Alexandre Dacosta abre a exposição "Percursos de Coexistências Improváveis", no dia 13 de julho de 2013, às 17h, no Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Artista visual, músico, compositor, cineasta, ator e poeta, Dacosta, após lançar seus dois livros em 2011 (ADJETOS e [tecnopoética]), apresenta, nesta exposição, trabalhos realizados de 2007 a 2013.

São pinturas, esculturas, objetos, vídeos conceituais e uma nova série chamada Úmido - Natura Mortis, que é uma homenagem à pintura clássica de naturezas mortas. "São 16 impressões fotográficas sobre tela de diversos objetos do cotidiano como produtos de limpeza, artefatos de cozinha, materiais de escritório e outros, 'clicados' através de um vidro opaco, que quando são impressos dão uma fluidez líquida de aquarela, cenas metafísicas que criam uma ilusão pictórica na trama do tecido", comenta o artista.

Dez pinturas sobre tela e linho cru da série Tabela de Cor, realizadas de 2010 a 2013, também farão parte da mostra. São construções de um colorido denso, onde o espaço vazio da cor dialoga com linhas, manchas e figuras geométricas, e cada quadro tem sua escala de cor correspondente pintada, como uma alusão à tabela utilizada pelos fotógrafos quando registram uma pintura. "De 1986 a 1991, fiz uma série de pinturas que eram bem monocromáticas, em tons de vermelho, brancos com branco e cinzas claros, e os fotógrafos diziam ser difícil fotografá-las. Então, comecei em 1995, a fazer essa séria chamada Tabela de Cor", explica Alexandre.

Nas esculturas de parede, ele utiliza a transparência do vidro como construtivas invenções que lembram um aparato quase científico. São utilizados grandes tubos, placas e diversos materiais como: borracha, metal, plástico, água – que habilitam experiências e que, pelos títulos, sugerem um mergulho intrínseco no desconhecido – Princípio de Incerteza, Nuvem de Probabilidade e Curva de Coexistência. "Essas esculturas pra mim tem uma fisionomia etérea, um aspecto de pleno enigma. Elas demonstram, por sua transparência e leveza, uma arqueológica nostalgia de um possível futuro", afirma o artista.

Os Instrumentos Indecisos da série ADJETOS e poemas-objeto e poesias gráficas ampliadas do livro [tecnopoética] também serão mostrados por possuírem questões que sempre permeiam sua obra, como o humor refinado e crítico. "Tudo que faço tem humor. Um riso de Monalisa, sutil, subliminar, faz parte do meu processo de trabalho, que é o de realizar uma arte que tangencia a filosofia, incorpora a poética, e não seja apenas contemplativa, mas impregnada de dúvidas e aberta a interpretações", diz.

Na abertura da exposição, Dacosta fará um show acústico com as canções do seu CD Livro ADJETOS (músicas feitas para objetos) utilizando sua viola de 10 cordas, além do violão de Marcelo Camera. Exibirá, ainda, sua peça musical Em Raios Fúlgidos (2013), uma vídeo-partitura interpretada ao vivo pelo fagotista Marcio Zen, e que faz parte do projeto Participatura - Metodologia do Espontâneo (composições musicais cujas partituras são vídeos projetados para os músicos interpretarem à sua maneira a escrita visual-musical) e mostrará sete vídeos conceituais – a serem projetados continuamente durante toda a exposição numa das paredes do MAC – dirigidos e produzidos por ele mesmo.
    Quantas surpresas poéticas são entrecruzadas nas obras e processos de Alexandre Dacosta? Em cada trabalho uma estrutura desviante da razão que não se prende a um fazer, mas sim a um constante desfazer de sentidos, descriar desobediente que se realiza com o humor de um construtivista de improbabilidades. Alexandre é um anti-filósofo, anti-cientista e anti-artista, mas que enquanto poeta acima de tudo, permanece desfazendo as certezas nas ordens do mundo.

    A concepção dessa mostra procura oferecer ao visitante um percurso quase tátil de sobrevôo ao incansável laboratório de coexistências improváveis, que indaga a todos sobre a própria distância e semelhança entre o lugar do artista e do cientista – quando ambos são guiados pela busca das incertezas. Mas enquanto sob o domínio do estado poiético se aproxima de ambos, atraído pelos problemas da realidade, rejeitando qualquer de-finição.

