Por decreto publicado no Diário Oficial, o Prefeito Moreira Franco que em abril extinguiu o Instituto Niteroiense de Desenvolvimento Cultural (INDC), criando, em seu lugar, a Fundação Atividades Culturais (FAC), nomeou ontem, 1º de junho de 1977, para exercer o cargo de presidente do novo órgão, o advogado e produtor artístico Albino Pinheiro.

A transformação do Campo de São Bento num local de encontro dominical da arte, literatura, artesanato, música, recreação e cultura em geral é um dos mais importantes objetivos de Albino Pinheiro, novo presidente de Fundação recém criada. O já famoso homem de cultura do Rio pelas atividades desenvolvidas, disse após ter assumido o novo cargo, que pretende dar a Niterói uma projeção nacional em termos de atividades culturais, que estão em diretrizes desde que o Prefeito Moreira Franco tomou posse, há 4 meses.

Muito otimista devido à resposta que a comunidade niteroiense deu às primeiras apresentações da FAC após a sua posse, Albino Pinheiro explicou que de seu órgão só conhecia a existência dos teatros Municipal e Leopoldo Fróes. Ainda estruturando sua equipe de trabalho, Pinheiro disse estar em fase experimental, sentindo que o público tem, que espetáculo prefere e quais as pessoas da cidade envolvidas com atividades culturais que ele poderá arrebanhar para sua equipe.

Por isso mesmo, acrescentou que as promoções feitas até agora têm sido variadas, sem um cunho de continuidade de linha visando aquilatar o gênero preferido pelo niteroiense, qual a clientela disponível. Paralelamente, duas das três primeiras pessoas que já fazem parte de seu grupo de trabalho, estão realizando um levantamento do que já existe em matéria de cultura na cidade, quais os grupos de teatro, bandas, conjuntos, grupos literários, pintores, escultores, músicos e outros representantes da arte em geral para que possam ser acionados e ganharem apoio da FAC. Somente após obter todos estes dados, disse Albino Pinheiro, é que poderei organizar a programação do órgão não só visando atender aos gostos da comunidade como também despertando-a para outros tipos de atividades.

Semanas atrás, ao ser anunciada a vinda de Albino Pinheiro para a presidência da FAC, gritos e sussurros da chamada intelectualidade niteroiense se fizeram ouvir devido ao bairrismo acentuado depois que a cidade perdeu o status de capital. Entretanto, conforme declarou presidente do órgão, "até agora não senti diretamente nenhum repúdio à minha pessoa e nenhuma forma de manifestação contra minha presença. Ainda não tive tempo de ficar seguidamente na cidade mas, quando aqui estou os afazeres são muitos e não sobra tempo para contatos que poderiam gerar tal tipo de reação".

Por só saber da existência dos dois teatros na cidade - que por sinal estavam fechados há vários meses - Albino Pinheiro disse que sua primeira providência foi reabri-los, pelo menos, nos fins de semana. "Assim, lancei mão de shows e peças já montados e que estavam disponíveis no Rio, conforme foi o caso de Macalé; A Feira do Adultério; Lúcio Alves e Dóris Monteiro; e Computa, Computador, Computa. Os dois primeiros foram levados na primeira semana nos teatros Leopoldo Fróes e Municipal e achei os resultados surpreendentes. As casas ficaram cheias, o que me animou a contratar a segunda dupla de atrações que termina sua apresentação no domingo 26 de junho".

Albino Pinheiro, que também é diretor do Teatro João Caetano, no Rio, explicou que pretende fazer do teatro seu ponto de desencadeamento de atividades. Assim é que as duas casas do gênero já estão com suas programações quase prontas para o mês de julho. Por outro lado, esclareceu que está em seus objetivos transformar o Leopoldo Fróes num teatro experimental, de laboratório, de apoio aos jovens que estão iniciando a carreira; enquanto que o Municipal seria a casa para espetáculos mais arrojados, de uma linha mais estabelecida, mais tradicional.

