Mostra que entra em cartaz na quarta-feira abrigará obras de 180 artistas fluminenses com estilos diversos

Depois do período de obras por que passou, o Museu de Arte Contemporânea (MAC) reabre suas portas, na quarta-feira, 03 de abril de 2002, para a exposição Niterói Arte Hoje - um evento que vai abrigar trabalhos de 180 artistas fluminenses, reunindo profissionais de diferentes estilos. Os artistas foram selecionados por uma comissão de 10 curadores a partir do banco de dados virtual do Projeto Niterói Artes, da Fundação de Arte de Niterói, que conta com 500 artistas cadastrados. A mostra que ficaria em cartaz até 28 de abril, foi prorrogada até 5 de maio. Um debate com os curadores sobre a mostra será realizado no dia 25 de abril, às 17 horas, no próprio Museu.

De acordo com a diretora da Niterói Artes, Kátia de Marco, que divide a curadoria geral com o artista plástico, restaurador, crítico, historiador de arte e presidente da FAN, Cláudio Valério Teixeira, ao mapear estes artistas, intencionaram também captar conjuntamente curadores, professores, personalidades, enfim, pessoas que estão pensando, escrevendo, contribuindo para a construção do pensamento artístico na cidade.

Vertentes - A mostra visa traçar um panorama eclético da arte em Niterói e é dividida em 10 categorias, contemplando todas as vertentes artísticas, da arte paisagística às mais arrojadas experimentações da arte contemporânea, como performances, body-art, arte conceitual e arte tecnológica.

Para traçar esse perfil da atual geração de artistas fluminenses, foram convidados curadores-artistas, que também terão seus trabalhos expostos. "A ideia central é o olhar sensível do curador-artista, que pensa e escreve sobre arte e que também opera em seu universo prático. Cada um refletiu seu segmento de curadoria contaminado por sua prática artística, convidando colegas por afinidade eletiva ao seu universo de atuação e participando com seu próprio trabalho", explica Kátia.

Valéria Salgueiro e Milton Eulálio se responsabilizam pela categoria Persistência da Paisagem; Cláudio Valério Teixeira, pela categoria Transfigurações; Pierre Crapez é o curador de Mutações Pictóricas; Suzi Coralli, de Ângulos Indiretos; Vilmar Madruga, de Palavra Vista; Kátia de Marco, responsável por Território do Corpo; Atrás do Olhar está sob a curadoria de Jorge Duarte; Sobre Papel é responsabilidade de Isis Braga; Fronteiras Espaciais, de João Wesley, e Foto-Síntese, de Paulo Mattar.

Reflexão - O evento apresenta uma diversidade de olhares que evoca o questionamento, provoca a reflexão. Pierre Crapez, por exemplo, em sua categoria, apresenta instalações, objetos e quadros. Sua abordagem principal fica em torno do ofício da pintura, seja ela moderna ou contemporânea. "Valorizamos muito a questão da abstração, da cor", afirma. João Wesley, por sua vez, que é o curador de Fronteiras Espaciais, conta que, em sua categoria, através de esculturas e instalações, os artistas tratam da experiência sobre o espaço. "Nas instalações, o espectador é convidado a participar", ressalta Wesley.

Ainda entre os objetivos da mostra, Niterói Arte Hoje vai homenagear os artistas Israel Pedrosa e Ana Letycia. "Como a ideia é traçar um panorama da arte na cidade, não poderíamos deixar de falar nestes dois nomes, já que são artistas niteroienses referenciais. Já romperam fronteiras, expondo por todo o País e Exterior", esclarece Kátia de Marco.


Serviço

Para quem quiser conferir a exposição e ainda apreciar a arquitetura do MAC, o endereço é Mirante da Boa Viagem, s/n-Boa Viagem, Niterói.
O horário de funcionamento é de terça a domingo, das 11 às 19 horas, até dia até 5 de maio.
Os ingressos saem a R$2. Estudantes com carteirinha pagam meia entrada. Idosos maiores de 65 anos e crianças com até 7 anos de idade não pagam.
Um debate com os curadores sobre a mostra será realizado no dia 25 de abril, às 17 horas, no próprio Museu.