    Como autêntico poeta herdeiro de Mallarmé ou poiete (aquele que faz) desfaz e rejeita o mundo de esgotamentos lógicos ou de determinismos estéticos e éticos. Faz poemas – coisas, poemas atos, partituras vídeos, elevando a experiência artística a uma insustentável “nuvens de probabilidades”. Dacosta relembra um Leonardo Da Vinci recolhido ao avesso do século XXI – não inventando máquinas de guerra ou vôos, mas “instrumentos indecisos – adjetos”.

    Prezado visitante, preste atenção aos pequenos universos tecnopoéticos de Alexandre, onde poderíamos invocar em sua prática artística uma pedagogia da descriação poiética – que realiza o compromisso maior do ser humano com o estado de inventor de “inutensílios” do dia a dia. Mas como afirma Dacosta, “ao deslocar a percepção para uma invertida reflexão do cotidiano procuram cartografar a intimidade anímica da matéria – sua fisionomia, forma, textura, componentes, é que sugerem sua partitura (…) todas com um particular humor subliminar”. Com o desfazimento dos utensílios em inutensílios, Alexandre desconstrói máquinas e aparelhos de funcionamentos domesticados, para a desinvenção e re-invenção enquanto organismos animados de perguntas entre o nada e o ser das coisas.


    Luiz Guilherme Vergara
    Curador – Diretor


Mais sobre o artista:

Alexandre Franco Dacosta é professor do Curso Fundamentação, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage/ RJ. Realizou onze exposições individuais, RJ / SP - e mais de 70 coletivas no Brasil e no exterior, apresentando pinturas, esculturas, objetos ou instalações. Como cantor, músico e compositor, além de fazer trilhas sonoras para filmes e vídeos, criou, com sua mulher Lucília de Assis, a dupla "Claymara Borges e Heurico Fidélis" e gravou os CDs Cascata de Sucessos/1992 Leblon Records e Pirata Ao Vivo/2003, e como cantor Todos Por Um - Corator Canta Ubirajara Cabral/coral de atores/2004. Faz parte também do grupo Cantadores de Histórias, com Leda Lessa e Naldo Miranda. Como diretor e roteirista produziu 14 filmes de curta-metragem - 6 ficções, 3 documentários, 5 experimentais - tendo ganho 11 prêmios em festivais. Como ator, participou de mais de 40 filmes, 17 peças de teatro e musicais, diversos seriados, minisséries e novelas. Como poeta, participou do número 1 da revista Lado 7, da antologia poética República dos Poetas/Ed. Museu da República/2005, do libreto Vínculos de Equilíbrio/CEP 20.000/2004 e participou dos livros de artistas plásticos, Dialeto 1/1997 e Dialeto 2/2001, além de colaborar com áudios de poesias no programa semanal radiocaos.

Alexandre cresceu em "berço plástico", filho dos consagrados pintores Milton Dacosta e Maria Leontina, e também primo do compositor paulista Walter Franco, desde cedo começou a compor e fazer filmes Super 8. Advindo da Geração 80, como extensão de sua pintura construtiva, realiza desde 1987 esculturas e instalações acoplando diversos objetos industrializados numa convivência inusitada que faz referência à arte conceitual brasileira dos anos de 1970.

    Alexandre Dacosta é o artista da hibridez, da integração das artes, do que eu prefiro chamar de “arte verbal”. por associar imagens e letras, no caso dele, também palavras ou, no extremo, criando sem palavras. Do poema-objeto ao objeto-poema. Pós-concreto, associa imagens e textos discursivos. , por Antônio Miranda, Poeta, escritor, dramaturgo e escultor


Serviço:

Exposição "Percursos de Coexistência Improváveis", do artista Alexandre Dacosta
Abertura: 13 de julho de 2013
Em cartaz: até o dia 25 de agosto de 2013
Horários: De terça a domingo, das 10 às 18h

Local: MAC de Niterói – Mezanino
Endereço: Mirante da Boa Viagem, sem número
Informações: 2620-2400 ou 2620-2481


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Publicado em 02/06/2013

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