Mas está fraturado o teu dorso meu estupendo e pobre século (Osip Mandel’štam, “Meu século”)

O Museu de Arte Contemporânea recebe de 6 de agosto a 23 de outubro de 2011, a exposição "Horas Seculares e Instantâneas", do artista Vanderlei Lopes. Com curadoria de Guilherme Bueno, a exposição acontece na varanda do MAC, ambiente perfeito para a abordagem da temática, o tempo.

Em uma era que alega o fim da história (o que soa contraditório – falar da existência de uma era humana fora da história), na qual a relação com o tempo se mostra difusa e vacila distinguir entre o que seria permanente e efêmero, podemos nos perguntar sobre o que falam os trabalhos de Vanderlei Lopes. Eles emulam o instante fotográfico, limiar entre a existência e a dissolução das coisas. Tempos incertos só cabem na imagem, pois nela nos damos conta do quanto o instante pode ser fantasmagórico, ao se fixar aquilo que ainda existe e simultaneamente começa a passar, inexistir. E também porque imagens são capazes, mesmo que por um ardil fugaz, de fingirem em certas ocasiões existir além ou aquém do tempo. Assim ocorre no vídeo Afresco no qual um objeto se molda, se “esculpe” infinitamente; nas suas cerâmicas, que aliam as formas gregas – uma época longínqua, perdida, mas ainda referencial para nós – a cenas do mundo atual, fundindo num só objeto aquela noção de temporalidade imprecisa mencionada acima. Ou ainda a experiência de fazer um “desenho de rastros”, seja em Árvore, um trabalho que se conclui na sua aniquilação de fato, restando apenas a silhueta consumida pelas chamas (o risco, em duplo sentido, desenhar ou explodir, foi vivido), seja em Enseada, cuja corporeidade frágil do giz e da folha de carbono espelha o mar volúvel e sempre mudando sua forma.

Por que insistir tanto na ideia de tempo e de querer agarrá-lo nesses objetos? Talvez pelo dilema de nos serem cada vez mais caros (nas duas acepções da palavra), afora tornarem-se quase antagônicos, dado que a duração requerida para a consecução e para a experiência do objeto, senão inviável, é cada vez mais rara no ritmo do mundo atual. É um trabalho que opta, ao lidar com o espectro da fugacidade, fazer desse ambíguo congelamento impossível e titâncio uma resistência em favor da poesia. Amanhã é agora (Godard).

Vanderlei Lopes Richarde se formou em Artes Plásticas em 2000 na Universidade Estadual Paulista - Unesp, na cidade de São Paulo. As primeiras participações do artista em exposições coletivas foram, em 1998, no 30º Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba e no 25º Salão de Arte Jovem de Santos, onde recebeu menção honrosa. Em 2002, fez sua individual de estreia na galeria 10,20 x 3,60, em São Paulo. Nos dois anos seguintes, teve individuais no Centro Cultural São Paulo - CCSP e no Centro Universitário Maria Antônia - Ceuma. Em 2005, expôs no Programa de Exposições do CCSP e recebeu o prêmio aquisição. Em 2007, seu trabalho integrou a Coleção Gilberto Chateaubriand e a respectiva mostra Novas Aquisições, do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ. No mesmo ano, expôs individualmente no Espaço de Intervenção Cultural Maus Hábitos, no Porto, Portugal. Em 2008, foi selecionado pela Bolsa Iberê Camargo para receber destaque na Revista Digital. No ano seguinte, apresentou trabalhos na Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, e nas mostras Loop Videoart Barcelona 2009, em Barcelona, e Nova Arte Nova, no Centro Cultural do Banco do Brasil do Rio de Janeiro-CCBB/RJ e no de São Paulo-CCBB/SP.


Serviço:

"Horas Seculares e Instantâneas", de Vanderlei Lopes
Curadoria: Guilherme Bueno
Local: Varanda
Abertura: 6 de agosto de 2011
Visitação: 6 de agosto a 23 de outubro de 2011

Museu de Arte Contemporânea - MAC
Endereço: Mirante da Boa Viagem, s/n – Niterói RJ
Informações: 21 2620 2400 / 2620 2481


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Publicado em 15/05/2016

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