Categorias


Persistência da Paisagem

Traduzir o meio ambiente em formas e cores é uma prática tão remota quanto a própria cultura humana. Desde a vida em cavernas, um esforço dirigiu-se tanto à sobrevivência mais imediata quanto a uma arte rupestre, dando vazão aos temores e fantasias do homem.

Lendas e histórias dos antigos inspirou, depois, muitos artistas que conceberam raras paisagens de um mundo idealizado, povoado de deuses pagãos e seres míticos. Preservadas da devastadora ação do tempo, paisagens murais alusivas às viagens de Ulisses, por exemplo, atravessaram os tempos medievais de misticismo cristão, quando a paisagem tornou-se meramente uma referência genérica de lugar às cenas bíblicas, em pinturas destinadas a evangelizar.

Não obstante, um interesse inusitado pelo aspecto das coisas, por sua aparência física, desenvolveu-se no chamado mundo moderno, cuja idade mais ou menos coincide com a do nosso próprio país. Uma atenção cada vez maior à paisagem foi brotando do trabalho de artistas interessados no ambiente em si, com suas imperfeições e singularidades, independentemente da condição de mero suporte cênico à narrativa de histórias e mitos concebidos pela Imaginação humana. Tudo isso confluiu para o naturalismo do século XIX, impulsionado pelo avanço da ciência e por um certo desconforto que a vida urbana trazia consigo, quando o campo tornou-se um refúgio e a natureza, ela própria, um mito.

O paisagismo reativo ao mundo urbano capitalista manifestou-se também entre nós, ao final do século XIX, e Niterói teve nele um papel muito importante, revolucionário mesmo. Abrigando o grupo de paisagistas conhecido como Grupo Grimm, o bairro da Boa Viagem e redondezas de Niterói viu nascer das cores de seus pincéis as primeiras paisagens naturalistas brasileiras, numa arte que reverencia, acima de tudo, o mundo físico, visível: o mar, o areal, a restinga, as montanhas, a mata, a luz. Desde então Niterói tem sido generosa para com a arte brasileira: gerações de paisagistas se sucedem ao longo de todo o século XX, numa vitalidade que parece nunca se esgotar.

O repertório de nossos artistas ampliou- se e diversificou-se, incorporando, em suas composições, barcos de pesca, cais, estaleiros, vistas de igrejas e o patrimônio arquitetônico, inclusive o moderno. Surgiram novos recortes e a consciência ecológica engendrou também novas sensibilidades, produzindo novos olhares. Numa atividade que reúne amor à natureza, consciência histórica e pesquisa de técnicas e materiais artísticos, novas tendências afirmam-se aqui e ali entre nossos artistas paisagistas, revelando inclusive a percepção crítica da vida urbana, hoje tão complexa, e até mesmo um certo sarcasmo tipicamente contemporâneo.

O termo paisagem alargou-se - arte de paisagem refere-se agora à paisagem preservada, à paisagem urbana, à paisagem noturna, à paisagem social etc. Enfim, tudo é paisagem, e tudo atrai o olhar que observa, sente e dá forma e cor ao que se passa, no mundo real ou inventado de cada artista. Niterói permanece sendo uma cidade de paisagistas. O tempo segue o seu curso e, na cidade, constatamos a "persistência da paisagem".

Curadores: Valéria Salgueiro Milton Eulálio
Artistas: Aldo de Paula Fonseca, Antônio Machado, C. Malheiros, Carmo Soá, Cavalcante, Corrêa Camargo, Costa Filho, Gelson Luiz, Giovanni Gargano, Glauco Bienenstein, Idalina Mercante, Jesus, João Cury, Marcelo Duprat, Maria Sá, Mário Reis, Maurício Machado, Milton Eulálio, P. Sodré, Rafael Vicente, Raphael Medeiros e Valéria Salgueiro.


