Obras de restauro da Casa Norival de Freitas, no Centro, avançam
As obras de restauração da Casa Norival de Freitas, localizado à Rua Maestro Felício Tolêdo, número 474, no Centro, continuam avançando, como parte do Plano Niterói 450 Anos, que inclui a revitalização do Centro da Cidade. O casarão, de grande valor histórico e arquitetônico, passa por uma minuciosa recuperação estrutural e reparo de suas instalações originais, que, em breve, voltarão a compor o valioso acervo urbanístico que guarda boa parte da história do Município e do Estado do Rio de Janeiro.
"Essa é uma obra esperada há muitos anos. Ela é importante para o patrimônio cultural da cidade e também gera 90 empregos diretos e 150 indiretos. São muitas pessoas especializadas trabalhando aqui. Eu me impressionei com a riqueza histórica desse lugar. A casa possui características muito interessantes, que remontam ao período do Centro antigo, que era repleto de residências semelhantes a essa", afirma o prefeito Axel Grael.
Até o momento, já foi concluído o trabalho de restauração das portas e janelas de madeira que compõem a frente do imóvel. O conjunto havia sido retirado no início dos trabalhos e encaminhado para uma oficina especializada, onde permanecerá armazenado até momento de sua reinstalação. Também já foi finalizado o trabalho de decapagem e chapisco de uma das laterais e da área frontal da Casa, com o início do processo de reboco e restauração de parte da fachada.
As equipes também atuam na preparação para a instalação das estacas do novo prédio anexo, que será construído nos fundos do terreno e contará com três pavimentos, com cafeteria, auditório com camarim, sede administrativa, estúdio, área de convivência e um terraço com local de contemplação. A parte externa do casarão também ganhará novo paisagismo e iluminação, e tem previsão de término até o fim de 2024. Após a conclusão total dos trabalhos, o local será sede do Programa Aprendiz Musical, projeto municipal de educação musical voltado para crianças e adolescentes da cidade.
O projeto é da Secretaria de Ações Estratégicas e Economia Criativa e as obras são de responsabilidade da Empresa Municipal de Moradia, Urbanização e Saneamento (Emusa). A restauração é realizada por equipes altamente especializadas e inclui trabalhos de arqueologia e pesquisas iconográfica e arquitetônica, tudo feito de acordo com as normas do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac). A área total da edificação é de 373m², num terreno de 978m². O investimento nas obras de restauração é de R$ 29,1 milhões.
Confira a história da Casa Norival de Freitas
Tesouros, com informações de O Globo
O famoso casarão Norival de Freitas sempre despertou a curiosidade de quem passava pela via. Alguns tiveram a sorte de andar pela região até o final da década de 1970 e ver toda a estrutura construída no estilo arquitetônico conhecido como
art nouveau com todos os luxuosos detalhes. Depois desta época, os niteroienses acompanharam a deterioração do conjunto.
A prefeitura adquiriu o imóvel em 1979. Cinco anos depois, já desocupado, ele foi parcialmente destruído por um incêndio numa noite de sexta-feira. Era 30 de novembro de 1984. Todo o telhado e sua estrutura de madeira ficaram inutilizados. Após um restauro parcial, em 1989 o prédio abrigou, em seu primeiro andar, um
Centro Cultural da prefeitura, mas logo foi fechado. O abandono do patrimonial também facilitou diversas invasões, que foram responsáveis pelo desaparecimento de parte das estruturas metálicas, louças e outros itens que ainda estavam dentro da residência.
Norival de Freitas nasceu em 29 de julho de 1883, em Niterói, e morreu a 22 de fevereiro de 1969. Bacharel em Direito, foi professor, jornalista, historiador, deputado e vereador e um importante político da cidade no início da república brasileira. Ele ordenou o início da construção do imóvel em 1921, quando era originalmente chamado de Solar Notre Rêve (Nosso Sonho, em francês).
De acordo com
Anderson Miranda dos Santos, arquiteto responsável pela execução do projeto de restauração, a intenção é entregar a obra com o máximo de fidelidade possível ao projeto original do francês Berrari. Ele destaca que precisou de muita pesquisa de campo para recompor todos os detalhes
"É importante destacar que encontramos aqui um verdadeiro acervo histórico, desde moedas a louças chineses. Todo o material usado nessa construção foi importado. As telhas vieram da França, os trilhos de trem que fazem parte da estrutura também. Como não havia fundição de metal para obras residenciais, na época era comum a famílias abastadas usarem esse tipo de material. Os ladrilhos eram portugueses. No torreão principal, o material usado veio do Chile. Precisamos de muito estudo para mapearmos cada item desses que estão catalogados aqui. Originalmente, a casa tinha sete quartos, quatro salas, duas varandas, dois banheiros e uma cozinha. Além, é claro, de escritório para receber as reuniões políticas. Aqui era um lugar de muito movimento", detalha Santos, que recorreu a arquivos da UFF e relatos de quem conheceu a casa para orientar o trabalho de toda a equipe.
O arquiteto conta que o casarão era ornado com pinturas externas que continham as paisagens de Niterói, como a Pedra de Itapuca; e o busto das duas filhas de Norival, Nasyra e Noélia. Mas estes painéis encontram-se em estado precário. A maioria deles só pôde ser observada nas fotografias tiradas na época.
O empresário Márcio Cabral, de 58 anos, é o único neto de Norival de Freitas ainda vivo que frequentou a casa. Hoje morador de São Francisco, ele teve um curto contato com o avô, por apenas quatro anos. Mas até os 12 visitou constantemente o imóvel da família.
"Estou muito feliz por ver aquela casa sendo reerguida. Uma pena eu ser o único parente a ver isso. Fizemos muitos pedidos para que essa obra acontecesse. Ali tenho lembranças de criança, de brincar com meu irmão Marcelo, que faleceu em 2004. A gente corria aquele quintal, subíamos nas árvores frutíferas e passávamos a tarde com minha avó. Dos três filhos do meu avô, apenas minha mãe Noélia teve filhos. Agora espero ver essa casa que é um patrimônio da cidade poder ser aberta", afirma.
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