Fotos, instalação, pinturas, esculturas, desenho, vídeo, adesivos, objetos, todas as modalidades artísticas imagináveis fizeram parte do "26° Panorama de Arte Brasileira", projeto bienal que o Museu de Arte Moderna de São Paulo vem desenvolvendo desde 1969.
Para comemorar seus 30° aniversário, o "Panorama da Arte Brasileira: 1999" ganhou um novo formato. Foram escolhidas seis obras pertencentes ao acervo do MAM, que foram premiadas em edições passadas. Esses seis trabalhos serviriam de eixos indicativos para o mapeamento da produção brasileira que desenvolveu-se nesses últimos dois anos. "Pensamos numa maneira de chamar atenção do fato de várias obras importantes terem entrado para coleção de nosso acervo", comenta Tadeu Chiarelli, curador da exposição, que depois de ficar em cartaz no Museu de São Paulo por dois meses, chega nesta terça-feira, 11 de janeiro de 2000, ao Museu de Arte Contemporânea de Niterói.
Depois de um longo processo de pesquisa em vários ateliês de diversas cidades brasileiras, sempre contando com a ajuda das instituições locais, Tadeu foi incumbido de selecionar 34 artistas, que teriam suas obras divididas dentro dos eixos propostos pela coordenação do projeto.
Na verdade, os seis módulos podem ser divididos em dois grandes blocos. Um referente às questões modernistas, mas que ainda atingem os artistas da atualidade. E o outro, que trata das especificidades das linguagens artísticas contemporâneas.
Pontuando o primeiro eixo do bloco de questões, foi escolhida a pintura "Mastros", de
Alfredo Volpi, premiada no "Panorama de 70". As pinturas e fotografias agregadas em torno dessa obra, que abre a discussão em torno da cor, da luz e do plano, procuram circunscrever um espaço de resistência e alteração do conceito de pintura neste final de milênio.
Três desenhos em nanquim de
Amilcar de Castro, premiados em 77, foram escolhidos para abrir a segunda proposição. Amilcar, com exposição no Centro de Arte Hélio Oiticica, consegue, através de mínimos gestos, o mais estonteante efeito visual. O caráter decidido de seus trabalhos contrasta com as obras da maioria dos jovens artistas convidados, que costumam explorar as linhas tanto no desenho quanto na pintura.
José Resende é a referência da problematização do tridimensional, com uma escultura de fio de cobre premiada em 75. A obra sem título representa uma expansão do artista para o campo tridimensional. Nessa área, ele encontrou o meio termo entre a escultura como apresentação e como representação. Isso possibilitou o desenvolvimento do trabalho de muitos outros artistas contemporâneos.
Os jogos da arte são tema do quarto eixo. "Você faz parte", de Nelson Leirner, é a obra que comanda o assunto. Nelson traz à tona a questão da reprodutibilidade. Foram escolhidos para preencher o eixo, artistas que trabalham partir de imagens já construídas.
Uma fotografia da série "Os meninos", de Paula Trope, foi selecionada para abrir a temática social. Essa ala pretende mostrar aos visitantes as diferentes maneiras com que os artistas experimentam suas vivências metropolitanas, levantando a questão da violência, da miséria e das relações sociais.
Para encerrar as proposições da mostra, "O vestido" de Nazareth Pacheco, premiado na última edição do Panorama, em 97. Essa parte da exposição reúne trabalhos que têm em comum a exploração do corpo humano como elemento propulsor do trabalho de arte.
A exposição, embora tenha ganhado uma montagem diferente, veio inteira de São Paulo e daqui, ainda percorrerá outras cidades do Brasil, como Fortaleza, Recife e provavelmente Salvador. O sucesso dos 30 anos do
Panorama de Arte garante a conquista dos objetivos iniciais do projeto. Eram eles: reinserir o museu na cena artística brasileira, lugar que havia perdido com a crise do início dos anos 60 sofrida pelo MAM; mapear e divulgar o que de mais contemporâneo se faz em artes no país, além de premiar as obras mais significativas, formando, através de aquisições, um novo acervo.
"O Panorama de Arte é a segunda exposição periódica mais antiga do país, perdendo apenas para a Bienal de São Paulo, que completou 50 anos recentemente. O acervo do museu, que contava com apenas algumas centenas de obras, conta hoje com aproximadamente três mil. Procuramos mostrar que as peças que temos conseguem ainda dialogar com a produção recente e isso ficou muito óbvio nessa edição. Estou muito contente com o resultado e esperamos estar sempre apoiando e dando visibilidade aos jovens artistas que possuem um longo caminho pela frente", declara Tadeu Chiarelli.
Confira o catálogo da mostra
As curiosidades do Panorama
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Uma escada de aço, uma parede de espelhos, sete televisores e um projetor de slides chamam a atenção dos visitantes que têm lotado as dependências do Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Tudo por conta da exposição Panorama da Arte Brasileira: 1999, que fica em cartaz até 12 de março. As obras instigam a imaginação na mesma velocidade com que provocam estranhamento.
Disposta a romper a fronteira que separa a arte da vida e trazer à tona a questão do transporte de valores, a artista plástica paulista
Ana Tavares criou a instalação "Exit", que posiciona frente a frente uma escada de alumínio com rodas de borracha e uma parede de espelhos. No alto da escada um CD player com fone de ouvido convida o visitante a ouvir a mensagem. Não há quem resista a tanta interatividade.
O paranaense
Sebastian Argüello apresenta o vídeo "Help The System" em quatro movimentos. Através de associações, os elementos do filme - frases, fotografias, imagens abstratas, ruídos, vozes humanas - dialogam, ora sobrepondo-se, ora anulando-se.
O vídeo instalação "Corpus Corporis", da paulista
Christine Liu, propõe reflexões sobre a Avenida Paulista. Christine compara o transporte de carros e pessoas na principal via pública de São Paulo com as artérias que transportam sangue por todos os órgãos.
Mônica Nador expõe uma série de fotografias documentais sobre o projeto "Paredes Pinturas". O trabalho da artista plástica paulista é acompanhado de um vídeo que mostra a coloridíssima pintura mural em espaços públicos carentes.
A intervenção urbana também é o tema de
Yftah Peled. Questionando as contradições das vias públicas, a artista plástica catarinense documenta, através de slides, as intervenções em outdoors de Curitiba e Florianópolis. Suas frases acabam subvertendo as mensagens impostas pelas peças publicitárias.
Quem perdeu a performance ao vivo de
Michel Groisman na abertura da exposição, pode conferir o trabalho do ator-acrobata carioca em fotos e em vídeo. Na performance "Transferência" ele aparece envolto por velas que se acendem e se apagam de acordo com seus movimentos. Já em "Criaturas", Michel divide a cena com a atriz
Isabel Tornaghi. Ambos usam hastes como extensão de seus corpos, que ao se encontrarem acendem lâmpadas dicróicas.
Exposição Panorama 99
Visitação: Terça a domingo, de 11h às 19h. Sábado, de 13h às 21h.
De 11 de janeiro a 12 de março de 2000
Ingresso: R$ 2,00
Museu de Arte Contemporânea de Niterói
End: Mirante da Boa Viagem, s/n
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