Transfigurações

Transfigurar, mudar, alterar e interpretar foram sempre, desde o inicio da arte moderna, os principais enfrentamentos a que se dedicaram as criadores da arte de nosso tempo. A partir do impressionismo, mais notadamente baseado no fauvismo, a arte, tendo a natureza como fonte, busca a reinterpretação com a exacerbação de formas, a dinâmica de linhas, a instigação do psiquismo ou a radicalização política.

Foi assim no expressionismo, quando artistas, marcados pela tragédia, pela ironia, pelo simples lirismo, ou até mesmo pela sexualidade, transformaram a arte e sua linguagem em ferramental político ou, muitas vezes, em código estético para traduzir um mundo em guerra.

E esta tendência artística, tendo mesmo sofrido radicais transformações na sua origem, mostra vigor e ainda ímpeto ao conquistar o tempo histórico, e servir criticamente à sociedade atual.

O grupo de artistas de nossa cidade, reunidos nesta exposição sob o segmento Transfigurações, é uma mostra do caráter que pode assumir hoje o viés expressionista: do realismo critico a uma feição fantástica, do lirico ao sensual, de uma força primitiva a uma figuração dramática, pós-moderna e contemporânea. Claro está, e nem é possível neste pequeno grupo de artistas, abarcar todos os prismas deste olhar na arte de hoje em Niterói, mas são exemplos de um nicho que ainda perdura, artistas que procuram a brutalidade da emoção, como a desejar transfigurar o mundo e a realidade em que vivem e criam.

Em um mundo que se pretende anódino e linear, e na verdade se mostra cada vez mais injusto e cruel, nesta passagem de milênio, a arte encontra terra fértil para reivindicar a expressão como meio crítico, um modo dionisíaco de retratar a sociedade.


Curador: Cláudio Valério Texeira
Artistas: Adalton Lopes, Andréa Facchini, Bonifácio, Cândida Boechat, Cláudio Valério Texeira, Fernando V. da Silva, Frederico Carvalho, Hugo Richard, Kazuo Iha, Luiz Alberto Simões, Moema de Castro, Rita Manhães, Sérgio Ricardo e Vidinha


Mutações Pictóricas

As mutações na natureza são manifestações visíveis de uma vitalidade profunda, que resultam em uma infinita diversidade. Mutação é pujança de vida para nossos olhos. A pintura também apresenta este caráter vital no decorrer da sua história. Suas mudanças não são apenas testemunhas das constantes transformações do nosso mundo como são também elementos constitutivos dessas transformações.

No século XX, ao conquistar sua autonomia e especificidade enquanto linguagem, a pintura apresentou-se de forma radicalmente nova e diversificada. Rompendo com a mimesis e com o espaço perspectivado do classicismo, ela construiu seu próprio território. Nele a cor, tradicionalmente reduzida ao estatuto da coisa designada, alçou voo para finalmente se impor como potência, ventre de imagem. Mas ao quebrar as molduras do passado e ao dar asas às cores, a arte moderna também operou dialeticamente restituindo-lhe sua substância.

Na modernidade a matéria-prima da cor jorra da mão do pintor ao encontro do suporte agora entendido não mais como campo imaginário, mas como "concreção". Com isso o suporte tradicional da pintura adquiriu novos formatos, maior diversidade, chegando mesmo a incorporar colagens e inserções. A nova pintura quis assim estreitar seu diálogo com a vida em suas várias instâncias, dialetizando imanência e transcendência, condição do exercício da liberdade. Liberdade distante das cercas impostas por preceitos rígidos e estáveis, liberdade essa agora devolvida ao fruidor entendido como um criador de sentidos.

Mutações nas modalidades do facto pictórico, na imagética, na ênfase dada aos significantes, na qualidade do suporte, na relação da pintura com seu fruidor, mas mutação também nos últimos anos, no diálogo da pintura com outras linguagens e meios artísticos.

