Obras de Aluisio Carvão, Lygia Clark e Hélio Oiticica estão reunidas em mostra no MAC.
O Museu de Arte Contemporânea recebe de 11 de dezembro de 2004 a 6 de março de 2005, a exposição "Poéticas do Infinito". Com curadoria de Guilherme Vergara, a exposição busca aproximar as múltiplas entradas da produção artística do século XX com o infinito: do salto do plano para o espaço pelas poéticas construtivistas ao jogo do acaso na construção de redes e dobraduras; da geometria de Mondrian presente nas ordens concretas da arte brasileira às Malhas da liberdade de Cildo Meireles e à rede de elásticos de Lygia Clark.
O Infinito como princípio – e a apreensão do Infinito como fim. Estes foram os primeiros motes desta curadoria que buscou aproximar as múltiplas entradas da produção artística do século XX para o infinito: do salto do plano para o espaço pelas poéticas construtivistas ao jogo do acaso na construção de redes e dobraduras; da geometria de Mondrian presente nas ordens concretas da arte brasileira às Malhas da liberdade de Cildo Meireles e à rede de elásticos de Lygia Clark. Mas foi na arquitetura do MAC que encontramos o abrigo poético para o infinito.
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Esta mostra foi o resultado de nove anos de estudos curatoriais e educativos que surgiram a partir das estratégias interpretativas desenvolvidas a partir dos desafios comunicativos da arte contemporânea e das vivências que exploraram a singular arquitetura do MAC como obra de arte, aberta para a infinitude da paisagem ao seu redor. Todas as equipes técnicas do MAC foram convocadas para a elaboração desta mostra, buscando explorar as coleções João Sattamini e MAC através de um estudo curatorial transdisciplinar, envolvendo educação, museologia, arquitetura e teoria e pesquisa.
Na trajetória da história da arte no século XX, o conceito de infinito está presente em vários sentidos, como expressão, representação e simbolismo. O infinito está relacionado também ao universo aberto de recepção de uma obra de arte, como campo de possibilidades de percepção e sentidos para cada sujeito no mundo – o infinito na potência de cada olhar, onde cada experiência é uma história. Assim, chamamos de "Poéticas do Infinito" para dar ênfase a esta condição múltipla da obra de arte, desde o seu processo de criação até a sua recepção/interpretação pelo público.
A mostra foi dividida em "estações" para se pensar sobre o infinito através de diferentes poéticas artísticas. Buscamos reunir em cada "estação" obras das coleções João Sattamini e MAC com as de outros artistas contemporâneos que interagem com o espaço e o público, apresentando conceitos que apontam para o fim das formas fixas e isoladas entre arte e espectador.
Chamamos especial atenção para os usos do espaço expositivo do museu, tomado não apenas por objetos, mas por situações de mobilização e acesso aos processos de criação artística das obras, na forma de jogos interpretativos. Alguns desses jogos já são parte do conceito proposto pelo próprio artista, envolvendo o espectador-participante, como os Bichos e a rede de elásticos de Lygia Clark, e as Malhas da liberdade de Cildo Meireles, obras abertas em contínuo processo de fluência criativa, onde o infinito é materializado em forma de jogo.
Na estação "Jogos concretos e neoconcretos do plano ao espaço", as pinturas dos artistas Hermelindo Fiaminghi, Aluísio Carvão, Lygia Clark, Mavignier e Hélio Oiticica apresentam a matriz de uma série de fluências contínuas de composições geométricas. Na arte concreta dos anos 50, o conceito de jogo está presente na criação de um vocabulário de composições com formas geométricas, através de padrões, ritmos e estruturas que passam a ser um universo infinito de criação artística, e que apresentado na forma de jogo se transforma em material de recepção e fruição para o espectador.
O segmento "Dobraduras – dobra e redobra ao infinito" reuniu as experimentações em diferentes materiais de artistas que através de soluções mecânicas conquistaram o espaço orgânico pela dobra. As fitas em madeira de Joaquim Tenreiro, os metais dos Bichos de Lygia Clark, o "amassado acidental" de Franz Weissman, a força e densidade das dobras e cortes de Amilcar de Castro em chapas metálicas contrapostos à ordem precária e leveza das experiências em papel de Paulo Roberto Leal parecem dobrar o espaço num fluxo contínuo pelo movimento.
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A partir dos anos 60, ao mesmo tempo que artistas brasileiros e estrangeiros seguem diferentes rotas de exílio, os exercícios da abstração geométrica se expandem para uma nova arquitetura e geografia, dos labirintos das instalações ambientais e dos mapas. Nesta estação, "Labirintos – entre caos e ordem", reunimos obras de Hélio Oiticica, Antonio Manuel e Antonio Dias. O conceito de Redes e Malhas, como proposição artística, reformula o espaço participativo da obra de arte. Nas obras de Cildo Meireles e Lygia Clark, as redes e malhas tecidas coletivamente formam estruturas que provocam um processo aberto à participação e de crescimento infinito. A obra de arte é então a construção de uma consciência ampliada para as inter-relações humanas, através do processo de participação contínua do público na obra.
Um circuito especial de obras foi colocado no piso do Salão Principal, unindo pelo simbolismo das "Físicas e metafísicas do Infinito" os artistas Nelson Felix, Sérgio Camargo, Ernesto Neto e, ao fundo, Antonio Dias. A sequência de obras enigmáticas explorava os limites da existência – finita e infinita; da energia do átomo na obra de Felix (uma esfera de chumbo com torionita, material radioativo) ao macrocosmo da pintura de Antonio Dias (Projeto para one and three, 1974).
A obras do artista Daniel Whitaker tecem um circuito paralelo em uma "Estação sem parada", através de uma sequência de fotografias de crepúsculos e madrugadas feitas de uma janela na cidade do Rio de Janeiro. As imagens remetem a mais uma poética do infinito, do sublime e do passar do tempo, intercruzando a passagem dos dias em uma grande metrópole. Interligadas por códigos de internet (ou comandos de hipertexto), formavam uma rede invisível pelos trechos dispersos de um poema do século XVII, do japonês Bashô.
O público passava a fazer parte dessa rede virtual ao descobrir o percurso que levava uma imagem para outra, reconstruindo o texto de Bashô, poeta viajante do infinito. Descobrimos e oferecemos aos visitantes, na última "estação", a exploração dos "Caminhos do Infinito no MAC – da geometria à geografia", através das formas circulares e barrocas das espirais e do caminho circular na varanda e no segundo andar. Forma-se uma escultura-caminho no espaço/tempo, como uma fita de moebius, símbolo do infinito.
Aqui o público era convidado a fazer sua fita e depois recortá-la, vivenciando a obra/processo Caminhando, de Lygia Clark. Nas formas do MAC e com sua vivência no espaço, o visitante resgata a união entre geometria e geografia; esta é a maior poética do infinito. Elida Tessler completou essa mostra com a instalação especial Horizonte provável. O anel da varanda foi redesenhado com pratos brancos sobre as janelas, como um colar de pérolas, impressos com verbos no infinitivo retirados do livro Arte no horizonte do provável, homenageando seu autor, Haroldo de Campos.
Serviço:
"Poéticas do Infinito", coletiva.
Curadoria: Guilherme vergara
Local: Salão Principal
Abertura: 11 de dezembro de 2004
Visitação: 11 de dezembro de 2004 a 6 de março de 2005
Museu de Arte Contemporânea (MAC)
Mirante da Boa Viagem, s/n – Niterói RJ
Informações: 21 2620 2400 / 2620 2481
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