Memória: 22 de março de 2002
Projeto leva música erudita a prédios históricos restaurados, visando movimentar as visitas aos monumentos
Conhecer monumentos históricos muitas vezes pode se tornar entediante. Mas não nas construções restauradas recentemente pela Fundação de Arte de Niterói, a FAN. A partir de agora vai ser possível conciliar música de boa qualidade aos ambientes da Igrejinha de São Francisco, da Igreja de São Lourenço dos Índios, do Solar do Jambeiro e do Teatro Municipal. É o projeto 'Música e Patrimônio', idealizado pelo artista plástico e presidente da FAN Cláudio Valério Teixeira.
Inspirado em um projeto homônimo existente em Paris, cidade que visitou no ano passado, Cláudio Valério resolveu aproveitar a acústica destes locais, excelente segundo ele, para movimentá-los. "Se você faz o patrimônio funcionar, ter uma animação, você faz ele ser querido pelo público. Além disso, estamos criando um mercado para os músicos eruditos, que não têm espaço", explicou Valério.
A diretora do Teatro Municipal, Marilda Ormy, tem opinião semelhante. "Vamos, mais uma vez, valorizar os locais restaurados, mas queremos muito mais do que levar música para atrair o público. Queremos a participação da comunidade local. As pessoas precisam saber da existência desses lugares", ressaltou.
Segundo Marilda Ormy, a ideia é que o projeto seja permanente. "Queremos estar levando música pelo menos uma vez por mês a esses lugares", diz. Ela lembra que, no Municipal, o Música e Patrimônio será incorporado ao projeto Quarta Clássica, que funciona no Teatro há seis anos. Para Marilda, o processo de reativação do local é um bom exemplo do que se quer fazer com os outros pontos históricos.
"Hoje, boa parte das atividades que temos aqui são resultado da participação dos frequentadores na vida do Teatro", contou Marilda, lembrando que a participação da equipe de funcionários do teatro também é fundamental. "Eles são bárbaros", elogiou.
Segundo o diretor da FAN esse projeto pode, ainda, ser ampliado para outros monumentos. "Niterói tem patrimônios históricos de boa qualidade", afirma. Para ele, investir na cultura é a principal arma contra a violência. "Nas cidades em que a cultura é importante, a violência é muito menor", declarou.
Um Pouco de História
Igreja de São Francisco Xavier - Construída no alto de uma colina, entre as praias de São Francisco e Charitas, é uma notável relíquia do Brasil-colônia. Consta ter sido fundada pelo padre José de Anchieta, em 1572, embora historiadores reportem sua origem ao ano de 1696.
Igreja de São Lourenço dos Índios - Foi reinaugurada em 22 de novembro de 2001, durante as comemorações do aniversário da cidade. A restauração artística, que envolveu o retábulo e o orago da Igreja de São Lourenço dos Índios, foi executada pelo professor Domingo Isaac Tellechea, diretor do Instituto Paulista de Restauro, e sua equipe. Ela é considerada monumento da fundação da cidade de Niterói, tendo sido erguida pela primeira vez em 1573. Sua estrutura atual é datada de 1627, construída pelos jesuítas. Possui no altar-mor um retábulo, que é considerado um precioso exemplar da arte barroca no fim do século XVI, assim como outras peças históricas.
Solar do Jambeiro - Foi construído em 1872 pelo comerciante português Bento Joaquim Alves Pereira. Retrato típico de uma época de luxo e riqueza, o Solar é um exemplar notável da arquitetura residencial urbana de meados do século XIX, com autênticos azulejos de padrão, característico das construções portuguesas. A reforma foi concluída também em novembro de 2001. Os trabalhos de restauração foram coordenados por Cláudio Valério Teixeira, presidente da Fundação de Arte de Niterói - FAN e coordenador do Núcleo de Restauração de Bens Históricos e Artísticos de Niterói.
Theatro Municipal João Caetano - Restaurado de 1991 a 1995, sob o comando de Cláudio Valério. Sua história de confunde com a do teatro nacional. Sua primeira configuração é de 1827, e a estreia da Companhia Dramática Nacional, em 1833, fundada por João Caetano, é considerada o marco do teatro brasileiro. O grande desafio de sua reforma foi modernizar o prédio, respeitando os aspectos históricos, coexistindo o antigo e o moderno. O projeto de revitalização do Teatro recebeu o prêmio Rodrigo Melo Franca de Andrada, de 1994, promovido pelo Instituto de Arquitetura do Brasil (IAB-RJ), na categoria Restauração de Prédio Histórico.
Programação intensa
O pontapé inicial do projeto será dado hoje, 20 de março de 2002, no Teatro Municipal de Niterói, às 20 horas, com a apresentação do pianista Attilio Mastrogiovani. No repertório, Chopin e A. Glazunov Mussorgsky. No domingo, dia 24, será a vez do grupo de música antiga Longa Florata se apresentar na Igrejinha de São Francisco, às 11 horas. O recital é uma oportunidade e tanto para conhecer as músicas medieval e renascentista.
No dia 7 de abril, também um domingo, o violonista Paulo Pedrassoli e o violinista Angelo Dell'Orto estarão na Igreja de São Lourenço dos Índios para prestar uma homenagem a Piazzola, marcando dez anos de sua morte. Entre os artistas escolhidos para a apresentação estão Haendel, Paganini, Sarasate, Guerra-Peixe e Radames Gnattali, além da audição integral da suíte História do Tango, de Astor Piazzola.
Para encerrar a primeira rodada de apresentações, o som da harpa irá se espalhar pelo Solar do Jambeiro. No dia 11 de abril, quinta-feira às 19 horas, a harpista Cristina Braga fecha o ciclo tocando A. Nepomuceno, M. Grandjany, Cach, Fauré, Debussy, Pertné e Villa-Lobos.
A produção executiva do projeto está a cargo da FAN, através de seu presidente, Cláudio Valério Teixeira, da diretora do Municipal Marilda Ormy, e do maestro e professor Lula Bastos - responsável pela programação na Igrejinha de São Francisco.
Texto de Mariana Autoun, para O Fluminense - 20 de março de 2002
Publicado em 10/06/2022
Projeto leva música erudita a prédios históricos restaurados, visando movimentar as visitas aos monumentos
Conhecer monumentos históricos muitas vezes pode se tornar entediante. Mas não nas construções restauradas recentemente pela Fundação de Arte de Niterói, a FAN. A partir de agora vai ser possível conciliar música de boa qualidade aos ambientes da Igrejinha de São Francisco, da Igreja de São Lourenço dos Índios, do Solar do Jambeiro e do Teatro Municipal. É o projeto 'Música e Patrimônio', idealizado pelo artista plástico e presidente da FAN Cláudio Valério Teixeira.
Inspirado em um projeto homônimo existente em Paris, cidade que visitou no ano passado, Cláudio Valério resolveu aproveitar a acústica destes locais, excelente segundo ele, para movimentá-los. "Se você faz o patrimônio funcionar, ter uma animação, você faz ele ser querido pelo público. Além disso, estamos criando um mercado para os músicos eruditos, que não têm espaço", explicou Valério.
A diretora do Teatro Municipal, Marilda Ormy, tem opinião semelhante. "Vamos, mais uma vez, valorizar os locais restaurados, mas queremos muito mais do que levar música para atrair o público. Queremos a participação da comunidade local. As pessoas precisam saber da existência desses lugares", ressaltou.
Segundo Marilda Ormy, a ideia é que o projeto seja permanente. "Queremos estar levando música pelo menos uma vez por mês a esses lugares", diz. Ela lembra que, no Municipal, o Música e Patrimônio será incorporado ao projeto Quarta Clássica, que funciona no Teatro há seis anos. Para Marilda, o processo de reativação do local é um bom exemplo do que se quer fazer com os outros pontos históricos.
"Hoje, boa parte das atividades que temos aqui são resultado da participação dos frequentadores na vida do Teatro", contou Marilda, lembrando que a participação da equipe de funcionários do teatro também é fundamental. "Eles são bárbaros", elogiou.
