Uma radiografia da pintura brasileira das duas últimas décadas estará em exibição no Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói a partir de terça, 4 de julho de 2000.

Pinturas: Coleção João Sattamini reúne 14 trabalhos de 14 artistas plásticos, com destaque para as obras de Eduardo Sued, Iberê Camargo e Jorge Guinle Filho, tratados como referências da pintura no país. "Seja por meio da figuração, da abstração geométrica ou do gestualismo cromático, a pintura brasileira ganhou inteligência e força pictórica incomuns com esses três artistas. É em torno deles que acontece a exposição", explica Luiz Camilo Osório, curador da mostra.

Óleo sobre tela sem título de José Maria Dias da Cruz, de 1987
As peças fazem parte do acervo do colecionador João Sattamini, dono da segunda mais completa coleção privada de obras de arte do Brasil, com aproximadamente 1,2 mil peças, entre pinturas e esculturas.

Constantemente, o MAC apresenta parte da coleção de Sattamini ao público, que hoje faz parte do acervo do museu de acordo com o contrato de comodato feito com o colecionador. "Em contrapartida, o MAC tem o compromisso de sempre levar ao público parte dessa coleção", afirma Camilo. Sattamini, no entanto, revela que prefere não interferir na escolha dos trabalhos que são apresentados, atividade totalmente realizada pela equipe do museu.

"Não há uma linha temática a ser observada na exposição, muito menos uma ordenação cronológica. Entretanto, ao selecionar as obras, tentei separá-las tendo como base três pontos de referência: o geométrico construtivista de Eduardo Sued; o gestual expressionista de Jorge Guinle e a abstração de Iberê Camargo", explica Camilo. O organizador conta ainda que optou por artistas plásticos essencialmente contemporâneos e que não tenham seus trabalhos restritos à pintura. "Por conta disso, há telas de artistas que se aventuraram pela instalação, como Antônio Manoel, e pela constante experimentação, como Milton Machado", conta ele.

Obra de Raymundo Colares
"Analisando mais profundamente as obras apresentadas, percebe-se a preponderância de produções realizadas na década de 1980, em que o conflito entre o prazer e o conceitualismo era latente. Nessa época, colocava-se em xeque o conteúdo da obra em contraposição do seu efeito emotivo", explica o organizador.

Parcerias entre grandes colecionadores, como Sattamini, e museus não são atividade comum no Brasil. Isso talvez possa ser explicado pela inexistência de grandes coleções privadas de obras de arte. Assim como o MAC abriga as obras do colecionador desde sua criação, há quatro anos, o Museu de Arte Moderna (MAM) é ponto de referência para a coleção de Chateaubriand. "E só", segundo Camilo.

Paralelamente a essa exposição de pinturas, que será locada no salão principal da construção concebida pelo arquiteto Oscar Niemeyer, uma outra parte da coleção Sattamini será apresentada no segundo andar do MAC. "São esculturas em que colocamos em questão a variedade de materiais na confecção de esculturas, como a madeira e o metal", conta Camilo.


"Hora V", pintura assinada por Iberê Camargo em 1983.


A exposição Pinturas: Coleção João Sattamini reúne obras de Antonio Manuel (diptico 'Atrás da Dama, Atrás do Drama', 1986, óleo sobre tela); Carlos Vergara (sem título, 1982, acrílica sobre tela); Carlos Zilio ('O Momento Preciso II', 1989, óleo e lixa sobre tela); Daniel Senise (sem título, 1984, óleo sobre tela); Eduardo Sued (sem título, 1985, óleo sobre tela); Fábio Miguez (sem título, 1995. óleo e cera sobre tela); Gonçalo Ivo ('Estrelas da Tarde', 1988, têmpera a óleo sobre tela); Iberê Camargo ('Hora V', 1983, óleo sobre tela); Jorge Guinle ('O Folhetim', 1985. óleo sobre tela); José Maria Dias da Cruz (sem título, 1987, óleo sobre tela); Milton Machado ('Sinal de Tovar', desenho e pintura, 1985); Nuno Ramos (sem título, 1985, tinta industrial sobre papel); Paulo Pasta (sem título, 1997, acrílica sobre tela); e Raimundo Colares ('Ponto de Mudança Ocorrência de Uma Trajetória', 1968, esmalte sobre madeira). Todas do Acervo MAC/Coleção Sattamini.

"Como toda instituição que tem um acervo importante, o MAC de Niterói vem dando prioridade à Coleção Sattamini, através de exposições temáticas ou individuais. O comodato com João Sattamini tem como uma de suas diretrizes trazer a público, gradualmente, sua enorme coleção de arte contemporânea brasileira", finaliza Camilo.

A coleção de arte brasileira que o Museu de Arte Contemporânea de Niterói abriga foi construída ao longo dos últimos 30 anos, com obras produzidas no pós-guerra. Embora ela abranja um número elevado de trabalhos, não reúne todos os artistas, pela impossibilidade de abarcar tanta gente que produziu com qualidade neste período tão fértil da arte brasileira. No entanto, a ideia foi de que a coleção cobrisse intensamente determinados artistas ou grupos e tendências que me interessavam particularmente, alcançando-se para estes um bom perfil de seu trabalho em evolução.


João Sattamini.





Serviço

"Pinturas na Coleção Sattamini", coletiva
Curadoria: Luiz Camillo Osório
Local: Salão Principal
Abertura: 04 de julho de 2000
Visitação: 04 de julho a 27 de agosto de 2000

Museu de Arte Contemporânea - MAC
Endereço: Mirante da Boa Viagem, s/n – Niterói RJ
Informações: 21 2620 2400 / 2620 2481


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Publicado em 15/02/2023

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