Exposição mostra fotografias de ambientes concebidos por arquitetos de interiores do eixo Rio-Niterói

Até o dia 16 de junho de 2002, o público pode visitar a exposição Interferência, que reúne fotografias de ambientes concebidos por 33 arquitetos de interiores do eixo Rio-Niterói. A mostra aborda o convívio harmônico de objetos artesanais com espaços projetados e peças de design consagradas internacionalmente.

A exposição tem a curadoria de Janete Costa, e as fotos são de Leonardo Costa e Denilson Machado, que mostram a inserção artesanal de forma prática e criativa. Alguns dos objetos fotografados também poderão ser vistos na mostra, que está no subsolo do Museu de Arte Contemporânea de Niterói.

Interferência mostra o trabalho de marceneiros, ferreiros, gesseiros e artistas populares que trabalham com cerâmica, palha e vidro, inseridos em consagrados ambientes e foram selecionados pela curadora da mostra que para escolher os profissionais envolvidos na mostra, levou em consideração a criatividade e as soluções práticas para a materialização do "móvel", da concepção à produção final.

"A exposição traz como consequência a possibilidade concreta de incrementar produção, distribuição e comercialização de produtos/objetos artesanais, concorrendo para a inserção das comunidades de artesãos e artífices em propostas de incremento de renda, integrando-os de forma definitiva na economia nacional. Este incremento se dará na medida em que o consumidor passar a se interessar pelos produtos artesanais que foram contemplados com interferências, ou apenas com a sua inserção num contexto diferente, num espaço criado por um arquiteto de interiores", diz a curadora.

Artistas participantes: Andrea Spelzon; Aparecida Barreto & Valéria Cardona; Bruno Madeira; Chicô Gouvêa; Cláudia Lemos; Cristina Grossi; Delfim Carvalho & Patrícia Toranzo; Eduardo Ary Parreiras & Roberta Devisate; Eduardo Lins; Elisa Latgé; Fátima de Abreu; Fátima Muniz; Fernanda Pessoa de Queiroz; Geraldo Lamego; Helena Costa & Cristina Fellows; Ivan Rezende; Julinha Serrado; Luiz Fernando Redó & Carlos Hansen; Lycia Maia, Marcela Sertã & Fabiana Bazbuz; Luiz Marinho; Mário Santos; Mariza Magrani; Martha Dzelme; Mauricio Nóbrega; Mônica Crespo; Mônica Geronimi; Paola Ribeiro; Patrícia Marinho; Paula Neder & Alexandre Monteiro; Ricardo Campos; Sol Figueiredo; Thereza Betânia de Assis Pereira; Wair de Paula & Eduardo Machado

Equilíbrio entre criatividade e espaço

A criatividade pode não ter limites. Mas os espaços físicos certamente os têm. Encontrar o equilíbrio entre as ideias e as paredes é tarefa para decoradores e arquitetos. Eles criam verdadeiras obras de arte que preenchem o ambiente com bom gosto e originalidade.

A decoradora de interiores Andréa Spelzon e o arquiteto Pedro Lima contaram com as mãos hábeis de Lúcia Gerrard para dividir um espaço amplo de uma sala de estar e de jantar. Lúcia criou uma escultura de aço escovado com círculos vermelhos que caiu como uma luva num espaço vazado de uma parede, projeto idealizado por Spelzon. A obra realçou as cores exploradas na decoração.

"Tinha que encaixar algo esse nicho criado na parede. A escultura ficou levíssima conta Spelzon. A arquiteta Martha Dzelme idealizou um móvel de madeira com dupla função, criado pelos artesãos da Arka II Móveis. A peça faz a divisória entre o hall de entrada da casa e a sala de jantar e serve de aparador para a sala de refeições. "A sensibilidade do artesão em interpretar as plantas conta", diz Martha.

A arquiteta Cláudia Lemos também projetou um móvel para uma portaria. A ideia foi concebida pelos artesãos da 4 Meninos. Na peça de madeira, há estantes de vidro. Os arquitetos Delfim Augusto de Carvalho Filho e Patrícia Toranzo trabalharam em parceria com o artesão Beton. O resultado foi um bar temático sobre aviação. "O espaço era pequeno e a gente queria dar aos clientes a impressão de que eles estivessem num avião. Um pedreiro não faria o mesmo", diz Carvalho. O bar tem uma pequena réplica de uma aeronave montada no teto. As peças usadas são sucatas de avião.

