Veterinário, radialista e compositor da velha guarda, nascido e criado em Niterói, Almanir Grego foi autor de grandes sucessos do carnaval, com atuação musical constante entre as décadas de 1930 e 1950. Apesar de uma carreira artística reconhecida, foi apenas em 1992, aos 83 anos, que o artista lançou seu primeiro LP solo, pelo selo Niterói Discos.

Filho de Jorge Elías Grego e Catharina Jorge Grego, Almanir nasceu em 8 de junho de 1908. Fez todos os seus estudos até o curso superior - Colégio Felisberto Carvalho, Colégio de D. Tinhá (particular), o noturno da Associação dos Empregados do Comércio e o Instituto Niteroiense, onde fez preparatórios para o ingresso na Escola Fluminense de Veterinária. Diplomou-se também como guarda-livros.

Enquanto estudava, aos 11 anos iniciou a vida como comerciário, na Camisaria Fluminense. Foi bancário, tendo trabalhado no Banco de Crédito de Estado do Rio e no Banco Predial. Em 1930, após a revolução, trabalhou na Prefeitura de Macaé como secretário de Atas. Em 1932, terminada a Revolução Paulista, trabalhou como secretário do Órgão Município de Sorocaba e, como secretário da Escola Normal e Ginasial da cidade.

Começou a compor em 1924 e em 1935 teve sua primeira composição gravada, "Beijo Mascarada", em parceria com o também niteroiense Oswaldo Chaves Ribeiro, o Gadé, "levada à cera" pelo cantor João Petra de Barros, na gravadora Odeon.





Almanir compôs mais de 200 canções tendo como parceiro importantes nomes da música popular brasileira, como Valfrido Silva, Alcyr Pires Vermelho, Alberto Ribeiro, Ruthnaldo e André Filho, teve Gadé como parceiro mais constante. Participou do início do movimento pelo direito autoral desde a SBAT (Sociedade Brasileira de Autores), até a fundação da UBC (União Brasileira dos Compositores).

Além das irmãs Aurora e Carmem Miranda, suas composições foram lançadas por grandes estrelas da Era do Rádio, como Elizeth Cardoso, Aracy de Almeida, Raul de Barros, Jorge Veiga, Linda Rodrigues, Quatro Ases e Um Coringa, Orlando Silva, Gordurinha, Noite Ilustrada, entre outros. Seu maior sucesso foi o choro "Polichinelo", gravado por Carmen Miranda e Ademilde Fonseca.

Como radialista, foi companheiro de Atilla Nunes, Chuca-Chuca e tantos outros. Depois de inaugurada, em 1935, a Rádio Sociedade Fluminense (PRA-6), tornou-se um dos primeiros radioatores do Brasil, contracenando com Arlete Machado no chamado "radio-teatro-sintético", esquetes humorísticas de autores como Luís Antônio Pimentel, José de Mello Matoso e Dionisio Alves. Gomes Filho, diretor da rádio, o denominava "A Voz da Cidade Sorriso".

Grande folião, era conhecido no carnaval de Niterói tanto como compositor de marchinhas, como participante de blocos. Comandou, no tempo dos banhos de mar a fantasia, blocos como o dos Solteiros, nascido da proibição de entrada dos solteiros nos blocos de casados do Clube Fluminense do Gragoatá. Segundo depoimento dele mesmo, o bloco era "composto por mais de trezentos figurantes e todos solteirinhos da silva".


"Quem tirou a liberdade dos casados, foi Eva
Quem botou os freios nos coitados, foi Eva"



Apesar da fama de solteirão, casou-se com Marília Teixeira, em 1943, e em segunda núpcias com Francis Motta.

Em companhia de amigos, Almanir fundou diversas outras agremiações momescas, como o Bloco dos Inocentes Canibais; dos Candolecas; do Gargarejo; o Bloco Pé no Fundo; o Deixa Falar e a Caravana Africana. Compunha para quase todos eles.

Com a popularização do cinema nacional, compôs para o filme "É fogo na roupa", de Watson Macedo, duas canções: uma para a cena do cabeleireiro e outra, em parceria com Ruthnaldo, que foi interpretada por Elizeth Cardoso, em uma de suas primeiras aparições artísticas, chamada "Ingratidão". Outro grande sucesso de sua carreira.

