Até Fevereiro do próximo ano (1994) a Casa de Norival de Freitas, no Centro de Niterói, será foco de revitalização cultural dos bairros de Gragoatá/São Domingos/Centro/Ponta D'Areia.
Em 1979 foi desapropriada pelo então prefeito Moreira Franco, mas nunca funcionou como centro cultural, como era pretendido na época. Depois de anos de reformas parciais e paralisações, o atual prefeito João Sampaio vai liberar CR$ 6 milhões para conclusão da reforma e dar o pontapé inicial para a implantação do projeto "Corredor Cultural", em Niterói.
A casa do político Norival de Freitas foi tombada, em 1983, pelo Instituto Estadual do Patrimônio Artístico e Cultural (Inepac), quando o diretor era o atual secretário municipal de Cultura, Italo Campofiorito. Ele considera a obra o último palacete da cidade, já que o da esquina da Rua Pereira da Silva com Praia de Icaraí, foi demolido para a construção de um edifício. Ítalo considera a Casa de Norival de Freitas, de grande importância, não só do ponto de vista estética, mas também porque se transformará um ponto de irradiação cultural.
Os três bairros mais importantes historicamente para o município- Centro, Ponta da Areia e Gragoatá terão na Casa uma espécie de apoio para discussões com a comunidade e reuniões da comissão de tombamentos da cidade. A Secretaria Municipal de Cultura também ficará sediada no local, de onde Ítalo pretende despachar pelo menos duas vezes por semana. Dentro do Plano Diretor de Niterói já foi aprovado o projeto de Corredores Culturais, onde os proprietários serão incentivados a recuperar prédios históricos desde que preservem o projeto arquitetônico. Existe ainda um estudo na Procuradoria Geral do Município de criação de uma lei que poderá reduzir impostos dos prédios preservados.
A casa começou a ser reformada na metade do governo de Jorge Roberto Silveira, com obras de estabilização - a estrutura estava comprometida - colocação e pisos, banheiros, telhados, mas foi interrompida porque a prioridade era o Museu de Arte Contemporânea e o Theatro Municipal. O secretário de Obras, José Roberto Mocarzel, disse que a partir da metade do ano os recursos são escassos, o que pode impedir a retomada da obra. Mesmo assim, João Sampaio afirmou que a verba de CR$ 6 milhões para a conclusão da obra sai até fevereiro do próximo ano.
Ítalo explicou que os três bairros do Centro serão os primeiros a serem preservados urbanisticamente, e será na Casa de Norival de Freitas que estarão concentrados todos os dados para a implantação do projeto. O secretário disse que, mesmo nas construções que não terão necessidade de serem preservadas, os proprietários devem respeitar determinadas normas aceitas no Plano Diretor. Nas áreas dos corredores culturais, os prédios do Centro não poderão ultrapassar quatro pavimentos. Na Ponta D'Areia, o máximo permitido são dois pavimentos e em São Domingos, três.
Para o secretário, a preservação do conjunto arquitetônico e a revitalização da Casa Norival de Freitas são uma única coisa: "Não podem ser separadas por que não há como preservar se não dermos vida a toda a estrutura", explicou. O arquiteto responsável pela construção, Luiz Eduardo Pinheiro da Silva, disse que com o dinheiro não haverá dificuldade de reformar a casa dentro do tempo previsto. As firmas que serão contratadas para realização da obra já foram contactadas e toda a estrutura do imóvel já foi estudada.
Verbas garantem reformas
Depois de anos de tombamento a Casa Norival de Freitas voltará a ser utilizada como na época em que o proprietário era vivo. O advogado, professor, jornalista, historiador e político faleceu em 1969, Noelina, sua esposa, continuou vivendo na casa, que hoje leva o nome do proprietário. A residência foi desapropriada dois anos depois do falecimento de Noelina, mas a determinação, na época, de transformá-la em um centro cultural, nunca foi concretizada.
Uma pequena biblioteca chegou a funcionar no andar de baixo, juntamente com uma sala de reuniões, administrada pelo poeta César de Araújo. Como as estruturas da casa estavam abaladas, a biblioteca teve que ser desfeita para obras de estabilização. A casa ainda abrigou o comitê interpartidário durante as eleições para governador em 1990.
O secretário de obras, José Roberto Mocarzel, disse que o andamento da obra é de acordo com a verba dispensada. Como desde o governo de Jorge Roberto Silveira vem sendo priorizadas a construção do Museu de Arte Contemporânea e a reforma do Theatro Municipal, a obra da Casa Norival de Freitas ficou praticamente paralisada.
Os arquitetos e engenheiros da Secretaria de Obras estão sendo orientados pelo restaurador do Theatro Municipal, Cláudio Valério Teixeira. Para Mocarzel, a demora é natural em todas as restaurações, porque precisam de dados históricos para a reforma. Num estilo considerado eclético por Ítalo Campofiorito, secretário de Cultura, a Casa Norival de Freitas concentra variações normandas, mouriscas, neogregas e Luiz XVI. Junto com a casa, o secretário acredita que ainda vai restaurar todo o Jardim São João.
Publicado orinalmente em O Fluminense, em 07 de setembro de 1993