Convidado para a série Projetos Especiais do MAC, Raul Mourão inaugura, hoje, 05 de junho de 2004, a exposição
drama.doc. A mostra, que acontece até o dia 01 de agosto, traz dez fotografias manipuladas digitalmente, com base em detalhes arquitetônicos e dez esculturas. Considerado um dos principais nomes da geração 90, Mourão desloca elementos da visualidade urbana do contexto usual. A curadoria é assinada por Guilherme Bueno.
Ao eleger as fotografias e o conjunto de esculturas realizadas com grades de ferro, similares àquelas de segurança instaladas em edifícios, como protagonistas de sua investigação, o artista discute o objeto artístico, seja em sua concepção fundadora, ou na natureza de sua intencionalidade como propositor de um discurso.
Pensadas reciprocamente, entre as fotos e as esculturas infiltram-se diversos estratos da história da arte em sua problematização do espaço. O documento fotográfico é submetido a um processo de manipulação, no qual ruídos físicos e digitais criam uma nova imagem em descompasso com seu suposto referencial. Paradoxalmente, é essa foto mundana, essa imagem com cicatrizes, que será o ponto de partida para as esculturas, ao contrário do que em geral se poderia esperar da relação entre "original" e "cópia".
O ruído das fotos desloca-se para o espaço, implanta-se nele por meio das estruturas gradeadas das esculturas. Estabelece-se com isso um jogo duplo: a grade instiga e tenta, ao permitir que seja atravessada pelo olhar, oferecendo a este o que está além da superfície. Mas ela ao mesmo tempo e em igual intensidade o detém, mostra-o penosamente fadado a lutar contra a aceitação de uma contingência de seus limites.
Tomada a visualidade como ato afirmativo, o que se coloca, de certo modo, é um desafio histórico. Pois se a grade constituía o instrumento renascentista de vislumbre de uma ordem cósmica (a perspectiva) ou, no caso de um artista moderno como Mondrian, a expressão depurada rumo à libertação do sujeito no mundo através do olhar, aqui ela parece fazer retornar essa ansiedade em contramão: não é mais o objeto de atravessamento em direção a conteúdos puros, e sim a materialidade efetiva daquilo que nos cerca.
Ela não deixa de evidenciar nem procura ocultar ser a mesma grade que envolve nossos edifícios, fazendo-nos crer protegidos da existência. Curiosamente essa "barreira provocativa", esse objeto de perplexidade coloca o desafio de se absorverem as coisas sem temer sua complexidade, suas contradições e – por que não? – a possibilidade de estas oferecerem novas perspectivas poéticas, um outro reencantamento amoral do mundo.
Serviço
"Drama.doc", de Raul Mourão
Curadoria: Guilherme Bueno e Raul Mourão
Abertura: 5 de junho de 2004
Visitação: 5 de junho a 1 de agosto de 2004
Local: Museu de Arte Contemporânea - MAC - Varanda
Endereço: Mirante da Boa Viagem, s/n – Niterói RJ
Informações: 21 2620 2400 / 2620 2481
www.macniteroi.com.br
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