A exploração das relações entre transparência, translucidez e opacidade pode ser vista nas inéditas 12 esculturas que estarão em exibição no MAC

O Museu de Arte Contemporânea de Niterói recebe, de 7 de dezembro de 2002 a 9 de março de 2003, a exposição "Sobrevôo" de Iole de Freitas". Reunindo 12 esculturas recentes em policarbonato com tinta industrial, a mostra consolida as relações que a artista mineira vem travando entre transparência, translucidez e opacidade. A abertura da exposição marca também as comemorações dos 30 anos de carreira de Iole e o lançamento do livro Sobrevôo (Cosac & Naify Editora), que aborda o trabalho da artista nos últimos quatro anos.

Mantendo a poética da transparência e da translucidez, leveza e equilíbrio, a linguagem plástica de Iole de Freitas instala-se no espaço, constituindo um percurso que o espectador tende a cumprir, percebendo as novas relações espaço-temporais que passa a vivenciar quando os elementos geométricos que visualiza são transparentes e o lugar que eles ocupam é sinalizado por formas voadoras e flutuantes impregnadas de cor: violeta, púrpura e laranja invadem a ambiência do MAC-Niterói e exigem do espectador um cuidado especial ao se deslocar no espaço.

O que toca o chão é transparente, o que flutua no espaço é pura cor. São planos retos e curvos que pela relação de peso entre as partes se originam no espaço.

Iole de Freitas deixou de lado os tubos de aço inoxidável para apostar nas placas de policarbonato. O voo rumo à expressão sem o aço era ensaiado desde a instalação permanente "Dora Maar na Piscina" (1999), uma escultura de seis metros de largura por dois de altura em plena piscina do Museu do Açude (Rio). A peça, uma das primeiras com policarbonato, anunciava o interesse da artista pelo material, ao mesmo tempo firme e receptivo ao movimento. Quatro anos depois, Iole de Freitas sente-se segura para exigir das placas a leveza de um lenço no ar, desafiando a gravidade em 12 esculturas na nova mostra.

"Atingi um domínio maior da linguagem, certas atitudes não são mais necessárias. Procuro mergulhar na essência da ideia, com o mínimo de interferências. O trabalho toma uma autonomia maior à medida que se afasta da analogia com o corpo humano", diz Iole de Freitas, bailarina por 18 anos antes de ingressar nas artes plásticas.

A opção pelo policarbonato segue a trajetória delimitada a partir dos anos 70, na exploração das relações de transparência, translucidez e opacidade. A obsessão pela interpenetração de planos e campos visuais através da luminosidade tem raízes nos estudos com telas de inox, cobre e latão há cerca de 30 anos. Outra influência é a da fase na qual Iole pesquisou tecidos finos, na passagem dos anos 70 para os 80.

"O próprio trabalho indica o caminho, não tenho um foco definido. A escolha pelas chapas de policarbonato responde a uma questão técnica que tem reflexos na minha estética, que é a capacidade de curvá-las a frio. Essa característica torna possível um estudo mais complexo na relação de peso e equilíbrio, além do diálogo com a luz", afirma a artista.

A abolição dos tubos de inox trouxe a reboque uma aceitação maior das cores, demonstrada pelo uso do violeta e do púrpura em algumas peças. Econômica em sua paleta, Iole também esculpe em vermelho, sempre analisando a relação dos fragmentos coloridos com a luz.

"Quando mudei para o policarbonato, senti a necessidade dessas cores, já que não tinha mais os tons do latão, do cobre e do aço. O violeta, o vermelho e o púrpura são cores que se impregnam de luz, o que torna muito interessante o tratamento da superfície", acredita a artista.

O Livro

Sobrevôo - Iole de Freitas é um panorama crítico e visual da obra da artista plástica, organizado por Lorenzo Mammì, com ensaios de Rodrigo Naves, Sônia Salzstein, Paulo Sérgio Duarte, Ronaldo Brito, Paulo Venâncio Filho, Márcio Doctors e Cristina Burlamaqui, mais poema de Haroldo de Campos. As fotos são de Vicente de Mello, Valentino Fialdini, Eduardo Ortega, Wilton Montenegro, Sérgio Araújo e Eduardo Eckenfels.

Iole de Freitas é uma artista plástica brasileira que atua no campo de arte contemporânea. Iole inicia sua carreira na década de 1970, quando se muda para Milão, onde trabalha como designer no Corporate Image Studio, da Olivetti, sob orientação do arquiteto Hans Von Klier. Entre 1973 e 1981, desenvolve trabalhos experimentais em fotografia e Super-8, nos quais a representação do corpo surge como tema principal. No início dos anos 1980, passa a dedicar-se ao campo tridimensional, realizando os Aramões, estruturas cerradas de fios, tubos, serras e tecidos.

Em 1986, recebe Bolsa Fulbright-Capes para pesquisa no Museum of Modern Art - MoMa, em Nova York. De 1987 a 1989, é diretora do Instituto Nacional de Artes Plásticas da Funarte, no Rio de Janeiro. Em 1991, recebe a Bolsa Vitae de Artes Plásticas. É professora de escultura na Escola de Artes Visuais do Parque Lage - EAV/Parque Lage, no Rio de Janeiro. Na década de 1990, começa a realizar esculturas de grandes dimensões. Alguns trabalhos são projetados para locais específicos, como a Capela do Morumbi, em São Paulo, e o Galpão Embra, em Belo Horizonte. Essas obras revelam o diálogo com o espaço expositivo e seus elementos arquitetônicos. As esculturas desenvolvidas entre 1995 e 1997 são mais fluidas, realizadas com materiais semitransparentes.

Nos últimos quatro anos, Iole de Freitas tem trabalhado de maneira surpreendente: desde 1999, quando realizou a instalação Dora Maar na Piscina, no Museu do Açude, no Rio, até a exposição que apresenta no MAC-Niterói, a artista protagonizou individuais de peso no Centro de Arte Hélio Oiticica e no Centro Universitário Maria Antônia, atravessou as janelas e paredes do Pestana Bahia Hotel, em Salvador, com uma instalação permanente de chapas de policarbonato e tubos de aço inox, e construiu novas esculturas nas residências dos colecionadores brasileiros Fábio Faissal, Bia Bracher e Luís Antônio de Almeida Braga.


Serviço

"Sobrevôo" de Iole de Freitas
Curadoria: Iole de Freitas
Abertura: 7 de dezembro de 2002
Visitação: 7 de dezembro de 2002 a 9 de março de 2003

Salão Principal do Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC)
Mirante da Boa Viagem, s/n – Niterói RJ
Informações: 21 2620 2400 / 2620 2481


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Publicado em 22/08/2023

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