A segunda maior coleção particular de artes plásticas do país começa a ser exposta, a partir de hoje, 10 de dezembro de 1992, às 18h30, no Paço Imperial. São 300 obras - entre pinturas e esculturas - de 120 artistas brasileiros, um terço do total colecionado pelo empresário João Sattamini, 53 anos, durante as últimas três décadas.

Intitulada "A caminho de Niterói" e com obras selecionadas pelo curador Victor Arruda, a coleção de Sattamini pode ser menor em tamanho do que a de outro carioca, Gilberto Chateaubriand, mas oferece algumas compensações: Sattamini tem em obras das últimas três décadas o que Chateaubriand tem do modernismo brasileiro.

"Há artistas de quem eu poderia organizar sozinho uma retrospectiva, tamanha e tão representativa a seleção de obras que estão neste acervo", orgulha-se o empresário. Entre eles, estão nomes do porte de Antonio Dias e Iberê Camargo (de quem Sattamini tem obras que vão de uma natureza morta dos anos 50 a um autorretrato dos anos 80). Sattamini detesta que se diga que sua coleção é a segunda (os critérios de medição são sempre discutíveis"), mas gosta quando se elogia a parte contemporânea do acervo, laboriosamente colecionado desde os anos 60, quando o empresário morou em Milão e começou a acumular obras de Antonio Dias, outro morador ilustre da cidade. Em 30 anos, o acervo acumulado tem um valor que se mede em milhões de dólares e não pode ser revelado à imprensa por exigência da seguradora.

A coleção vai passar o verão no Paço, onde fica até 14 de fevereiro, e depois fará parte do acervo do Museu de Arte Contemporânea de Niterói (um projeto de Oscar Niemeyer no mirante da Praia da Boa Viagem). As obras serão cedidas em regime de doação temporária, sob determinadas condições de conservação técnica e exposição ao público. "Para que a coleção permaneça como parte do acervo do novo museu, coloquei no contrato uma série de exigências a fim de que o público fluminense passe a frequentar a instituição, e os cariocas tenham bons motivos para atravessar a ponte em busca de um painel amplo e exigente dos caminhos da arte brasileira contemporânea", comenta Sattamini. Quem morar em Niterói e puder comprovar residência com uma conta de luz, gás ou telefone, vai ter entrada grátis à exposição do Paço em qualquer dia da semana.

A seleção de 120 artistas inclui obras antológicas como "O bicho" de Lygia Clark, seis trabalhos deslumbrantes de Mira Schendel, outro tanto de Milton Dacosta, Sérgio Camargo e Aluisio Carvão, além de Jorginho Guinle, Tunga, Waltércio Caldas, José Resende, até chegar aos anos 80 de Daniel Senise e os 90 de Barrão e cia.

O acervo que se encontra no Paço Imperial mereceu um tratamento cronológico retrospectivo e se concentra em pintura (são mais de 250 telas, a maioria em grande formato, mantendo a média de três peças por artista). A mostra começa pelos anos 90 e retrocede até 1945, data da obra mais antiga capturada por Sattamini. Há salas especiais para Iberê Camargo, Anna Bella Geiger e Paulo Roberto Leal. "Fui comprando tudo aos poucos, guiado pelo meu gosto pessoal e pela assessoria de alguns amigos", diz Sattamini, "e acho que consegui acumular um acervo de fazer orgulho a qualquer museu brasileiro, mantendo a tradição de qualidade dos colecionadores cariocas". O público vai começar a compartilhar desse privilégio a partir de hoje à noite.

Marília Martins, para o Jornal do Brasil (10/12/1992)


"A Caminho de Niterói", por Luiz Antônio Mello
    Amanhã (10 de dezembro de 1992), às 6h da tarde, será aberta a maior exposição história do Paço Imperial, dos prédios mais belos do Brasil, que fica encravado na Praça XV. A exposição chama-se "A Caminho de Niterói" e mostra, em primeira mão, boa parte do acervo de João Sattamini, que estará no Museu de Arte Contemporânea de Niterói, quando estiver pronto.

    Logo na entrada, um painel de Oscar Niemeyer, feito em cima de fotos belíssimas da baía de Guanabara. Num exercício magistral de ficção, o mestre colocou o MAC na paisagem. Com sensibilidade, paixão, amor. Ouço uma conversa do mestre com o secretário de Cultura de Niterói, Ítalo Campofiorito. Niemeyer parece um garoto de tanta satisfação.

    Quando o prefeito Jorge Roberto Silveira abrir oficialmente a exposição, amanhã, o Rio entenderá por que Niterói não é mais a mesma, graças a Deus. A coleção Sattamini é o que existe de melhor em Arte Contemporânea brasileira. São quadros e mais quadros, alguns com 15 metros de comprimento, que retratam a cara das nossas cidades hoje. A Arte urbana, como a música urbana, é caótica por natureza e reflete com precisão os confrontos, as contradições, o desafio existencial do homem de hoje. Não resta a menor dúvida de que o Museu de Arte Contemporânea será o maior polo da vanguarda artística do Estado do Rio.

