Começaram as obras do museu de arte projetado pelo arquiteto em Niterói

Um pássaro pousado em cima de morro. Assim será a silhueta do Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC), pelo menos sob a ótica de seu idealizador, o arquiteto Oscar Niemeyer. As obras começaram há dez dias (01/07/1992) e o término da construção está previsto para o fim deste ano. O museu, localizado no Mirante da Boa Viagem, vai abrigar cerca de 600 obras doadas pelo dublê de empresário e colecionar João Leão Sattamini Netto.

Abrangendo uma área total de 4.300 metros quadrados e com um valor estimado em cerca de Cr$ 2 bilhões, o museu terá três pavimentos. No subsolo, estará o acervo técnico e um restaurante, enquanto no segundo ficará a sala de exposição e, no terceiro, a sala de trabalho, pesquisa e restauração, além de um auditório com 700 lugares, para debates e conferências.

Atualmente, a maquete do projeto está em exposição no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque. Niemeyer escolheu este croqui para fazer parte da mostra, que reúne arquitetos ganhadores do prêmio Pritzker.

A prefeitura do município está financiando a estrutura. Depois, a obra deverá ser entregue à iniciativa privada, que colocará as instalações, como carpete, iluminação etc. O restaurante também será explorado por uma empresa particular. A Presidente Engenharia foi a firma escolhida, através de concorrência pública, para construir a estrutura.

A ideia da construção de um museu surgiu depois que Sattamini, interessado em doar boa parte de seu acervo, procurou o prefeitos Jorge Roberto Silveira, de Niterói, e Jaime Lerner, de Curitiba, no Paraná. Ambos entusiasmaram-se com a proposta. Mas, para sorte dos fluminenses, a prefeitura de Niterói levou a melhor. Imediatamente, Jorge Roberto entrou em contato com Oscar Niemeyer, que foi visitar a cidade e acabou escolhendo o local para a construção do museu, cujo projeto foi elaborado gratuitamente.

"É o único local de onde se pode ver a Fortaleza de Santa Cruz, a entrada da Baia de Guanabara, o Pão de Açúcar, o Corcovado, a Pedra de Gávea, o Dedo de Deus e parte da Serra do Mar", lembra o secretário de Cultura do município, Ítalo Campofiorito. De fato, a ampla paisagem histórica da Baia jamais será prejudicada pelo progresso. A vista para as águas navegadas por invasores e piratas continua intacta.

Depois desta visita de Niemeyer a Boa Viagem, Jorge Roberto Silveira convidou-o para almoçar em um restaurante na Charitas. Durante a refeição, o arquiteto esboçou num pedaço de papel o projeto da construção. Em poucos minutos o partido adotado estava pronto. Aos 85 anos, Niemeyer costuma dizer que esta talvez seja sua última obra.

O secretário conta que no Mirante seria construído um prédio de seis andares, cujo proprietário entrou em acordo com a prefeitura e acabou cedendo o terreno. Depois de construído, o MAC funcionará, segundo planos da prefeitura, como uma espécie de chamariz turístico. "Queremos que esta orla se transforme num passeio internacional", entusiasma-se Campofiorito. "O conjunto arquitetônico que liga a Boa Viagem ao Ingá tem tudo para se transformar num grande corredor cultural", orgulha-se o presidente da Empresa Niteroiense de Turismo (Enitur), João Medeiros.

Acervo doado tem 600 obras

O Museu de Arte Contemporânea de Niterói receberá cerca de 600 obras do acervo do empresário João Leão Sattamini Netto, proprietário da segunda maior coleção privada do pais. Os quadros e as esculturas das décadas de 60, 70 e 80 de artistas como Jorginho Guinle, Mauricio Bentes e Sergio Camargo, entre outros, foram doados num acordo de comodato, como já fora feito com as obras de Lasar Segall, em São Paulo.

O secretário de Cultura, Ítalo Campofiorito, explica que, de acordo com o contrato. a prefeitura ficou incumbida da construção de um prédio e da preservação da coleção, que ficará em usufruto do empresário. Em caso de morte, a prefeitura é a herdeira do acervo. Sattamini, de 53 anos, é industrial do ramo de importação e exportação. Há cerca de 20 anos começou a comprar quadros.

"Ele é o próprio mecenas", observa Campofiorito. Talvez por isso, a prefeitura pense em buscar auxilio na Lei Rouanet, além da inciativa privada. Intercâmbios também não faltarão. Metade das obras estarão à disposição para serem trocadas com outros museus. "Os Estados Unidos e a França costumam fazer este intercâmbio. Podemos até fazer trocas com outras correntes estéticas", diz.

Paula Santa Maria para O Jornal do Brasil, 11 de julho de 1992


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Publicado em 22/07/2013

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