O Museu de Arte Contemporânea de Niterói está festejando os 500 anos do Brasil, com a exposição "500 Anos Depois..." Dividida em seis setores, a mostra reúne 200 imagens feitas pelo fotógrafo
José de Paula Machado, em Portugal, ao longo dos últimos três anos e poderá ser vista a partir de hoje, terça-feira, 18 de abril, até 25 de junho de 2000, quando segue para Salvador e Brasília.
A mostra pode ser conferida em cinco computadores conectados à Internet conferindo-lhe um forte caráter interativo. O público pode participar de chats em tempo real e interagir com quem estiver na mostra em Cascais, Portugal, a partir de 19 de maio. É que lá estará sendo exibida a mesma exposição, só que com imagens do Brasil, também feitas por José de Paula Machado.
Patrocinada pela
Fundação Ricardo Espírito Santo Silva, de Portugal, a exposição começou a ganhar forma em 1997, quando José de Paula Machado passou a viajar pelo Brasil e por Portugal, registrando imagens que mexessem com a emoção dos dois povos, resgatando sua gente, arquitetura, natureza, comidas, festas, religiosidade, costumes e tradições. O resultado são imagens de um Portugal, ao mesmo tempo, contemporâneo e tradicional.
A concepção - Concebida pelo designer gráfico
Roberto Lacerda e a designer ambiental
Patrícia Sobral, a mostra "500 Anos Depois..." agrupa imagens em grandes dimensões e em variados materiais como tecido e acetato.
O primeiro setor retrata a síntese do trabalho de José de Paula Machado, com um grande mapa-múndi identificando Portugal de ponta a ponta, acompanhado de texto do fotógrafo sobre o sentimento em relação a cada região. O setor apresenta ainda informações históricas e identificação das sete regiões principais de Portugal e suas características.
O segundo setor é um espaço fechado, em forma de túnel, que sintetiza as características do povo português, sua alegria, amizade e simpatia. O dia-a-dia desse povo é retratado com imagens e depoimentos sonoros dos diversos tipos que constituem sua população.
Impresso no piso do terceiro setor, o mapa de Portugal ressalta seu aspecto geográfico. As fotos conduzem o espectador a uma viagem pelas regiões da boa mesa, dos vinhos famosos e das festas populares, ao mesmo tempo em que mostram os grandes contrastes da arquitetura.
Enquanto o quarto setor apresenta as festas características de cada região, a fé e as lendas que tão bem traduzem o sentimento lusitano, o quinto setor mostra de que forma vive o português, o que sua terra produze o que gerou seu novo status internacional.
Além de mostrar o verdadeiro tom de um trabalho artístico, o sexto e último setor apresenta os desafios da modernidade, as novidades tecnológicas e a maior capacidade de comunicação entre os dois países.
O autor - José de Paula Machado divide seu tempo entre a fotografia e a direção da Agir Editora, fundada em 1944 por seu pai, Cândido Guinle de Paula Machado. Formado em Economia pela PUC do Rio de Janeiro, em 1972, abandonou o mercado em 1991 para se dedicar profissionalmente à fotografia. Solidificou seus conhecimentos no International Center of Photography, em Nova Iorque, e hoje sua produção fotográfica pode ser conferida em 17 livros bilingues, sobre diversos aspectos do Brasil, Marrocos, Egito e Nova Iorque.
A fress - A Fundação Ricardo Espírito Santo Silva foi criada em 1953 pelo banqueiro Ricardo Espírito Santo Silva, apaixonado por arte. Ao longo dos anos, ele reuniu um precioso acervo de obras francesas do século XVIII e, principalmente, de peças portuguesas, hoje guardadas no Museu-Escola da Fress, O Museu-Escola forma técnicos que recuperam e restauram azulejos portugueses e adornos em madeira. A entidade conta com 500 alunos, 240 funcionários, 18 oficinas e uma escola superior de artes decorativas, presidida pela neta do fundador, Maria João Espírito Santo Bustorff Silva. No Brasil, a Fress restaurou os painéis de azulejos do Convento de Santo Antônio de Igarassu (Recife-PE) e do
Solar do Jambeiro (Niterói-RJ); atualmente recupera os raros azulejos da Igreja do Convento da Ordem Terceira de São Francisco (Salvador-BA).