Nesta mostra podemos constatar que tais mutações universais, não somente ecoaram como germinaram na arte feita aqui em Niterói, incorporando nossas particularidades e refletindo uma dinâmica própria. Neste segmento, Mutações pictóricas, constatamos a passagem para a abstração, a emancipação de cor, as novas qualidades substanciais da pintura, mudança na qualidade e no formato do suporte. Ora apontando para a pintura objeto, aproximando-se da escultura, ora revelando a poética do seu processo e de sue instrumentação.

Tais mutações redimensionam nosso conceito de pintura, ampliando seu campo de investigação e fruição, e suscitam um alargamento da nossa sensibilidade com o mundo contemporâneo. A pintura como produto social busca estabelecer o diálogo com a vida, um diálogo in-tenso e pro-fundo. Ela é signo do nosso devir, o poço onde se reflete nossa humanidade em constante mutação.

Curador: Pierre Crapez
Artistas: Adilson Figueiredo, Bernardii, Cláudio Pegorin, Cristina Fernand, Denize Torbes, Eda Miranda, Fábio Innecco, Fasano, Ílcio Lopes, Josete Cherene, Luciana Kanbach, Luzia Velloso, Mário Pagnuzzi, Patrícia Freire, Paulo Ferrari, Pierre Crapez, Renato Zveiter, Roberto Ferreira, Roland Urbinati e Xico Xagas



Ângulos Diretos

A geometria inunda nossas vidas... Ângulos constroem corpos opacos e brilhantes, em telas, paredes, espaços... Infinitos sonhos rodam 90 graus, como sombras-cor e derramam-se na superfície plana.

Somos construtores de espaços latentes em eterna Expansão. Somos tinta, pincel e tela...ainda? Sempre. Assim olhamos o futuro com olhos de quem sabe que o amor-pintura é simplesmente eterno. A feliz ideia deste encontro revela, o compromisso de nossa cidade para com a geometria... Pura ou mesmo impura, por que não? Somos agentes de ideias e conceitos... Somos cúmplices na esperança eterna na pintura. Estamos, agora, pintando... Sempre estivemos...

Nesse encontro de poéticas, a certeza de um novo espaço.

Curadora: Suzi Coralli
Artistas: Alexandre Heizer, Cristina Luna, Desirée Monjardim, Edson Nosde, Fernando Borges, Giane Corrêa, Jhone Mariano, João Grijó, Larissa Long, Luiz Carlos de Carvalho, Maria Cherman, Maria Líbia, Maria Lúcia Maluf, Mauro Nunes, Norma Mieko, Suzi Coralli, Thereza Amaral e Thereza Brunet


Palavra Vista

"Instalarei a palavra no mundo e o sal vai preservar-me", disse o poeta.

A crise da imagem instalada no miolo da modernidade assinala o surgimento de alguns melos de expressão que já não utilizam o mundo denso e material em que vivemos para fundar sua poética nos códigos do pensamento e da fala. Nesta retórica, a palavra vista cumpre solene seu oficio de mediadora entre a vida e a arte, traçando territórios de convivência entre identidade cultural e experiência estética.

Neste módulo, reuniu-se uma pequena, mas significativa safra de artistas que voltam seus interesses para esta fala. É interessante observar como universos pessoais e trajetórias tão diferentes são capazes de levantar questões éticas e estéticas, de cunho social ou antropológico, usando tão somente os desdobramentos visuais da escrita.

Aqui a palavra surge, não como ilustração de um conceito, mas para assinalar um discurso poético. Ergue-se na sua essencialidade para cumprir o papel da utópica provocação a que tanto tem aspirado a arte contemporânea.

Curador: Vilmar Madruga
Artistas: Carlos Eduardo Borges, Edson Barrus, Grupo Ponte Seis, Ítalo Bruno, Kátia Jacobson, Lauren Cunha, Leonardo Guelman, Pedro Paulo Domingues, Rosana Ricalde e Vilmar Madruga


Território do Corpo

Receptáculo de estímulos, território dos sentidos, o corpo é a dimensão para todas as artes. Como canal da sensibilidade e do intelecto, na realização e na fruição da obra de arte, como alusão sígnica, no uso de adereços, enquanto escrita de si e da cultura, ou na expressão corporal, o corpo, é ainda, intérprete tátil. No prazer e na dor, o corpo e o espírito estão unos e indivisíveis enquanto há vida.

