Com curadoria de Luiz Guilherme Vergara e Marcia Müller, o Museu de Arte Contemporânea recebeu de 4 de julho de 2000 a 15 de abril de 2001 a exposição "Dos materiais às diferenças internas: o metal, a madeira, o tecido e a pedra".

A curadoria educativa "Dos materiais às diferenças internas" foi pensada essencialmente para se olhar, reparar e pensar sobre a diversidade de materiais e procedimentos que formaram as principais práticas artísticas do último século. Para esta exposição foram reunidas obras dos últimos quarenta anos, tomando como ponto de partida as diferentes naturezas dos materiais empregados, buscando estimular no espectador a integração entre suas sensações e a reflexão sobre aquelas diferenças.

A exposição tirou partido do percurso arquitetônico circular do MAC, ordenando as obras em segmentos para criar uma trajetória paralela entre os materiais, seus simbolismos e as sensações que eles provocam. No primeiro segmento da exposição, as obras dos artistas Antonio Dias, Athos Bulcão, Ivens Machado, Jorge Barrão e Paulo Roberto Leal apresentavam uma multiplicidade de materiais não convencionais, introduzindo assim essa questão.

A partir dessas obras uma sequência se estabeleceu: o metal, a madeira, o tecido e a pedra. Cada conjunto de obras apresentava ao espectador diferentes usos que um mesmo material poderia assumir, sua leitura pelas qualidades físico-químicas e suas referências simbólicas. A partir do deslocamento pelo espaço, o visitante poderia costurar uma rede de relações entre as obras e seus materiais, estabelecendo as diferenças.

Assim foram organizados os segmentos e suas diferentes leituras:

O Metal (do latim metallu), elemento químico, em geral sólido, é bom condutor de calor e de eletricidade, maleável e tem grande força física. Diferentemente dos outros materiais, é dotado de brilho próprio. Na simbologia chinesa significa espada, execução e morte. Para este segmento foram reunidas obras em metal dos artistas Franz Weissman, João Carlos Goldberg, Jorge Duarte, Lygia Clark e Raymundo Colares.

A Madeira (do latim materia), parte dura ou fibrosa do tronco, ramos e raízes de uma árvore, tem a propriedade de se consumir pela combustão e serve como isolante. No vocabulário chinês, madeira – tong – significa comunhão e alegria. O segmento foi representado pelos artistas Abraham Palatnik, Farnese de Andrade, Frans Krajcberg, Gastão Manuel Henrique, Ione Saldanha e Joaquim Tenreiro.

O próximo segmento, Tecido (do latim textile), foi representado pelas obras de Artur Barrio, Cildo Meireles, Eliane Duarte, Ernesto Neto e Katie van Scherpenberg. O tecido é uma trama de fios de fibra natural, artificial ou sintética. Simboliza o véu ou aquilo que serve para cobrir e ocultar alguma coisa ou fato.

Finalizamos com as obras em Pedra (do latim petra) dos artistas Frans Krajcberg, Haroldo Barroso, Nelson Felix e Sérgio Camargo. A pedra é substância inorgânica, dura e compacta que se encontra no interior ou na crosta terrestre. Assim como as montanhas e as rochas, a pedra é símbolo de longevidade.

Buscou-se, com esta curadoria e montagem, estimular o visitante para o exercício do olhar atento, ligado às sensações, mesclando percepção e imaginação para a descoberta e apreciação da diversidade dos materiais e de sentidos internos de cada objeto artístico, onde se revelam suas diferenças. Mas como experimentar os materiais e sentir suas qualidades se não é permitido tocar nas obras dentro de um museu?

Na seqüência, então, foi criado um espaço onde o público poderia tocar nos materiais, e através da experimentação perceber suas qualidades, estabelecendo um novo diálogo com os materiais e as obras expostas. Disponibilizamos para os visitantes um “Coisário” (conjunto de coisas reunidas e guardadas em qualquer lugar formam um coisário) com objetos separados por suas qualidades materiais, assim como foram distribuídas as obras na exposição: metal, madeira, tecido e pedra. Oferecemos ainda apostilas de consulta e pesquisa mais aprofundada sobre os artistas.

