O Museu de Arte Contemporânea de Niterói inaugura, oficialmente, hoje, 14 de outubro de 2003, a exposição Apropriações, que tem como proposta oferecer um pequeno panorama sobre a questão da apropriação na arte brasileira. A mostra permanece na cidade até o dia 28 de março de 2004, podendo ser conferida de terça a domingo, das 11 às 18 horas.

Os artistas Cláudio Fonseca, Eliane Duarte, Farnese de Andrade, Frans Krajcberg, Ivan Cardoso, Jorge Barrão, Jorge Duarte, Nazareth Pacheco, Nelson Leirner, Sante Scaldaferri e Tunga, participam com seus respectivos trabalhos, expondo um módulo educativo, organizado de modo a oferecer ao público referências sobre o conceito de apropriação na arte moderna e contemporânea, em todo mundo.

Nesta abordagem, o artista que não pensa isoladamente traz uma constelação de histórias, relações diretas ou indiretamente entrelaçadas com sua época. O envolvimento entre os diversos campos de criação humana não são de causa e efeito, mas sim de revelações e comunicações que materializam o espírito de uma era.

Instigações entre arte e vida: isso significa alguma coisa ou é apenas arte contemporânea?

Aloísio Magalhães [1927-1982] - Sem título, 1972 - Colagem sobre madeira - Coleção João Sattamini/MAC de Niterói
O que é isso? Isso é arte? Estas são algumas das perguntas repetidas entre os nossos inúmeros visitantes, pois muitas vezes não existem distâncias aparentes entre as coisas no museu e a vida lá fora. A prática artística de se apropriar e deslocar coisas do cotidiano para o museu nos coloca diante de estranhamentos e provocações da imaginação e interpretação dos confusos limites entre arte e realidade. A exposição Apropriações, com curadoria de Guilherme Bueno, reuniu um pequeno panorama da questão da apropriação na arte brasileira a partir das coleções MAC e João Sattamini. A prática da apropriação de objetos e materiais do cotidiano para a arte modificou toda a história da arte do século XX, sendo operação decisiva para a arte moderna e contemporânea.

A arquitetura do MAC, mais uma vez, propiciou um espaço integrado entre curadoria – as obras expostas no salão principal – e educação. O público ganhou na varanda um espaço interativo e comunicativo, onde traçamos uma rede das relações históricas e artísticas ligadas ao procedimento das Apropriações, fundamental para a compreensão de seus desdobramentos na arte contemporânea. Criamos para a varanda do MAC um “curto-circuito” de experiências participativas, dividindo o percurso em três segmentos – Colagem, Assemblagem e Coleções –, acompanhados de uma linha do tempo e de uma constelação das transformações das práticas artísticas do século XX relacionadas ao procedimento das Apropriações.





No segmento da Colagem, apropriações de cartões-postais para a série de Cartemas - jogos de colagem repetindo a mesma imagem - de Aloisio Magalhães e as obras com rótulos de caixas de frutas de Ivan Cardoso nos ofereceram a oportunidade de mergulhar numa rede de referências entre as obras da coleção e a história universal da arte.

Foi através da colagem que o olhar do artista se expandiu para uma percepção imaginativa das coisas do cotidiano, reunindo simbolicamente múltiplos tempos e espaços simultâneos entre arte e vida. A partir da colagem cubista, uma das primeiras manifestações de apropriação, e seus desdobramentos no século XX, abriu-se um imenso horizonte de autonomia e liberdade de criação artística.

Farnese de Andrade [1926-1996], Anunciação, 1985. - Janela, madeira, foto, ex-voto, palmatória, oval em resina e boneco. - Coleção João Sattamini/MAC de Niterói
No segundo segmento, apresentamos o procedimento da Assemblagem, que podemos definir como uma colagem de objetos achados ao acaso ou escolhidos a partir de um critério específico. Sua origem histórica, no início do século XX, está atrelada à idéia de subversão e ambigüidade perante a sociedade industrial e o sistema de valores da arte. Na arte contemporânea esta prática assume para cada artista diferentes sentidos: seja o humor das apropriações de Jorge Barrão ou o enigma surrealista e simbólico das assemblagens de Farnese, passando pelos estranhos guardados na gaveta de Tunga e pela crítica e pelo choque criado pelo saco de pães de Artur Barrio.