Como veterinário, na década de 1940 foi nomeado para exercer o quadro permanente do Ministério da Agricultura e integrou a diretoria da Associação Fluminense dos Engenheiros Agrônomos e Veterinários. Nos anos 19660, lecionou no Instituto Vital Brazil, em Niterói. Foi candidato a uma vaga n Câmara Municipal de Niterói em 1958 e 1962, pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), e a deputado federal pelo MDB em 1974. Nesta última eleição, apareceu na TV cantando o hino do veterinário, composto por ele.

Sem cobrar um tostão, compôs mais de 250 hinos para agremiações políticas, esportivas e educacionais, como a Universidade Federal Fluminense (UFF), o Instituto Abel e a Associação dos Jornalistas. Homenageou também árbitros de futebol, agrônomos e até trabalhadores de exposições leiteiras.

A pedido da cronista Marlet Miriam, compôs um hino de despedida de Niterói como capital do Estado, para uma solenidade que aconteceria antes da fusão do estados do Rio e Guanabara, em 1975, mas que não foi realizada. A letra do hino é esta:


A Velha Capital se Despede

Foste Capital, Vila Real, minha querida Niterói
Serás sempre formosa, alegre, jovial
Rica é tua história
Neste colosso Estado pioneiro
Linda praiana, tu és princesinha do Estado do Rio de Janeiro

Não haverá prejuízo
Pois Niterói sendo ou não Capital
Sempre será cidade Sorriso
E joia assim não existe outra igual



Em 1984, fundou em Niterói o "Templo da Seresta", uma entidade de cunho literomusical, destinada a preservar o que havia de melhor na música popular brasileira, prestando constantes homenagens aos autores e intérpretes. Como escritor, escreveu "Bloco e Solteiros", um livro que conta a história dos banhos de mar à fantasia em Niterói.

LP da Niterói Discos

O disco, gravado em 1992, é composto por 6 faixas. Abrindo o lado A, está o primeiro e um dos mais conhecidos hinos de sua autoria: "Grande Jornal Fluminense", música que abria o programa homônimo, pioneiro do jornalismo radiofônico fluminense dos anos 1940 a 60. Na sequência, o foxtrote "Lágrimas da Esperança" e "Um Tal Doutor", samba de breque lançado por Moreira da Silva, em 1943.

No lado B, "Vila Real da Praia Grande", hino a Niterói, composto em 1963 em parceria com o professor Nilo Neves; a valsa "Minha Primavera", composta por Almanir em parceria com Gadé, e a divertida "Cabo Eleitoral", marchinha temperada pela crítica política, que fecha o repertório.

Almanir Grego faleceu em Niterói onde foi sepultado em 1 de agosto de 1997.


"Vila Real da Praia Grande" (Almanir Grego e Nilo Neves)

Vila Real da Praia Grande,
Hospitaleira, operosa
Vila Real da Praia Grande,
Terra feliz, dadivosa!
"Cidade Sorriso, encantada...
"Niterói, Niterói, como és formosa!"

A favor do Brasil unido, Imenso,
Aprendeste a lição do índio herói,
Começando a escrever, em São Lourenço,
A história da querida Niterói

Evocando, orgulhosos, teu passado
De cultura, de trabalho e de nobreza,
Nos louvamos que Deus nos tenha dado
A paisagem de luz da natureza



Obra

"A voz do povo" (c/Frazão), "Beijo mascarada" (c/Gadé), "Calma Dinorah" (c/Valfrido Silva), "Cantora de samba", "Coisas que ficaram para trás" (c/Alberto Ribeiro), "E o mundo se distrai" (c/Amado Régis e Gadé), "Ela vai à feira" (c/Roberto Roberti), "Eu e a lua" (c/Gadé), "Ingratidão" (c/Ruthnaldo), "Livro do passado" (c/Valfrido Silva), "Meu amor és tu" (c/Amado Régis e Gadé), "Minha primavera" (c/Gadé), "Nóis dois" (c/Gadé), "Noivado desfeito" (c/Gadé), "O que é que eu tenho com isso" (c/Amado Régis e Gadé), "Onde ficou a minha sorte?" (c/Gadé), "Ora...ora" (c/Gomes Filho), "Petisco do baile" (c/Gadé), "Polichinelo" (c/Gadé), "Pra que tanto balanço, Primavera da vida" (c/André Filho), "Princípio de amor, Pura ilusão" (c/ Gadé), "Síria-libanesa" (c/Alcyr Pires Vermelho), "Tim-tim por tim-tim" e "Trombone na gafieira" (c/Luiz Carneiro).


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Publicado em 27/07/2022

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