Com esta curadoria inaugurou-se no MAC, dentro do próprio percurso expositivo, um local destinado ao público e à participação – o Espaço de Experiência e Leitura –, que nessa mostra se transformou em um território de experiências sensoriais com os materiais, onde coisas e objetos do cotidiano foram ressignificados através de exercícios de assemblagem. Este novo espaço transforma não só a relação do espectador com a obra de arte, mas também sua relação com o museu. O museu deixou de ser lugar de contemplação de objetos estáticos e sem vida para se transformar em lugar de criação, aproximando os visitantes dos materiais e procedimentos artísticos contemporâneos através da participação compartilhada em que se estabelecem novos significados.






'Dos Materiais às Diferenças Internas: o metal, a madeira, o tecido e a pedra', por Luiz Guilherme Vergara

Esta exposição, Dos Materiais às Diferenças Internas, é um recorte na Coleção João Sattamini-MAC, feito essencialmente com um caráter educativo. Tomou-se como princípio para seleção das obras expostas quatro diferentes naturezas de materiais: o metal - Lygia Clark, João Gold, a madeira, o tecido e a pedra. A partir de suas diferenças e proximidades, apresentamos as várias práticas e valores artísticos contemporâneos que transformam constituintes do nosso mundo, em arte.

Esta mostra nos remete também às origens dos museus: os gabinetes de curiosidade da Europa do século XVI, época das grandes navegações e dos descobrimentos. Como requisito de erudição, o "cavalheiro ilustrado" buscava então coletar objetos raros e excêntricos, apreciados pelos seus atributos artesanais ou pela preciosidade de seus componentes naturais. Assim, os europeus cultivavam o encantamento diante do estranho o exótico.

Os gabinetes de curiosidades eram coleções particulares de coisas admiráveis, um "coisário", que transportava o colecionador e seus privilegiados convidados a uma viagem no tempo e no espaço. Mesmo que, em sua maioria, essas "coisas" fossem portadoras de significados culturais internos, não reveláveis ao olhar estrangeiro, seu fascínio enigmático despertava a curiosidade e imaginação, os principais ingredientes para sua "admiração".

Ao resgatarmos as raízes dos museus, a formação das coleções e a apreciação de objetos raros de culturas distantes, buscamos despertar o visitante para o aprendizado e leitura da arte contemporânea pela estranheza, que mescla curiosidade e imaginação. São estes os componentes propostos aqui como ponto de partida para acessar as inúmeras camadas de sentidos de um objeto artístico onde se revelam suas diferenças internas.





SERVIÇO

Dos materiais às diferenças internas: o metal, a madeira, o tecido e a pedra
Curadoria de Luiz Guilherme Vergara e Marcia Müller
Data: De 4 de julho de 2000 a 15 de abril de 2001

Local: Mac Niterói
End: Mirante da Boa Viagem S/N - Boa Viagem


Tags:






Publicado em 16/04/2021

Artista portuguesa Bela Silva celebra a natureza no MAC Niterói De 06 de abril a 12 de maio
MAC apresenta 'Cinco convites a um levante', de Alex Frechette De 02 de março a 12 de maio de 2024
MAC Niterói apresenta exposição coletiva "Outras paisagens" De 06 de abril a 26 de maio de 2024
MAC Niterói abre exposição em homenagem às trabalhadoras do mar De 09 de março a 16 de junho
MAC como Obra de Arte ENCERRADA
Ocupações/Descobrimentos Antonio Manuel e Artur Barrio ENCERRADA
Arte Contemporânea Brasileira Coleções João Sattamini e MAC de Niterói ENCERRADA
Detalhes e iluminação que fazem a diferença no trabalho de Magno Mesquita Leia mais ...
No MAC Niterói, "Visões e (sub)versões - Cada olhar uma história" ENCERRADA