Tudo começou como uma brincadeira. O maior arquiteto do país, aos 91 anos, resolveu aceitar o desafio do amigo Rômulo Dantas e transformar os estudos para esculturas em realidade. O projeto já estava desenvolvido, faltando apenas por mãos à obra. Foi neste exato momento, que Niterói voltou a cruzar o caminho de Oscar Niemeyer...
Como ele nunca havia concebido uma escultura, nem possuía um ateliê, optou pela realização das obras na Oficina de Escultura do Museu do Ingá. O trabalho foi coordenado pelo artista Mauricio Bentes e, neste sábado, 02 de outubro de 1999, às 16 horas, finalmente, poderá ser visto pelo público no pátio do Museu de Arte Contemporânea (MAC), também concebido por Niemeyer.
Surpresa
O gênio, apesar de acostumado a entregar suas criações a terceiros, confessa que foi surpreendido pelo resultado. "Dias depois, as encontrei prontas, com seis e cinco metros de altura, metálicas e abstratas como as concebera, às vezes completadas em arame com os croquis que desenhara. A minha resistência fora vencida, eu, sem querer, fazendo-me escultor".
As obras, cinco ao todo, foram elaboradas em ferro e pintadas na cor vermelho. E graças às suas dimensões monumentais com até uma tonelada de peso requisitaram uma verdadeira operação de guerra para serem transportadas. Como proibida a entrada de veículos na construção da Boa Viagem, elas tiveram de ser içadas por um guindaste até o pátio.
Niemeyer escolheu pessoalmente o lugar de cada escultura e procurou estabelecer um diálogo entre as obras e o prédio e a paisagem incomparável da baía. Violência, por exemplo, quando observada da rampa que dá acesso ao museu, tem como fundo o Morro do Pão de Açúcar. Outros exemplos fantásticos de interação acontecem com Mulher I e II e Forma no Espaço I e II.
Assinatura Este é, talvez, um dos maiores trunfos da exposição do MAC. Ao unir o arquiteto e o escultor num mesmo local, montou-se um pequeno inventário das convicções éticas e estéticas do criador de Brasília. Está tudo lá: o concreto curvo, o vermelho e a foice - signo máximo do comunismo - como uma espécie de assinatura invisível do autor.
Mauricio Bentes, que acompanhou todo o processo, da gestação até o "nascimento", é um dos mais animados com o resultado alcançado. "Niemeyer veio para fazer duas peças. Gostou tanto que fez cinco revela. Segundo o artista plástico, não fossem as limitações da agenda da própria oficina do Museu do Ingá, ele teria realizado outras obras.
Um namoro bem-sucedido
Desde que o prefeito Jorge Roberto Silveira fez o convite para que desenhasse um museu para Niterói, Oscar Niemeyer iniciou um longo namoro com a paisagem da cidade. Estudou todo o relevo, cada monte, cada praia, de modo a conceber o edifício adequado à paisagem local. O resultado foi o Museu de Arte Contemporânea (MAC), erguido na Boa Viagem, hoje, uma das principais atrações do município.
Os anos necessários à construção do edifício proporcionaram, porém, mais do que uma bela obra. Nestas paragens, ele fez amizades e descobriu pontos de interesses como a Oficina de Escultura do Museu do Ingá. Foi através do conhecimento técnico e material acumulado no local, que tornou-se possível a concretização dos desenhos de Niemeyer. "Disse ok, podem realizá-las. E quando vi, a brincadeira se havia tornado realidade", recorda o arquiteto.
Sucesso - A nova empreitada, ao que parece, já está marcada pelo sucesso. Um curador de um museu de arte em Nova York, Luís R. Cancel, já viu as peças e pretende levá-las para os Estados Unidos. Enquanto os detalhes da mostra não são acertados, as esculturas de Oscar Niemeyer permanecem no prédio da Boa Viagem, em Niterói, local mais que apropriado para um comunista convicto. Afinal, para quem não se recorda, aqui nestas terras, na década de 1920 nasceu o Partido Comunista Brasileiro.