Com a palavra, José de Paula Machado, em entrevista dada a Rodrigo Faour (Tribuna da Imprensa)
"Este é um projeto de vida meu. Quando o concebi, imaginei que fosse algo completamente impossível por questões geográficas e financeiras. Eu já tinha ido muitas vezes a Portugal, mas quando voltei lá em 1996, me surpreendi muito com o que vi. Nunca tinha ido ao Norte e ao interior e vi um Portugal moderno que nunca tinha visto nas viagens anteriores. Em 72, me formei na PUC do Rio em Economia, e morei três anos em Londres. Foi lá que comprei minha primeira máquina e comecei a ir mais a Portugal porque tinha amigos lá. O que eu via era um país parado no tempo e muito distante da realidade da Europa daquele instante. Desta vez, em 1996, vi um país completamente modernizado, com infraestrutura de estradas de rodagens, comunicação, com o telemóvel (celular) sensacional.
O país se engajou na comunidade europeia, que o ajudou a assumir sua vocação para o turismo. Portugal não é industrializado, tem apenas 10 milhões de habitantes, mas sua densidade cultural é impressionante. Sua história passa pelos romanos, celtas, visigodos. É um 'paisinho' da Península Ibérica, mas comparando com Brasil, quase que o supera em tamanho no quesito cultural. Fascinado pelo país que vi, me dei conta que haveria comemorações de 500 anos do descobrimento e que a maioria dos eventos seria saudosista, em busca de Cabral e coisa e tal. Quis imprimir uma ótica atual, daí as reticências do título. Porque é o momento do país hoje, agora e que continua, não parou. Fiz dez viagens a Portugal em três anos, oito delas para registrar as fotos. Percorri o país de cabo a rabo, sempre com uma espécie de roteiro que era me dado pela própria Fundação Ricardo do Espírito Santo, que me apoiou.
Pegamos como parceiro a Enatur (que é como a nossa Embratur) e eles têm um programa espetacular chamado "Pousadas de Portugal", que pega mosteiros, castelos... de todo o país que arquitetos contemporâneos portugueses tornaram habitáveis. Seguindo essa trilha, fiquei livre para registrar o que me interessasse. E em 1996, Portugal estava se preparando para a "Expo 98" e para comemorar a viagem de Vasco da Gama às Américas. Primeiro, observei o burburinho da capital. Mas percebi focos de modernidade em todos os níveis, do rural até às cidades maiores, que não são muitas. Lá, há oito ou dez estados grandes. No Norte, com influência dos celtas, e no Sul, dos mouros.
Antes, imaginei que fosse uma exposição de fotografias convencional, mas a coisa cresceu e até fugiu um pouco das minhas rédeas. Essa mostra vai ocupar o MAC, e se divide em seis setores. No primeiro: há uma visão macro do país, no segundo: do povo, o terceiro: mostra o país e suas regiões, sobre um grande mapa de Portugal - onde as fotos estão dispostas em cima dos lugares onde foram feitas, assinalados no mapa. O quarto é um setor de multivisão/projeção. O quinto mostra a fé, as festas e as tradições portuguesas, e por último, há o único setor em preto e branco que chama-se "o livre criar do autor", que no caso, sou eu. Ali há aparelhos de computador que te ligam via Internet com a outra parte da mostra, em Portugal, onde vai acontecer o "Brasil 500 anos depois...", também feita por mim.
Vale dizer que o catálogo da exposição apresenta 350 páginas, com direito a um CD-rom, contendo as exposições, tanto que tem duas capas.
Eu já publiquei 17 livros com fotografias sobre o Brasil. Na exposição, apresento imagens de arquivo, e de andanças recentes minhas do Maranhão até o Rio Grande do Sul, já que no ano passado viajei a oito estados e aproveitei para clicar algumas fotos. Dos 27 estados brasileiros, fui a 23. Esta exposição estreia dia 19 maio e inaugura o Paço Cultural do Gandarinha, um antigo palácio gigantesco e espetacular que existe em Cascais, em frente ao mar, que foi reformado. O interessante é que as duas exposições vão estar de frente para o mar: uma para a Baía de Guanabara, no Rio, e outra lá, em Cascais.
Serviço
Visitação: De terça-feira 18 de abril a domingo, 25 de junho de 2000
Horário: de terça a domingo, das 11 às 19 horas; sábado, das 13 às 21 horas
Ingresso: R$2,00; estudantes com carteira: R$1,00, crianças até 7 anos e adultos acima de 65 anos: grátis aos sábados a entrada é franca para todos
Museu de Arte Contemporânea de Niterói
End: Mirante da Boa Viagem, s/n.°, Boa Viagem, Niterói, RJ