Em Coleções - Coletas e Coletivos, a constelação de artistas apresentados girava em torno da instalação Objetos do desejo de Nelson Leirner, da coleção de guimbas de cigarros na obra de Marcos Cardoso e das panelas amassadas de Jorge Duarte. Mais uma vez, as apropriações entre arte e vida podem assumir os mais diversos sentidos. O ateliê do artista se torna observatório permanente do cotidiano. O artista é arqueólogo do contemporâneo, colecionador de brinquedos, de objetos de crença popular, de guimbas de cigarro e de embalagens.

Nesse território de experiências participativas, trouxemos para o visitante o direito e o acesso à experimentação de cada um destes procedimentos – colagem, assemblagem e coleções – e uma percepção expandida do mundo como obra de arte, de reencantamento ou transfiguração das coisas do mundo. Buscamos atrair os visitantes para participar junto com os artistas do jogo ilimitado de reinvenções do olhar sobre as coisas que freqüentam nosso cotidiano.

Nosso objetivo foi provocar no visitante um estado imaginativo ao ver a arte: de curiosidade perante as “apropriações e deslocamentos” entre dois mundos – arte e vida. Quando propomos atualizar os procedimentos e conceitos artísticos aproximando-os de nossa vida, do cotidiano, conseguimos uma resposta imediata de afeto do público. Pois resgatamos e damos espaço para aquilo que o público traz – ele mesmo, seu mundo e suas experiências.


Barrão - Duas obras criadas pelo artista plástico Jorge Barrão, na década de 80, vêm chamando a atenção do público que visita a exposição "Apropriações", no MAC de Niterói. Dois óleos pintados sobre geladeira e máquina de lavar roupa, que integram a Coleção Sattamini.








Instigações entre arte e vida

Isto significa alguma coisa ou é só arte contemporânea?

Esta é uma pergunta repetida entre os nossos inúmeros visitantes. Não queremos dar respostas, mas atrair a todos para participarem junto com os artistas do jogo ilimitado de reinvenções do olhar sobre as coisas que frequentam nosso dia-a-dia.

A prática artística de se apropriar e deslocar coisas do cotidiano para o museu nos coloca face a face com estranhamentos e provocações da imaginação e interpretação dos confusos limites entre arte e realidade. Não existem distâncias aparentes entre as coisas no museu e na vida lá fora. Este folder educativo pretende acompanhar o visitante com uma conversa, que chamamos "instigações entre arte e vida", a partir desta exposição - Apropriações.

Chamamos a atenção do visitante para a própria maneira de olhar para cada obra de arte como exercício de uma atitude diferente - uma percepção imaginativa. Queremos provocar nesta visita um estado imaginativo de se ver a arte: de curiosidade perante as "apropriações e deslocamentos" entre estes dois mundos - arte e vida.

Luiz Guilherme Vergara, diretor da Divisão de Arte Educação


Coleção João Sattamini - Apropriações

A estratégia de apropriação na arte - ou seja, de incorporar diretamente um elemento do cotidiano utilizando-o na construção de uma obra de arte - data do inicio do século XX, com as colagens cubistas, e tem seu marco ainda na década de 1910 com Marcel Duchamp, que fez uma escultura com um banco e uma roda de bicicleta e expos um urinol invertido com o titulo 'Fontaine' (Fonte). Operação decisiva para a arte moderna e para a arte contemporânea, a apropriação tornou-se um dispositivo emblemático no processo de rompimento com o espaço herdado do Renascimento ao indagar por que o artista deveria continuar representando ou simulando os objetos se ele os tinha à mão.

Na arte brasileira, o interesse por construir obras a partir de tal dispositivo data sobretudo dos anos 1960, seja pela "redes-coberta" mundial da produção de Marcel Duchamp, seja pela influência direta da Pop Art americana, que trazia em seu repertório objetos de consumo banais. O explícito questionamento da natureza da obra de arte na década seguinte, através de experiências vizinhas à arte conceitual, marca investidas mais incisivas sobre esse terreno em que a distinção entre o "mundo cotidiano" e o da "arte" parece maleável e movediço. Aponta, também, em alguns casos, uma postura de resistência contra aquilo visto como ligado às instituições conservadoras, tais como convenções de um modo tradicional de se entender a arte, a pintura de cavalete, a escultura como estatuária, a arte como espécie de artesania, entre outras.

Guilherme Bueno, Curador da mostra


SERVIÇO

Exposição "Apropriações"
Curadoria: Guilherme Bueno
Período: 20 de setembro de 2003 a 28 de março de 2004

Museu de Arte Contemporânea - MAC
Endereço: Mirante da Boa Viagem, s/n – Niterói RJ
Informações: 21 2620 2400 / 2620 2481


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Publicado em 05/10/2015

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