A extensa abertura no olhar ao corpo, neste segmento de curadoria, é mero reflexo, sintonia, com a ambiência plural desta exposição.

Artistas nos falam através do corpo como próprio suporte da arte em performances que abordam esferas do supra-real e da sensualidade. Outros mergulham na experiência matérica, utilizando-se ou aludindo aos próprios elementos do corpo, como sangue ou lágrimas. Alguns suscitam erotismo, vitalidade ou morbidez em desenho, fotografia, pintura, ou como temática de suas instalações. Tecidos, máscaras e pinturas corporais remetem-nos à esfera decorativa, falseadora e sedutora da segunda pele.

Outra questão, sublinhada aqui, é o corpo mediado pela tecnologia. Traduzido pela linguagem videográfica e da computação gráfica, o corpo é ressemantizado em dimensões que evocam universos imagéticos e sensórios inéditos, instaurados pela ilimitada abertura da tecnologia digital.

O corpo, clássico paradigma da arte, território efêmero em constante metamorfose, renova-se na busca incessante da redescoberta dos nossos sentidos de sempre, mediante a contaminação com o outro a provocação do diálogo surge como essência da arte e da vida.

Curadora: Kátia de Marco
Artistas: Anderson Leitão, Angela Savino, Antônio Pinheiro, Daniela Bado, Dionisio, Edmilson Nunes, Guto Nóbrega, Hélio Carvalho, Izabela Pucú, Karen Aune, Kátia de Marco, Keiko Mayama, Leila B., Luciano Vinhosa, Lylian Berlim, Márcia Gonçalves, Mário Benício, Orestes, Paulo Formaggini, Ricardo Ramos e Umberto França


Atrás do Olhar

Atrás de olhar. Este é o local estratégico onde a maioria dos artistas visuais contemporâneos gosta de estar quando elabora suas obras. Estar atrás dele não significa, porém, negá-lo. Estar ali permite, no entanto, ultrapassar a mera identificação subjetiva com o "belo" a ser produzido, a pura motivação visual para a elaboração da obra, rejeitando aquilo que Marcel Duchamp classificaria como obra retiniana, em sua recusa do formalismo.

Da radicalização das ideias duchampianas, dentre outras coisas, derivaria o conceitualismo, que colocou em segundo plano a visualidade para destacar a ideia, o conceito. A pop art se serviria também do acervo de ideias duchampianas, especialmente a do ready-made, com seu recurso à apropriação de coisas para constituir a obra. Só que apostando numa visualidade vibrante e na reabilitação da representação figurativa, sem privilegiar o conceito.

A fusão destas duas vertentes impregna a obra de muitos artistas brasileiros contemporâneos que formulam conceitos sem negar o apelo ao olhar e vice-versa - como uma tendência permanente desde os anos 1970. Lembre-se de como a pop art ganharia no Brasil um acentuado sentido critico, e de multas obras conceituais as de Cildo Meireles, por exemplo - que exprimem conceitos a partir de soluções visuais magistrais. Jac Leirner, de uma geração mais recente, pode ser um outro exemplo.

Os artistas, reunidos por mim para o setor Atrás do Olhar desta mostra, enquadram-se de alguma maneira nesta tendência. Contudo, não há entre eles unidade visual ou conceitual. Usam materiais e procedimentos diversos e tratam de questões ligadas à ecologia, à história e ao sistema da arte, ao tempo, à cultura popular, entre outras.

Unem-se por essa preocupação de se situar atrás do olhar sem perdê-lo de vista, para criar obras que o afirmam e ultrapassam. Alguns poderiam estar, também, em setores diversos nesta mostra, do mesmo modo que este aqui poderia abrigar artistas cujas obras se adaptaram melhor a outros, que tratam de questões mais especificamente ligadas a elas.