O criador do show "Seis e meia", sucesso marcante no João Caetano, ainda não cogita implantar algo semelhante em Niterói, pelo menos enquanto não souber ao certo a disponibilidade e gosto do público. Entretanto está muito preocupado com os interesses da classe universitária aqui representada por 15 mil estudantes, e se sua opção for espetáculos semelhante aos do Rio não hesitará em promover. Para dar mais ênfase as atividades de agrado do universitário, Albino Pinheiro deixou transparecer que poderá inclusive fazer contatos mais diretos com a Universidade Federal Fluminense. Outros contatos através até de convênios deverão ser mantidos com a Secretaria Estadual de Educação visando desencadear as atividades culturais junto aos alunos de 1° e 2° graus do município. Mas, enquanto isso não é realizado, será promovido entre os alunos de 2.° grau um concurso de monografia sobre Niterói.

Albino Pinheiro se mostrou ainda muito preocupado porque "a cidade não tem memória". Assim, é sua intenção documentar, das várias formas possíveis, tudo o que existe no município para que aos poucos se tenha o histórico da cidade nos termos mais recentes.

O presidente da FAC informou que na próxima semana já estará novamente funcionando o Centro Cultural Pascoal Carlos Magno, no Campo de São Bento. Inicialmente será realizada uma exposição de pintura e, mais tarde um pouco, ali também serão ministrados cursos de cultura dos para uma determinada classe ou abertos à comunidade.

Por achar que a música é uma das formas mais eficientes de cultura, Albino Pinheiro entrará em contatos com a Polícia Militar para que juntamente com a corporação seja dispensada maior ênfase as retretas em praças públicas que vem sendo feitas esporadicamente pela PM. Com o apoio, divulgação e incentivo da FAC, ele acredita que um maior número de pessoas da comunidade poderá desfrutar dessas atividades.

O também criador da Banda de Ipanema ficou muito empolgado ao saber da existência de bandas semelhantes em Niterói. Entretanto, entrará primeiramente em contatos com a Enitur - responsável pelas atividades carnavalescas no município para saber até que ponto seu órgão poderá incrementar a atuação das bandas.

Em síntese. Albino Pinheiro explicou: o órgão será norteado em primeiro lugar pelo teatro; em segundo, pelas outras formas de cultura; e em terceiro por convênios para estimular as atividades culturais dos estudantes".

Finalizando, Albino Pinheiro, sem nenhuma modéstia disse: "certamente não foi por meu comportamento político que o Prefeito Moreira Franco me convidou para ocupar o cargo. Acredito muito mais que a repercussão de minhas atividades no Rio tenham despertado seu interesse e, por isso mesmo, tudo farei para não decepcioná-lo e dar a Niterói a projeção que merece".

A Fundação de Atividades Culturais de Niterói foi criada pela Lei Municipal n.º 103 de 24 de abril de 1977, para substituir o antigo INDC. Segundo Albino Pinheiro, essa nova estrutura permite à Fundação uma autonomia financeira e de promoções o que anteriormente não ocorria com o INDC.

    Niterói de luto por Albino Pinheiro

    Segundo me contaram, a escolha de Albino Pinheiro para presidente da FAC, que vem substituir o INDC, está provocando borboletamento geral entre os intelectuais nictheroyenses, dispostos mesmo a colocarem luto no dia da sua posse. Realmente não consigo entender muito bem nem esses ditos intelectuais, nem esse tipo de julgamento nazista que querem lançar na praça, como quem lança um livro de trovinhas, condenando de antemão um sujeito que nem mesmo começou a trabalhar, tão somente pelo fato de presidir a Banda de Ipanema. Posição, aliás, que até me parece bastante simpática: há muito intelectual por aí capaz de ser reprovado em concurso pra tocador de bumbo na Lira de Xopotó.

    Não conheço Albino Pinheiro, mas pelo medo que espalhou na minhocada da terra, só pode ser um cara inteligente, capaz de distinguir quem - é de quem-pensa-que-foi. O diabo é que Niterói precisa acabar com essa intelectualice, que já está ficando chata, e partir pra uma de trabalhar. Há quatrocentos anos que e nictheroyense não tem tempo de fazer nada, porque leva o tempo todo reclamando de que não há nada para fazer. Numa cidade com tal superprodução de intelectuais, o que eu quero é que todos eles me chamem de burro. Em terra de cego, quem tem um olho é rei...

    Emmanuel de Macedo Soares

Com informações de O Fluminense, de 2, 12 e 26 de junho de 1977 Pesquisa e Edição: Alexandre Porto


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Publicado em 10/09/2021

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