngaro-israelense Ephraim Kishon, e dirigida por Rafael Fiuzza. No ano seguinte interpretou o personagem Maurice, no clássico 'A Bela e a Fera', dirigido por Ricardo Silva. No mesmo ano, interpretou o personagem Brabâncio no espetáculo 'Otello, o Mouro de Veneza', de William Shakespeare, com direção de Carlos Fracho.
Ricardo Brandão faleceu em sua cidade natal em 15 de abril de 2023. Casado desde 1994 com Alessandra Vaz, Ricardo teve dois filhos, Arthur e Júlia.
Depoimentos
"Meu padrinho foi o cara que me ensinou toda base de teatro, que me preparou pra quando eu estourasse minha bolha. Mas esse diretor, professor, colega de cena, amigo, incentivador, aquele que viu em mim um potencial, que acreditou e confiou em mim, que me deu todas as oportunidades que eu precisava, eu sempre chamei de meu pai das artes..." (Rafa Fiuzza, ator)
"Ricardo foi o maior amigo que o teatro me deu. Fui o padrinho do casamento dele com Alessandra. Se for relembrar de tudo que fizemos juntos seriam diversos livros. Trabalhamos juntos em 14 espetáculos. Ele sempre foi uma referência como excelente ator, o amigo brincalhão e o profissional respeitável. Quantas vezes trabalhamos e brincamos juntos, afirma Guga, ao lembrar de suas peripécias na travessia das Barcas, ele como o Palhaço Dólar e eu como o Palhaço Cruzeiro, ganhamos muito passando o chapéu depois de nossas brincadeiras e palhaçadas, divertindo os passageiros". (Guga Gallo, ator e diretor teatral)
"Trabalhamos juntos por mais 30 anos. Foram muitas peças como: 'Coelhinho Pitomba', 'Pluft', 'Brincado de Brincar', 'O Fantasminha', 'Revolta dos Brinquedos', 'O Auto da Compadecida', 'O Assalto', e tantas outras." (Elyzio Falcato, diretor de teatro)