Em comemoração aos noventa anos da imigração japonesa no país, o Museu de Arte Contemporânea de Niterói apresenta a exposição "Flávio Shiró na Coleção Sattamini e Obras Recentes".

A mostra, que ocupa o Salão Principal e a Varanda do MAC, conta com vinte obras do período de 1964 a 1997 e estará aberta para visitação de 10 de agosto a 4 de outubro de 1998. Segundo o curador Luiz Camillo Osorio, em seu texto para o catálogo, os anos 60 foram um importante período da carreira de Flavio-Shiró - no qual o artista empregou uma "gestualidade estilizada de origem oriental misturada à carnalidade da tradição ocidental".

Muita gente provavelmente não sabe o que aconteceu no dia 18 de junho de 1908. Mas uma boa parte da população brasileira se lembra muito bem - foi a data da chegada do navio Kassato no Porto de Santos, que trazia os primeiros 781 imigrantes do Japão para o Brasil. Para comemorar este marco, as comunidades de japoneses de todo o Brasil preparam suas festas e homenagens. No Estado do Rio, maior delas vai ter início hoje. É o mega-evento "Japão: ciência e cultura em Niterói-90 anos de imigração", que a prefeitura de Niterói vai promover até o dia 22 deste mês.

A cultura e tradição do Império do Sol Nascente vai invadir os principais centros culturais, teatros e áreas de lazer da cidade. Serão dias e dias de música, exposições de artes plásticas, festival de gastronomia, ciclos de cinema, cursos, apresentações cênicas, esporte e reflexões teóricas sobre aspectos da sociedade japonesa, num total de 40 atividades. E melhor, tudo é de graça.

Uma das organizadoras é a secretária de Ciência e Tecnologia de Niterói, Satiê Mizubuti. "Quando eu era vereadora fizemos uma pequena homenagem ao 87 anos de imigração. Agora pela particularidade da data, queríamos uma coisa maior. Conservando com o prefeito ele propôs um evento com maiores dimensões que unisse cultura e ciência", explica a secretária. "Acho que o público que vamos atingir vai ser de primeira qualidade e muito variado. Principalmente porque a cultura japonesa é pouco difundida no Rio de Janeiro", observa Satiê.

Atuais e tradicionais

Entre os destaques da programação está a exposição do pintor Flavio-Shiró, no Museu de Arte Contemporânea de Niterói. A mostra é composta por obras do artista que fazem parte da Coleção João Sattamini (acervo permanente do MAC) e por trabalhos recentes. Longe se ser uma retrospectiva, a exposição comemora os 70 anos de vida e 55 de carreira do artista, com 20 quadros realizados entre as décadas de 60 e 90. "Como a coleção do Sattamini parou por volta de 1985, achei que seria melhor completar com obras recentes", diz o artista. "Selecionei os quadros em função da forma circular da sala do museu, e todas têm uma temática mais humanística. O curto período em que me dediquei ao abstrato, não aparece nesta mostra", conta Flavio-Shiró.

Mesmo tendo nascido no Japão, Flavio-Shiró nega que seu trabalho tenha influência de seu país natal. "Acho que a pintura é uma linguagem universal. Desde quando vim para o Brasil me encantei com os elementos daqui. Além disso, passo muito tempo na França. O Japão está mesmo na minha memória de criança", explica. O artista chegou aqui aos quatro anos de idade, em 1932, juntando-se à colônia de Tomé-Acú, no interior do Pará. "Um belo dia, deu uma louca no meu pai e ele resolveu abandonar tudo. Lá ele tinha uma ótima situação como dentista e mesmo assim resolveu se aventurar na Amazônia", revela.




O artista

Flávio Shiró Tanaka (Sapporo, Japão, 1928) é um pintor, gravador, desenhista e cenógrafo nipo-brasileiro. Nascido no ano de 1928, em Sapporo, Japão, chega ao Brasil em 1932. Aqui, se instala com a família numa colônia japonesa em Tomé-Açu, no Pará. Reside em São Paulo a partir de 1940. Estuda na Escola Profissional Getúlio Vargas, onde conhece Octávio Araújo (1926-2015), Marcelo Grassmann (1925-2013) e Luiz Sacilotto (1924-2003). Por volta de 1943 tem contato com Alfredo Volpi (1896-1988) e Francisco Rebolo (1902-1980) integrantes do Grupo Santa Helena. Em 1947, integra o Grupo Seibi. No ano seguinte, trabalha na molduraria do pintor Tadashi Kaminagai (1899-1982).

Com bolsa de estudo, viaja a Paris, onde permanece de 1953 a 1983. Estuda mosaico com Gino Severini (1883-1966), gravura em metal com Johnny Friedlaender (1912-1992) e litografia na École National Supérieure des Beaux-Arts [Escola Nacional Superior de Belas Artes]; e frequenta o ateliê de Sugai e Tabuchi. Na década de 1960, participa do movimento artístico brasileiro e integra o Grupo Austral (Movimento Phases) de São Paulo. Dedica-se à abstração informal, desde a década de 1950. A partir dos anos 1970, suas telas apresentam sugestões de figuras, por vezes seres fantásticos ou monstruosos. Em 1990, é publicado o livro Flávio Shiró, pela editora Salamandra. A exposição Trajetória: 50 Anos de Pintura de Flavio-Shiró é apresentada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) e no Hara Museum of Contemporary Art, em Tóquio, em 1993, e no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), em 1994.

Confira o Catálogo da exposição


Serviço

"Flávio Shiró na Coleção Sattamini e Obras Recentes"
Curadoria: Luiz Camillo Osorio
Local: Salão Principal e Varanda
Abertura: 10 de agosto de 1998
Visitação: 10 de agosto a 4 de outubro de 1998

Museu de Arte Contemporânea - MAC
Endereço: Mirante da Boa Viagem, s/n – Niterói RJ
Informações: 21 2620 2400 / 2620 2481


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Publicado em 21/05/2014

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