As mesas, por sua vez, são destaque. O artesão Alexandre Ribeiro criou mesa de centro em madeira para a arquiteta Cristina Grossi. "Participar desta exposição é uma forma de realização profissional", comentou Cristina. "Estou achando interessante a iniciativa pela divulgação e pelos contatos. Além disso, posso ver o trabalho de outras pessoas", completou Alexandre.

O corte do mármore, feito pela Ponto Alto Marmoraria, para a mesa da sala de estar chama a atenção no ambiente assinado pelas arquitetas Lycia Maia, Marcela Sertã e Fabiana Bazbuz. Mário Santos usou mesa com base em ferro feita pelos artesãos Amilton e Fertriaggi. Já os arquitetos Eduardo Ary Parreiras e Roberta Devisate optaram pela mesa de centro em madeira do artesão Cézar Dal Bianco.

A sala de estar de Mônica Crespo conta com escultura de parede em cerâmica feita por Reynaldo Ventura. Já a elaborada pela arquiteta Julinha Serrado conta com totem em madeira do escultor Itamar, de Cachoeira dos Brumados (MG). Luiz Fernando Redó e Carlos Hansen usaram potes em madeira criados pelos índios do Acre. Maurício Nóbrega preferiu um jacaré em palha de artesão desconhecido. Thereza Betânia de Assis Pereira usou garrafas em cerâmica do artesão Sami. Paula Neder e Alexandre Monteiro introduziram no projeto leão em cerâmica do conceituado artista Nuca, de Tracunhaém (PE).

As salas de jantar elaboradas pelas arquitetas Paola Ribeiro e Patrícia Marinho ganharam objetos de artesão desconhecido. Paola usou escultura de parede em madeira e Patrícia preferiu mesa com base de ferro.

Os escritórios elaborados pelas arquitetas Elisa Latgé e Fernanda Pessoa de Queiroz ganharam mesas em madeira, confeccionadas, respectivamente pelos artesãos Oswaldo Tenhasoria e Jorge Zuccolotto. "É uma peça exclusiva. Hoje em dia o cliente procura por exclusividade e bom acabamento", explica Elisa. Já o escritório concebido por Wair de Paula e Eduardo Machado contou com cadeira com detalhes em palha, característicos do artesanato indígena.

A Aires Metalúrgica empregou o ferro na escada interna criada pelo arquiteto Ricardo Campos. A cama de casal do quarto elaborado por Fátima Muniz ganhou almofada em miçangas da artesã Beatriz. Para dar um toque especial aos jardins do recém-restaurado Solar do Jambeiro, o paisagista Eduardo Lins introduziu vasos criados pela artesã Mônica Carvalho. "Dentro do jardim do Solar do Jambeiro, coloquei dois jarros grandes trabalhados com sementes e frutos", conta Lins.

Os restaurantes também contam com a grata interferência artesanal. A arquiteta Sol Figueiredo mostra como usou as peças em ferro do artesão Fred. Para dar melhor acabamento à portaria de um prédio, a arquiteta Cláudia Lemos contou com balcão em madeira dos 4 Meninos.

Integração definitiva

Janete Costa afirma que objetos e produtos convivendo em harmonia com espaços projetados e peças de design consagradas internacionalmente abrem novas perspectivas internas e externas para sua utilização, valorizando-os e destacando-os. Para que isso aconteça, os artesãos devem se "apropriar" das interferências induzidas ou sugeridas, adotando-as como parte integrante de suas criações.

"Essas ações, ou releituras de determinadas peças de artesanato utilitário, poderiam fazer aflorar características de contemporaneidade e universalidade as peças produzidas, sem, no entanto, descaracterizar seus atributos originais de criatividade. Teríamos, assim, autênticos exemplos de design vinculados a nossas raízes culturais e de arte popular", garante Janete.

A implantação desses projetos, segundo a curadora, desencadeará um processo de real valorização da mão-de-obra artesanal, permitindo a elevação no nível de renda do expressivo contingente humano envolvido.

"É importante destacar que ações desses tipos devem ser complementadas com mecanismos que possibilitem e assegurem a distribuição e comercialização das peças para o mercado consumidor, permitindo, assim, que as comunidades envolvidas tenham asseguradas as vantagens decorrentes dessa valorização", encerra Janete.


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Publicado em 21/08/2023

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