Curador: Jorge Duarte
Artistas: Claudio Paiva, Eudoro Carson, Felipe Barbosa, Helio Branco, Jarbas Lopes, Jorge Duarte, Jorge Soares, Márcio Ramalho, Marcos Cardoso, Marilú S. Bueno e Nivaldo Carneiro


Sobre o Papel

Papel: subst. masc. (latim papyrus; grego papurus) antigamente papiro. Folha seca e estreita, feita com diversas substâncias vegetais reduzidas a pasta, servindo para escrever, imprimir, embrulhar, etc. LAROUSSE du XXe SIÈCLE. Paris, Maison Larousse.

Segundo esta definição, sobre o papel pode-se escrever, pode-se imprimir, pode-se desenhar: sobre o papel faz-se arte. O artista exprime-se através de inúmeras formas e utiliza os suportes mais variados, entre eles o papel.

A arte é expressa pelo homem em forma de linguagens visuais, que são baseadas na observação e percepção das coisas. Na observação, as imagens chegam ao cérebro via luz, que é filtrada através do aparelho ótico humano. A percepção é o resultado das informações recebidas através dos sentidos: visão, tato, olfato, sabor e audição e se processa no cérebro.

A área de linguagens visuais que nos interessa aqui é a área gráfica: o desenho e a gravura. Desenho é a representação gráfica que utiliza materiais diversos do universo do artista. Para tal ele utiliza, principalmente, o papel como suporte.

Em sua trajetória o artista passa por várias etapas, e estilos, mas o desenho é uma das mais importantes; alguns permanecem fiéis a ele para sempre, ou passam a fazer gravuras - xilo, metal ou litografia. São artistas gráficos, desenhistas, gravadores, cartunistas, aquarelistas, ilustradores, designers. Usam o papel como suporte, de diferentes qualidades, gramaturas, cores, ou até mesmo o utilizam como meio - a exemplo das colagens de Bracque e Picasso. Nesta curadoria "Sobre o Papel" selecionei artistas atuantes em Niterói, que utilizam o desenho e gravura como meio de expressão.

Curadora: Isis Braga
Artistas: Alice Cavalcanti, Ana Lucia Rubens, Ana Miguel, Emanuel Monjardim, Fernando Dantas, Galan Gian Shimada, Guilherme Bedran, Isis Braga, Laércio Zander, Lea Hasson Soibelman, Lourdes Machado, Luiz Antônio Lopes, Luiz Felipe M. Fonseca, Mariana Manhães, Mário de Andrade, Mauricio Kiffer, Newton Cavalcanti, Origenes, Pablo Damásio, Ricardo Queiroz, Salazar, Sergio Marques, Sérgio Torres, Sonia Ota, Vera Bueno, Verônica Valle, Werner Kubelka e Zé Igino.


Fronteiras Espaciais

"Coisas realmente surpreendentes têm recebido a denominação de escultura: corredores estreitos com monitores de TV ao fundo; grandes fotografias documentando caminhadas campestres; espelhos dispostos em ângulos inusitados em quartos comuns; linhas provisórias traçadas no deserto. Parece que nenhuma destas tentativas, bastante heterogéneas, poderia reivindicar o direito de explicar a categoria escultura. Isto é, a não ser que o conceito desta categoria possa se tornar infinitamente maleável. " (Rosalind Krauss)

Em 1984, Rosalind Krauss levantou esta questão no seu texto "Escultura no campo ampliado". Dezoito anos depois, ao observarmos as obras tridimensionais reunidas para um evento, que em parte, pretende traçar um perfil para a produção artística de Niterói, constatamos a resistência e a atualidade de tal enunciado.

