O presidente da Fundação Niteroiense de Arte (Funiarte), Luís Antônio Mello garantiu ontem, 17 de agosto de 1990, que está para ser liberada pela Prefeitura a verba para a reforma e restauração da Casa de Cultura Norival de Freitas. Segundo a informação, já está sendo concluído o levantamento das obras que precisam ser feitas, e elas poderão começar logo após as eleições de outubro.
"A demora se deve ao levantamento, que precisa ser muito detalhado. Não queremos descaracterizar a nobre arquitetura do local. Não queremos sequer uma fechadura fora do padrão". adiantou Mello.
Contou que a Prefeitura pretende fazer da Norival de Freitas um complexo cultural alternativo, reconhecendo que a casa funciona como um importante suporte para a cultura local. Para ele, a importância se deve tanto à posição geográfica da casa, bem no centro da cidade, como por ela servir de abrigo às manifestações dos pequenos e obscuros artistas das redondezas, principalmente os do Jardim de São João.
"São essas manifestações que não vamos permitir que morram".
Quando soube da notícia, o diretor da Casa de Cultura Norival de Freitas, César Araújo, se animou. "Nosso intuito é abrir cada vez mais espaço à cultura da cidade. Toda a renda obtida com os eventos que promovemos usada em beneficio do próprio centro, mas ela não é suficiente. A verba que recebemos da Funiarte tem sido apenas para as despesas mais imediatas, como troca de lâmpadas e limpeza, entre outras".
Problemas
A Casa de Cultura Norival de Freitas precisa de reformas. O prédio, considerado um dos mais importantes centros culturais da cidade, já sofreu reformas há algum tempo, que não foram suficientes e agora o estado precário da construção atingiu um estágio muito avançado. O piso, de madeira nobre, está se desfazendo, existem goteiras e oito cômodos, destruídos por um incêndio há seis anos, não foram recuperados.
As paredes, descascadas deixam apenas vestígios dos afrescos a óleo, pintados à mão no século passado. O reboco está soltando, os detalhes esculpidos na fachada estão destruídos e até os azulejos ingleses que revestiam as jardineiras foram roubados.
Dos tempos áureos da mansão, que chegou a ser batizada por seu antigo proprietário Norival de Freitas, de "Notre Réve" ou Nosso Sonho, pouco restou. O diretor da Casa, César Araújo, contou que o incêndio destruiu grande parte dos cômodos - o que vem comprometendo o funcionamento da casa. Com apenas 40% deles ocupados, é impossível realizar todos os projetos culturais que pretendemos. Além do mais, é uma tristeza ver toda essa arte destruída.
Entre os escombros, ainda se conseguia reconhecer os azulejos ingleses da antiga cozinha e a bela arquitetura, rica em detalhes em estilo art nouveau". A casa só resistiu mesmo por causa das fortes estruturas e do material nobre com que foi construída, em 1921", assinalou o diretor.
César contou ainda que a casa ficou muito tempo desocupada, desde que foi desapropriada pela Prefeitura. Dos quinze cômodos, apenas sete tiveram condições de ser utilizados. No andar superior, ocupando três salas, estão atualmente funcionando duas juntas eleitorais, a pedido da Prefeitura.
Atravessar o corredor que dá acesso à sala da diretoria é uma verdadeira aventura: quem visita o cômodo de baixo, um dos abalados pelo incêndio, percebe que as vigas que o sustentam estão quase se quebrando. Dessa mesma sala, é possível ver o estrago causa do pelo fogo, apesar do acesso impedido por tábuas. Mesmo assim, uma certa beleza ainda resiste.
Ele se mostrou penalizado ao falar das pinturas das paredes, quase irreconhecíveis e de duas estátuas femininas, em tamanho natural, que foram roubadas. "Meu grande sonho é conseguir restaurar a beleza artística que se esconde nesse lugar". Na Casa de Cultura Norival de Freitas, funcionam, além da sala dedicada a cursos, exposições e apresentações artísticas, a biblioteca municipal, um setor de encadernação, uma gráfica e a sala de recepção.
Dos projetos programados para o mês de setembro, já estão previstos o lançamento do livro de poemas da escritora Telma Ferrás, a exposição de quadros "Visões Interiores", a apresentação do coral da Uniarte e dois cursos: um de teatro e outro de técnica em aerografia - que reproduz com a luz imagens e textos em alumínio.
Além disso, funciona ali um grupo de dramatização de textos de Carlos Drummond de Andrade, coordenado pela professora do Liceu Nilo Peçanha, Maria Lima.
E César não desanima: "Tenho ainda projetos de construir um palco no jardim, para espetáculos, transformar um dos espaços do andar de cima num ponto de encontro cultural ao ar livre e ver funcionando aqui uma videoteca só com filmes nacionais".
Tags: