Maestro, arranjador, compositor, teatrólogo, pianista e crítico, Assis Pacheco é paulista de Itu, onde nasceu a 08 de janeiro de 1865. Iniciou sua vida como jurista, mas ao chegar ao Rio de Janeiro, na década de 1890, enveredou para a arte cênica, inclusive o teatro musicado. É no clube de amadores, que levava seu nome, que estreia o grande ator Leopoldo Fróes.

Nascido de uma abastada família, Francisco de Assis Pacheco Neto iniciou estudos musicais em sua cidade natal, continuando-os na Itália, onde cursou composição com Amintore Galli. Em 1887, bacharelou-se em direito e publicou um livro de poesias, com o título "Vespertinas". No jornalismo, colaborou com a 'Revista Teatral', o 'Cidade do Rio', o 'Jornal da Tarde', o 'Correio Paulistano', "O Fluminense" (Coluna Sylphorama), entre outros. Fundou a 'Quinzena Paulista', com Emiliano Perneta, e o 'Braz Cubas', com Marinho de Andrade, Severiano de Rezende, Mário de Alencar e outros.

Logo depois de formado, em 1888, estabeleceu-se como advogado na cidade de Santos, sendo, nesse mesmo ano, nomeado procurador fiscal da Tesouraria de Fazenda do Estado, cargo que deixou em 1890 para exercer o de promotor público da capital de São Paulo.

No mesmo ano finaliza o libreto e a partitura da uma ópera em 1 ato, "Moema", apresentada numa récita ao piano, e que foi cantada em 1889, no Theatro São José, de São Paulo, por uma companhia italiana.

Após uma viagem ao Rio da Prata, Assis Pacheco mudou-se em 1891 para o Rio de Janeiro e logo se entusiasmou pelo teatro musicado, frequentando rodas boêmias, com Olavo Bilac e Artur Azevedo, entre outros. Em Niterói passou a atuar como maestro e ensaiador no Clube Dramático 27 de Julho, do amigo e médico Mário Continentino e que tinha um teatro próprio na rua Nova, hoje General Andrade Neves, em São Domingos. Para o clube, escreveu, entre outras, a revista "FF e RR".

Assis Pacheco apresentou-se pela primeira vez ao público carioca como maestro regente de orquestra no Teatro Apolo, localizado na rua do Lavradio. O elenco representava dramas, operetas, revistas, mágicas, peças fantásticas e "vaudevilles". Na estreia da companhia, Assis Pacheco empunha a batuta para dirigir a orquestra na linda opereta, em três atos, "A cigarra e a Formiga", de Edmond Audran (1842-1901).

Como ator, em 1892 atua na mágica "A Pera de Satanás", de Eduardo Garrido.

Em 1891, compõe a revista "O Tribofe", de Artur Azevedo, e dois anos depois, estreia, no Teatro Lucinda, sua revista "Itararé". Em 1894, a 12 de junho, estreia no Teatro de Variedades Dramáticas, do Rio de Janeiro, sua revista Aquidabã, apresentada no mesmo ano no Teatro Éden Lavradio; o vaudeville 'O Amor Patife', de Gastão Bousquet; e, com Nicolino Milano e Luís Moreira, 'A Capital Federal', apresentada em 1897. Em 1895, a atriz e cantora Elisa de Castro apresenta seu romance 'Elixir d'Amore'. Em 1896 compõe as músicas das revistas 'Fantasia' e 'O Bilontra', ambas de se amigo Arthur Azevedo; a revista "A Árvore das Patacas", de Demétrio Toledo; e o drama de costumes, "A Guerra Civil", de A.C. de Oliveira. No ano seguinte compõe as músicas da comédia "O Conselheiro", de Valentim Magalhães. Sua ópera 'Flora' é cantada no Teatro Lírico do Rio de Janeiro a 8 de janeiro de 1898.

Após o rompimento entre o Dr. Continentino, Assis Pacheco deixa o 27 de Julho e funda, também em Niterói, um clube de amadores que levou o seu nome, e que logo mostrou grande atividade, exibindo principalmente óperas e operetas. O Clube Assis Pacheco dá sua récita inaugural na noite de 7 de agosto de 1898, no Theatro Municipal de Niterói, encontrando-se repleta a casa. Em cartaz, o vaudeville "Lobo e Cordeiro" em quatro atos, original de Pedro Augusto, ator do clube.

Em sua coluna de 'O Fluminense', a 13 de julho de 1899, assim o maestro se referiu ao clube, no seu primeiro aniversário:

"[...] lembro-me de que foi a 13 de junho de 1898, justamente há um ano preciso, que alguns rapazes reuniram-se ali, no salão nobre do Congresso Literário Guarani, e, sob a direção interina do amabilíssimo Guilherme Briggs, aclamaram o meu melhor amigo presidente de uma sociedade dramática, para cuja denominação pediram-lhe o nome... Ora, o meu melhor amigo, muito emocionado, tartamudeando sinceros agradecimentos, mas infinitamente inferiores à honra que lhe faziam, obedeceu à generosa escolha dos excelentes rapazes; e a associação chamou-se alfim, num estrépito de palmas festivas: Clube Dramático Assis Pacheco."

Essa agremiação viveu até 1901, tendo mantido durante os dois primeiros anos franca rivalidade com o 27 de Julho, chegando associados seus a ‘patear’ os espetáculos do outro. Para o clube escreve várias operetas e revistas, além de musicar outras, como "Moema", "Estrela", "Ilha da Trindade", "Besouro Encantado", "Naná Sarilho", "Aquidabã", "Itararé", "Gragoatá", "O Chifre do Diabo", "Engrossa", "Borboleta Dourada", "Pró-tó-có", "Fada de Coral", "Notas Falsas", "João José" e "Joanico", este um dos espetáculos mais revisitados pelos clube amadores de Niterói. Foi também no Clube Assis Pacheco onde o ator Leopoldo Fróes deu seus primeiros passos na ribalta.




Em junho de 1899 se alia ao ator Francisco Bastos para arrendar o recém municipalizado Theatro Municipal de Niterói. Na assinatura do contrato, lavrado a 15 de Junho, os contratantes fizeram o depósito de 1:500$000 e se comprometeram a pagar 50$000 por espetáculo, além da quantia de 10$000 do aluguel do botequim, que só funcionaria em noites de espetáculo, e as despesas do gás que iluminava a casa de espetáculos.

Nas comemorações do IV Centenário do Descobrimento do Brasil, em janeiro de 1900, obteve o primeiro prêmio com a cantata 'Brasil', com versos de Olavo Bilac. Na mesma data, no Teatro Lírico, é representada sua ópera 'Estela' (intitulada 'Dor' na partitura original). Sua obra seguinte é "Ti-Tim-Mirim", revista que estreia a 25 de junho de 1903, no Teatro Lucinda. Escreve depois "Romeu e Julieta", poema sinfônico; "Plainte", quarteto para cordas; muitos romances sem letra, noturnos, além das óperas "Cleópatra", "Jaci" e "A Mansarda". Sem esquecer, também, de "Rosa encantada", uma mágica que fez grande sucesso; de "Sete Estrelas" e "Rosita", duas lindas operetas que eram do repertório da Companhia Armando de Vasconcelos.

Em 1902 parte para Porto Alegre, onde atua em diversas companhias. Em 1905, a atriz Pepa Delgado grava na Odeon suas músicas "Um samba na Penha" (com Álvaro Peres e Álvaro Colás) e "A recomendação". Três anos depois, a convite de Alberto Nepomuceno, rege alguns concertos sinfônicos durante a Exposição Nacional, que comemorava o centenário da Abertura dos Portos no Brasil.

Ainda em 1908, parte para Portugal, onde começa como regente no Teatro Avenida, de Lisboa. Muito embora fizesse constantes viagens ao Brasil, como maestro de várias companhias portuguesas, permanece no teatro daquele país até 1920. Nessa época volta ao Brasil para ficar. Continua compondo, obtendo sucesso com 'Mimosa' e 'Carnaval do amor' (ambas com texto de Leopoldo Fróes). Em janeiro de 1920 é o maestro da Companhia "Eden-Theatro" de Lisboa, que se apresentava no Teatro São José, de São Paulo. Em 1928, Francisco Alves gravou sua canção "Copacabana", na Odeon. Suas últimas composições, 'Montmartre' e o episódio "Jesus", datam de 1931.

A última companhia em que trabalhou com caráter efetivo foi a Companhia Zig Zag, no Teatro São José, em 1927. Desde então, seu ânimo é posto à rigorosa prova. A catarata insidiosa toma-lhe por completo, uma vista e inicia sua obra na outra, levando-o à cegueira. Submete-se à operação em dezembro de 1935, na véspera de Natal. Volta a enxergar, e procura sempre com o mesmo entusiasmo trabalho que lhe permitisse uma vida honesta.

Passou os anos finais de vida trabalhando ao lado do maestro Heitor Villa-Lobos no projeto de instituição do canto orfeônico nas escolas públicas do Rio de Janeiro, onde faleceu a 28 de fevereiro de 1937, vitimado por um colapso cardíaco.


Notas

Certa feita, Leopoldo Fróes após receber uma grande consagração do público, disse: "Meus amigos, vou mostrar-lhes quem me meteu neste negócio." E apontou o maestro Francisco Assis Pacheco, sentado numa das primeiras filas na plateia.

Encontro com Villa-Lobos: "Em 1932, Villa Lobos iniciava nas Escolas da Prefeitura o Serviço de Canto Orfeônico. Certo dia, Assis Pacheco procurou-o para ver se conseguia fazer para o mesmo, algumas cópias de música. Villa Lobos recebeu-o dizendo: "Mas, maestro, o senhor vem pedir trabalho de cópia de música! Um brasileiro ilustre como o senhor?". "Que queres, Vila, a vida é assim; já estou velho e ninguém me quer", respondeu Assis Pacheco.

Jornal 'A Noite' em 1937: "A morte de Assis Pacheco veio trazer a lume um nome que, tendo brilhado no cartaz da notoriedade durante longos anos, por último se diluíra em pesado silêncio. O maestro não mais figurara, desde tempo distanciado, nos lugares que conquistara pelo talento e pelo esforço bem aplicados. É que, ao termo de lidados anos, a saúde faltara-lhe. Moléstia rebelde dos olhos, privando-o da vista, cerrava ao grande trabalhador todas as possibilidades E, pesaroso, tivera ele que se recolher ao lar e se resignar ao infortúnio físico quando, no entanto, sua inteligência muito poderia ainda render de útil e de belo. Com a morte, seu nome ressurgiu na lembrança de quantos o admiraram e aplaudiram."


Fontes: Jornais 'A Noite'; 'O Álbum'; 'A Nação'; 'O Fluminense'; e "Enciclopédia da Música Brasileira: erudita, folclórica e popular" (1977).


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Publicado em 03/01/2025

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