Segundo o diretor da FAN esse projeto pode, ainda, ser ampliado para outros monumentos. "Niterói tem patrimônios históricos de boa qualidade", afirma. Para ele, investir na cultura é a principal arma contra a violência. "Nas cidades em que a cultura é importante, a violência é muito menor", declarou.
Um Pouco de História
Igreja de São Francisco Xavier - Construída no alto de uma colina, entre as praias de São Francisco e Charitas, é uma notável relíquia do Brasil-colônia. Consta ter sido fundada pelo padre José de Anchieta, em 1572, embora historiadores reportem sua origem ao ano de 1696.
Igreja de São Lourenço dos Índios - Foi reinaugurada em 22 de novembro de 2001, durante as comemorações do aniversário da cidade. A restauração artística, que envolveu o retábulo e o orago da Igreja de São Lourenço dos Índios, foi executada pelo professor Domingo Isaac Tellechea, diretor do Instituto Paulista de Restauro, e sua equipe. Ela é considerada monumento da fundação da cidade de Niterói, tendo sido erguida pela primeira vez em 1573. Sua estrutura atual é datada de 1627, construída pelos jesuítas. Possui no altar-mor um retábulo, que é considerado um precioso exemplar da arte barroca no fim do século XVI, assim como outras peças históricas.
Solar do Jambeiro - Foi construído em 1872 pelo comerciante português Bento Joaquim Alves Pereira. Retrato típico de uma época de luxo e riqueza, o Solar é um exemplar notável da arquitetura residencial urbana de meados do século XIX, com autênticos azulejos de padrão, característico das construções portuguesas. A reforma foi concluída também em novembro de 2001. Os trabalhos de restauração foram coordenados por Cláudio Valério Teixeira, presidente da Fundação de Arte de Niterói - FAN e coordenador do Núcleo de Restauração de Bens Históricos e Artísticos de Niterói.
Theatro Municipal João Caetano - Restaurado de 1991 a 1995, sob o comando de Cláudio Valério. Sua história de confunde com a do teatro nacional. Sua primeira configuração é de 1827, e a estreia da Companhia Dramática Nacional, em 1833, fundada por João Caetano, é considerada o marco do teatro brasileiro. O grande desafio de sua reforma foi modernizar o prédio, respeitando os aspectos históricos, coexistindo o antigo e o moderno. O projeto de revitalização do Teatro recebeu o prêmio Rodrigo Melo Franca de Andrada, de 1994, promovido pelo Instituto de Arquitetura do Brasil (IAB-RJ), na categoria Restauração de Prédio Histórico.
Programação intensa
O pontapé inicial do projeto será dado hoje, 20 de março de 2002, no Teatro Municipal de Niterói, às 20 horas, com a apresentação do pianista Attilio Mastrogiovani. No repertório, Chopin e A. Glazunov Mussorgsky. No domingo, dia 24, será a vez do grupo de música antiga Longa Florata se apresentar na Igrejinha de São Francisco, às 11 horas. O recital é uma oportunidade e tanto para conhecer as músicas medieval e renascentista.
No dia 7 de abril, também um domingo, o violonista Paulo Pedrassoli e o violinista Angelo Dell'Orto estarão na Igreja de São Lourenço dos Índios para prestar uma homenagem a Piazzola, marcando dez anos de sua morte. Entre os artistas escolhidos para a apresentação estão Haendel, Paganini, Sarasate, Guerra-Peixe e Radames Gnattali, além da audição integral da suíte História do Tango, de Astor Piazzola.
Para encerrar a primeira rodada de apresentações, o som da harpa irá se espalhar pelo Solar do Jambeiro. No dia 11 de abril, quinta-feira às 19 horas, a harpista Cristina Braga fecha o ciclo tocando A. Nepomuceno, M. Grandjany, Cach, Fauré, Debussy, Pertné e Villa-Lobos.
A produção executiva do projeto está a cargo da FAN, através de seu presidente, Cláudio Valério Teixeira, da diretora do Municipal Marilda Ormy, e do maestro e professor Lula Bastos - responsável pela programação na Igrejinha de São Francisco.
Texto de Mariana Autoun, para O Fluminense - 20 de março de 2002
Publicado em 10/06/2022