Como podemos perceber, ao caminharmos pelo espaço destinado a este eixo curatorial, não encontramos mais, em grande quantidade, as ditas "esculturas". Poucos artistas ainda insistem bravamente neste meio, como via de expressão para a sua poética. Configurações espaciais, que convidam, relacionam e inscrevem o corpo do fruidor, rompem com a observação passiva do visitante, exigindo dela a sua efetiva participação. A interação entre o corpo e a obra abre espaço para novas imbricações que tencionam o universo das sensações com o da cultura, propiciando, deste modo, o surgimento de noções renovadas, que se fundamentam na experiência.

A partir da observação desta cartografia explicitada pelo referido evento, por amostragem, delineamos um traçado que nos permite, em tese, algumas considerações: poderíamos afirmar que a questão da escultura vem ultimamente, deslocando seu foco da natureza estrutural e matérica do espaço, para incluir no seu bojo, inquietações advindas da expansão da experiência da arte que ultrapassem os limites da categoria e da internalidade da escultura como linguagem.

Os conceitos que dizem respeito "exclusivamente" à linguagem escultórica não são mais suficientes, como fim para a mesma. Nesta recente contextualização do espaço, a carga semântica dos materiais empregados na construção do poema visual, o potencial da forma enquanto elemento significante, o valor biográfico e afetivo em se tratando de objeto aplicado, assim como a atitude do artista presente no deslocamento de materiais da banalidade do cotidiano para a esfera da arte trata de reconectar o laço rompido com o mundo, durante a dominação dos paradigmas modernizantes. Atualmente as imagens tridimensionais encontram- se em uma expansiva contaminação com o mundo. Neste novo lugar, a vida e a obra, agora se inscrevem.

Curador: João Wesley
Artistas: André Amaral, Anete Fernandes, Carlos Van Der Ley, Chang Chi Chai, Eliane Carrapateira, Graziella Andreani, Helenice Bueno, João Wesley, José Augusto Lagoeiro, Marcelo Caldas, Mauricio Bentes, Ricardo Campos, Robson Martins, Rosita Rocha e Tay Bunheiráo


Foto Síntese

Segundo o Aurélio, uma das definições para síntese é "agrupamento de fatos particulares em um todo que os abrange e os resume". Se no lugar de fatos tivermos fotos, essa abrangência e esse resumo falam muito bem das intenções desta exposição.

Aqui, abranger significa ir dos atuantes fotógrafos ligados à Sociedade Fluminense de Fotografia aos poucos que utilizam linguagens contemporâneas na cidade. Dos que têm uma longa e premiada carreira como amadores aos que encontram espaço em meio à atribulada vida profissional de fotógrafo para produzir seus projetos pessoais.

Resumir, neste caso, é buscar dentro da obra de cada fotógrafo a essência do seu olhar, do seu pensamento, sem compromisso com ineditismo, sem nenhuma intenção de criar rótulos, mas de oferecer ao público o mais significativo do artista. Resumir, obviamente, também significa excluir, et muitos vão se perguntar "onde está aquela foto fantástica que ele fez em mil novecentos e alguma coisa?"...

No Aurélio, fotossíntese quer dizer "síntese de um composto por meio da luz". Se pensarmos a luz não só como elemento essencial à foto, mas também como ideia, insight, estaremos incluindo todas as obras dessa mostra, das fotos de estúdio aos trabalhos híbridos que unem a fotografia a outras técnicas, das clássicas paisagens às pesquisas de linguagem.

Curador: Paulo Máttar
Artistas: América Cupello, Antônio Machado, Candido José Mendes de Almeida, Carlos Eduardo Pilotto, Chico Nascimento, Davy Alexandrisky, Décio Brian, Eliane Heeren, Fatima Marchi, Flávia Lage, Hebert Macário, Luiz Edmundo de Castro, Magno Mesquita, Marcelo Celeste, Marcelo Ribeiro, Marie Iwakiri, Martha Panzzera, Mauricio Bueno Seidl, Paulinho Muniz, Paulo Duque Estrada, Paulo Henrique Borges, Paulo Máttar, Pedro Karp Vasquez, Thiago Barros, Vicente de Mello e Zalmir Gonçalves


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Publicado em 04/08/2023

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