    E por mais que falemos sobre a coleção Sattamini, só vendo, só sentindo, só apreciando as carícias e pancadas que os artistas geniais, de um tempo genial, dão com vontade, disposição, ousadia. Se Niterói já não é como antes, com o MAC e a coleção Sattamini estará viajando pelas veias e artérias da alma humana, livre, solta, democrática. O Rio todo vai ver "A Caminho de Niterói", porque a exposição é um preview do que será o MAC, o melhor e mais bem equipado museu do gênero no Estado.

    Se Arte é sinônimo de transgressão, a coleção Sattamini é um berro no escuro, um chute impiedoso na mediocridade e na mesmice. O MAC, que vai abrigar essa coleção, não irá decepcionar os tempos modernos, jogados em verso e alma em telas que clamam por liberdade, democracia. Ver essa exposição, para nós niteroienses, é muito importante. Vê-la no MAC será fundamental.

    Valeu!! Valeu o esforço da equipe, do curador Victor Arruda, que conseguiram montar a melhor exposição em cartaz no Rio, provando que, com a chegada do MAC, o Estado vai cravar seu nome no calendário cultural do mundo. Definitivamente.

    Luiz Antônio Mello é jornalista, radialista e presidente da Fundação Niteroiense de Arte (Funiarte).



"A caminho de Niterói", por Ivan Cardoso, Tribuna da Imprensa
    Na entrada, elegantíssima num terninho branco, Silvia Sattamini recebia os seus ilustres convidados para a abertura da grande exposição que sacudiu o Paço Imperial, reunindo "apenas" uma pequena parte - cerca de 300 obras - da coleção de arte contemporânea de seu marido, João, que em breve fará parte do acervo do MAC de Niterói.

    Entre os presentes, muitos secretários de cultura, o prefeito da terra de Arariboia (que foi a grande estrela da noite, sendo cumprimentado por todos os artistas!), o embaixador José Aparecido - que não parava de dar entrevista - artistas como Roberto Magalhães, Leda Catunda, Waltércio Caldas, Wanda Pimentel, Oscar Ramos, o fotógrafo Marco Rodrigues, a sedutora Marcia Querida, o marchand Ralf Camargo, além de críticos, jornalistas & tout le grand monde das artes plásticas.

    Ciceroneado por Ana Maria Niemayer e pelo próprio Sattamini, o ministro Antonio Houaiss finalmente (depois de alguns imprevistos) pode ver a importante mostra, fazendo questão de percorrer todos os salões da incrível construção da Praça Quinze.

    "A Caminho de Niterói", além de fornecer um ótimo panorama da nossa produção artística nos últimos 40 anos, tem a mérito de provar que realmente é possível fazer alguma coisa pela cultura, quando há vontade política suficiente para isso. A cidade do outro lado da ponte deixou o Rio a ver navios... ()



A Caminho de Niterói II

Coleção do MAC fica no Paço Imperial até fevereiro

O Paço Imperial, na Praça XV, Rio, abriu suas portas, anteontem (16 de dezembro de 1993), para mais uma exposição de significativa importância para Niterói. Trata-se da coleção de João Leão Sattamini, intitulada "A Caminho de Niterói II", que pertence ao Museu de Arte Contemporânea (MAC). A mostra ficará em cartaz até o dia 6 de fevereiro, dando oportunidade aos amantes das artes plásticas de conhecerem uma produção de alto nível.

A coleção já esteve em exposição no mesmo Paço Imperial, mas desta vez se difere da primeira por enfatizar o gigantismo das obras de alguns poucos artistas. O acervo Sattamini mostra, pela segunda vez, a sua contemporaneidade, que vai compor o Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói. A seleção foi feita por Rubens Breitman.

"O tamanho das obras, quase um gigantismo, é uma das facetas que procuro mostrar ao organizar a seleção dos trabalhos. A aquisição de peças de maior porte já indicava, naquela ocasião, o caminho que a coleção teria obrigatoriamente de seguir, ou seja, de um caráter privado, ela evoluiria para um caráter público. Os primeiros passos para o MAC de Niterói estavam, então, sendo dados, embora não pudéssemos pressentir a excelente associação que se faria, no futuro, entre coleção e museu", disse ele.

A abertura da exposição contou com as presenças do prefeito João Sampaio, do secretário de Cultura de Niterói, Italo Campofiorito e do colecionador João Sattamini, acompanhado da mulher, Silvia, entre outros. Quem quiser conferir as obras, antes que elas atravessem a ponte, só ir ao Paço Imperial, entrada é franca.


LINKS

Oscar Niemeyer: MAC, debruçado sobre a Baía
A História do Início, por Ítalo Campofiorito
Projeto de museu em Niterói
Exposição "A Caminho de Niterói", no Paço Imperial
O Novo voo de Niemeyer
Niterói na vanguarda da arte
Um fenômeno do outro lado da baía
"Arquitetura na cidade contemporânea", por Ruy Ohtake
Bem-vindos ao MAC








Publicado em 14/10/2021

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