Por ocasião das comemorações dos vinte anos da Geração 80 realizadas pelas instituições culturais do Rio, o Museu de Arte Contemporânea de Niterói recebe de 03 de julho a 26 de setembro de 2004, a exposição Casa 7. Com curadoria de Guilherme Bueno, a mostra foca na produção dos artistas Paulo Monteiro, Nuno Ramos, Fábio Miguez, Carlito Carvalhosa e Rodrigo Andrade, que fizeram da casa número 7 de uma vila em Pinheiros, São Paulo, um ateliê compartilhado.

Esta mostra, baseada nas Coleções João Sattamini e MAC-Niterói, dá continuidade à política do Museu de divulgação de seu acervo, permitindo ao público o contato com alguns dos episódios mais significativos da arte brasileira recente. Em conjunto com as demais mostras no Rio de Janeiro dedicadas a este período, visa proporcionar um reencontro e uma releitura deste importante período de nossa produção artística.

A origem da Casa 7 se dá em 1982, quando um grupo de amigos do Colégio Equipe decidiu usar como ateliê a casa desalugada da mãe de um deles: a casa de número 7 de uma vila na rua Cristiano Viana, no bairro de Pinheiros, São Paulo. Com recursos escassos, os artistas faziam uso de materiais baratos como esmalte sintético sobre papel kraft. A proposta do grupo era uma pintura livre, que utilizava cores discrepantes e gigantes escalas. A mistura de técnicas e materiais de cada artista do grupo não é harmoniosa, ela exibe peso, densidade e subjetividade.

O mercado dos anos 1980, que ansiava por originalidade, quebra paradigmas ao aceitar, juntamente com o público, jovens como os da Casa 7, que apesar de não possuírem um currículo de artista plástico, possuíam a originalidade que era tão rara naquela época. O grupo fez do trabalho coletivo de ateliê uma prática que motivou a troca de ideias e experiências, debates e até mesmo procedimentos como o uso da tinta industrial.

Os integrantes do ateliê eram originalmente Rodrigo Andrade, Paulo Monteiro, Carlito Carvalhosa, Fábio Miguez e Antonio Malta, que se desligou do ateliê em 1983, quando entrou Nuno Ramos. De 1982 a 1985, os artistas expuseram como grupo no Paço das Artes, Museu de Arte Contemporânea da USP, Centro Cultural São Paulo, Galeria Subdistrito, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e 18ª Bienal Internacional de São Paulo.

Casa 7 (São Paulo SP - 1982/1985)

Na jovem pintura dos anos 80 poderíamos localizá-los com uma certa facilidade entre os neoexpressionistas alemães, por suas afinidades perceptíveis. Em suas produções, há toda uma desestruturação de formas, uma desconstrução que se entrega ao signo, ao gestual que desfaz as composições e que o relaciona com artistas europeus desta tendência.

Pintam em esmalte sobre papel Kraft grandes painéis, onde o gestual e a tinta não raro escorrida, tem a medida exata do vertiginoso da execução. Precário o material, apaixonante a possibilidade de abordagem de forma fluente da grande superfície. No entanto, já manipulam a pintura a óleo sobre tela, embora conscientes todos cinco das alterações que a mudança de suporte e técnica implicam em seus trabalhos.

Para alguns que observem com muita rapidez estes trabalhos pode transparecer entre eles uma similitude menos real. Além de Rodrigo Andrade, por exemplo, em Carlito Carvalhosa é evidente uma preocupação mais construtiva que dramática, por exemplo, as referências ao real se fundamentando na fusão de formas orgânicas com elementos do universo mecânico. Fábio Miguez, por sua vez faz e refaz paisagens-imaginadas ou reais - na concentração cezanniana pela solução construtiva da imagem representada.

Em Nuno Ramos o corpo humano se insinua através de vestes magnificadas e quase inidentificáveis em seu gigantismo a cobrir toda a superfície pintada, como grandes formas orgânicas que dominam o espaço pictórico com vitalidade dramática.

A audácia maior do ponto de vista compositivo, está sem dúvida alguma, com Paulo Monteiro. Que trabalha com o espaço, cria profundidades ilusórias de interiores inventados em total liberdade construtiva, justapondo elementos de densidade diversa em clima de intensa dramaticidade, a figura humana se confundindo formalmente com as formas minerais ou industrializadas em tratamento pictórico unitário por toda a superfície do trabalho.


Serviço

"Casa 7", coletiva
Curadoria: Guilherme Bueno
Abertura: 3 de julho de 2004
Visitação: 3 de julho a 26 de setembro de 2004

Museu de Arte Contemporânea - MAC - Salão Principal
Endereço: Mirante da Boa Viagem, s/n – Niterói RJ
Informações: 21 2620 2400 / 2620 2481


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Publicado em 31/08/2023

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