"Landscape", produzida pelo British Council, leva a nata da cena contemporânea inglesa a Niterói

Uma das tradições mais antigas da história da arte, a paisagem, é reinterpretada por artistas britânicos ou residentes na Inglaterra na exposição "Landscape", primeira grande mostra internacional a ocupar o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, a partir de amanhã, 25 de agosto de 2001.

O palco é mais do que adequado, já que o disco-voador projetado por Oscar Niemeyer que está prestes a completar seu quinto aniversário é emoldurado por uma das mais belas paisagens do mundo, a Baía de Guanabara.

A exposição produzida pelo British Council tem curadoria de Ann Gallagher, uma das mais importantes críticas inglesas contemporâneas, e apresenta trabalhos em diversas mídias - há desde vídeo, instalações pinturas, passando por instalações, fotos e esculturas.

A mostra reúne mais de 40 trabalhos, oferecendo, pela primeira vez, ao público brasileiro a possibilidade de conferir a reconhecida inventividade de artistas como Julian Opie, Ross Cinclair, Paul Noble, David Rayson, Tânia Kovats, Rachel Lowe, entre outros. Em sua seleção, a curadora reúne não só artistas ingleses, mas vários estrangeiros residentes no país, caso do alemão Wolfgang Tillmans, que ganhou o prestigiado Prêmio Turner, da Tate Gallery, no ano passado.

Apesar da tradição de retratar a paisagem como cenário idílico - casos do inglês J.M.W. Turner (1775-1850) ou ainda do alemão Caspar David Friedrich (1774-1840), influências declaradas dos artistas na mostra -, o que se vê é um olhar nostálgico, de lembranças remotas da natureza no caos urbano.

O percurso da mostra começa com obras vinculadas à forma contemporânea de olhar a paisagem, ou seja, nas viagens feitas por carro, avião ou trem. Segue com as imagens ambíguas sobre o tema e termina com as obras irônicas de David Shirgley. "O bom humor sempre deve estar presente numa exposição com ingleses", afirma a curadora.

Tillmans comparece com imagens da série "Concorde", de 1997. Apenas nove fotografias do artista estão na mostra. "Elas foram selecionadas pelo próprio Tillmans, que também idealizou a forma expositiva das obras", diz Gallagher. Elas estão envoltas em um painel de acrílico. Em geral, as fotos de Tillmans são pregadas diretamente na parede.

"Narrow Stage", da artista alemã radicada na Inglaterra Rut Blees Luxemburg - 1998
A dualidade entre realidade e aparência é explorada por vários artistas. Mat Collishaw, por exemplo, em sua série "Flores Infectas", apresenta fotografias de flores que receberam tumores cancerígenos humanos por meio de tratamento da imagem. De longe são apenas belas flores, de perto, sinais de desvio e decomposição.

Ambiguidades também estão presentes nas imagens de Rut Blees Luxemburg. A artista alemã capta restos da natureza no cenário urbano. Muitas vezes, as árvores de ruas vazias e quarteirões desolados de Londres, ou uma poça da água são as referências da natureza para os artistas.

Há peças de humor minimalista, como "Imagine the green is red", de David Shrigley e outras que brincam com efeitos opticos, como "Who killed cock Robin", de Mat Collishaw, que mostra crianças liliputianas em meio a flores socorrendo um pássaro morto.

O casal Bob and Roberta Smith homenageia Turner com barquinhos de concreto. No vídeo, vão a pique. Talvez, uma irônica leitura das esfumaçadas batalhas navais pintadas pelo mestre.

Julian Opie faz chapadas paisagens com acrílico, sem a desenvoltura que David Hockney tem com este tipo de tinta. Opie sintetiza montanhas, nuvens, prados em simples curvas e retas.

Ross Sinclair, por sua vez, brinca, num vídeo, com a tão decantada paisagem escocesa, ao som do hino nacional da região e de outras canções patrióticas. Um sujeito, sentado, mira o panorama da ilha de Eigg, com as palavras real life (vida real) gravadas nas costas nuas. É possível que Sinclair deseje desencantar um clichê, como existe o de Veneza, embora, no caso desta cidade, todos os clichês - do gondoleiro ao cheiro - sejam, por paradoxo, verdadeiros. Salões ingleses revelaram vedetes recentes das artes

A mostra apresenta ainda paisagens de Peter Doig: cenas com neve, utilizando uma perspectiva maneirista, quando imaginava-se que, depois do cubismo, jamais isto reapareceria numa pintura.

Artistas - Bob Smith, Roberta Smith, David Rayson, David Shrigley, Julian Opie, Keith Coventry, Mariela Neudecker, Mat Collishaw, Michael Raedecker, Paul Noble, Paul Winstanley, Peter Doig, Rachel Lowe, Ross Sinclair, Rut Blees Luxemburg, Siobhán Hapaska, Tacita Dean, Tania Kavats, Willie Doherty e Wolfgang Tillmans





Serviço

Landscape: Paisagem, uma visão contemporânea
Curadora: Ann Gallagher, British Council, Londres
Datas: 25 de agosto a 7 de outubro de 2001

Local: Museu de Arte Contemporânea de Niterói-MAC
End: Mirante da Boa Viagem, s/n
Tel: (21) 2620 2400/2481


Tags:






Publicado em 18/08/2023

MAC como Obra de Arte ENCERRADA
Ocupações/Descobrimentos Antonio Manuel e Artur Barrio ENCERRADA
Arte Contemporânea Brasileira Coleções João Sattamini e MAC de Niterói ENCERRADA
Detalhes e iluminação que fazem a diferença no trabalho de Magno Mesquita Leia mais ...
No MAC Niterói, "Visões e (sub)versões - Cada olhar uma história" ENCERRADA
Estratégia: Jogos Concretos e Neoconcretos ENCERRADA
Exposição "A Caminho de Niterói", no Paço Imperial ENCERRADA
Exposição '!Mirabolante Miró!' no MAC Niterói ENCERRADA
Exposição no MAC comemora os 90 anos de Oscar Niemeyer MEMÒRIA