Confira o catálogo da mostra
Serviço
Escultura de Oscar Niemeyer
Terça a domingo, das 11h às 19h. Sáb., das 13h às 21h
Ingresso: R$ 2,00
Abertura, sábado, 02 de outubro de 1999
Museu de Arte Contemporânea de Niterói
Mirante da Boa Viagem, s/nº
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Publicado em 13/02/2023
Como ele nunca havia concebido uma escultura, nem possuía um ateliê, optou pela realização das obras na Oficina de Escultura do Museu do Ingá. O trabalho foi coordenado pelo artista Mauricio Bentes e, neste sábado, 02 de outubro de 1999, às 16 horas, finalmente, poderá ser visto pelo público no pátio do Museu de Arte Contemporânea (MAC), também concebido por Niemeyer.
Surpresa
O gênio, apesar de acostumado a entregar suas criações a terceiros, confessa que foi surpreendido pelo resultado. "Dias depois, as encontrei prontas, com seis e cinco metros de altura, metálicas e abstratas como as concebera, às vezes completadas em arame com os croquis que desenhara. A minha resistência fora vencida, eu, sem querer, fazendo-me escultor".
As obras, cinco ao todo, foram elaboradas em ferro e pintadas na cor vermelho. E graças às suas dimensões monumentais com até uma tonelada de peso requisitaram uma verdadeira operação de guerra para serem transportadas. Como proibida a entrada de veículos na construção da Boa Viagem, elas tiveram de ser içadas por um guindaste até o pátio.
Niemeyer escolheu pessoalmente o lugar de cada escultura e procurou estabelecer um diálogo entre as obras e o prédio e a paisagem incomparável da baía. Violência, por exemplo, quando observada da rampa que dá acesso ao museu, tem como fundo o Morro do Pão de Açúcar. Outros exemplos fantásticos de interação acontecem com Mulher I e II e Forma no Espaço I e II.
Assinatura Este é, talvez, um dos maiores trunfos da exposição do MAC. Ao unir o arquiteto e o escultor num mesmo local, montou-se um pequeno inventário das convicções éticas e estéticas do criador de Brasília. Está tudo lá: o concreto curvo, o vermelho e a foice - signo máximo do comunismo - como uma espécie de assinatura invisível do autor.
Mauricio Bentes, que acompanhou todo o processo, da gestação até o "nascimento", é um dos mais animados com o resultado alcançado. "Niemeyer veio para fazer duas peças. Gostou tanto que fez cinco revela. Segundo o artista plástico, não fossem as limitações da agenda da própria oficina do Museu do Ingá, ele teria realizado outras obras.
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Um namoro bem-sucedido
Desde que o prefeito Jorge Roberto Silveira fez o convite para que desenhasse um museu para Niterói, Oscar Niemeyer iniciou um longo namoro com a paisagem da cidade. Estudou todo o relevo, cada monte, cada praia, de modo a conceber o edifício adequado à paisagem local. O resultado foi o Museu de Arte Contemporânea (MAC), erguido na Boa Viagem, hoje, uma das principais atrações do município.
Os anos necessários à construção do edifício proporcionaram, porém, mais do que uma bela obra. Nestas paragens, ele fez amizades e descobriu pontos de interesses como a Oficina de Escultura do Museu do Ingá. Foi através do conhecimento técnico e material acumulado no local, que tornou-se possível a concretização dos desenhos de Niemeyer. "Disse ok, podem realizá-las. E quando vi, a brincadeira se havia tornado realidade", recorda o arquiteto.
Sucesso - A nova empreitada, ao que parece, já está marcada pelo sucesso. Um curador de um museu de arte em Nova York, Luís R. Cancel, já viu as peças e pretende levá-las para os Estados Unidos. Enquanto os detalhes da mostra não são acertados, as esculturas de Oscar Niemeyer permanecem no prédio da Boa Viagem, em Niterói, local mais que apropriado para um comunista convicto. Afinal, para quem não se recorda, aqui nestas terras, na década de 1920 nasceu o Partido Comunista Brasileiro.
Confira o catálogo da mostra
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Serviço
Escultura de Oscar Niemeyer
Terça a domingo, das 11h às 19h. Sáb., das 13h às 21h
Ingresso: R$ 2,00
Abertura, sábado, 02 de outubro de 1999
Museu de Arte Contemporânea de Niterói
Mirante da Boa Viagem, s/nº
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Publicado em 13/02/2023