No sábado, 15 de dezembro de 2012, às 19h, será inaugurado o Museu Janete Costa de Arte Popular, no bairro de São Domingos. Dois sobrados geminados do século XIX (1862) e com fachadas tipicamente neoclássicas foram desapropriados pela prefeitura para abrigar o novo espaço que presta grande homenagem à arquiteta pernambucana, falecida em 2008, que alcançou projeção nacional a partir de trabalhos em Niterói. A exposição de abertura, "Janete Costa, um olhar", tem curadoria do também arquiteto e filho de Janete Costa, Márcio Costa Santos.

Segundo o curador, a mostra tem como objetivo fazer uma síntese da arte popular brasileira. Para tanto, Márcio trabalhou com um extenso universo que expressa toda a riqueza cultural do Brasil. "Sou filho da Janete, e, como tanta gente, com ela aprendi muito sobre a vida e sobre a arte. Na hora de decidir o que expor na primeira mostra de um museu dedicado a ela, a emoção acabou por comandar o critério de seleção. Escolhi peças de artistas e de mestres com os quais minha mãe tinha relação direta ou indiretamente, tanto nas pesquisas que fez durante sua vida profissional quanto na relação pessoal com a arte e o artesanato populares que teve na infância no lugar onde nasceu, no interior de Pernambuco", conta Mário.

A maioria das 140 obras expostas faz parte da coleção de Vilma Eid, dona da Galeria Estação (SP), que expõe arte popular. Janete Costa fez várias curadorias usando peças dessa coleção, que ela considerava de extrema relevância. Além disso, há obras cedidas pelo Museu Histórico e de Arte do Estado do Rio de Janeiro, Coleção Janete Costa, e algumas do acervo do curador.

"Não tive a pretensão de fazer grandes analogias de ordem cronológica ou regional, nem de materiais. O que busquei foi destacar a qualidade artística e estética comprometida com aspectos socioculturais, com a expressão de valores que fazem jus à riqueza da cultura popular brasileira", explica.

Quem visitar o museu poderá conferir peças expressivas e famosas, moldadas no barro pelas mãos do mestre Vitalino; a força das carrancas torneadas pela pernambucana Ana das Carrancas, de Petrolina; a simplicidade orgânica da madeira esculpida pelo GTO, que talhava a própria história em rodas vivas, repletas de equilíbrio formal entre cheios e vazados; a africanidade das esculturas do baiano Agnaldo; as representações de felinos e da fauna brasileira feita, a partir de troncos, por Manoel Marinheira; as cerâmicas de Adalton, que mistura uma grande variedade de técnicas e materiais; e, ainda, obras de Aurelino dos Santos, o "arquiteto" de formas, cores e paisagens.

"Essa mostra é um passeio pelo Brasil e sua diversidade, uma explosão criativa exposta num labirinto de obras de arte, onde cada peça surpreende e revela regionalidade, expressando cultura e brasilidade", define o curador.




Espaço será destinado para arte popular

Em 29 de novembro último, o prefeito Jorge Roberto Silveira decretou a criação do museu Janete Costa de Arte Popular, na Rua Presidente Domiciano. A proposta do espaço é abrigar, conservar e expor manifestações de arte popular das diversas regiões do pais, além de funcionar como centro de iniciação artística para alunos da rede municipal.

O acervo será composto por doações e por aquisição direta, realizada pelo município de obras que sejam compatíveis com o museu, que poderá receber, em regime de comodato, peças isoladas ou coleções particulares para exibições.

As obras de reforma do espaço foram realizadas pela Cael Serviços e Construções Ltda, após realização de concorrência pública, em agosto. As intervenções tiveram custo de cerca de R$ 3,5 milhões.

"Esse museu será dedicado à arte popular. Artistas que trabalham com esculturas em madeira, pedras e cerâmica terão destacado papel. Com isso, o projeto Caminho dos Museus, sucesso garantido desde o início de sua implantação, será reeditado de forma permanente", explicou o secretário municipal de Cultura, Cláudio Valério Teixeira.

Para Cláudio Teixeira, a proposta articulou uma solução para um problema positivo da cidade. "Niterói possui muitos museus juntos e é preciso integrá-los. Em um fim de semana normal, por exemplo, o Museu Antônio Parreiras, no Ingá, recebia 12 visitantes. Com o Caminho dos Museus esse número passou para quase 800 pessoas".

"Uma diferença enorme com uma ação simples e barata: disponibilizar uma van com ar-condicionado para fazer o translado do Museu de Arte Contemporânea (MAC) para lá, bem como para outros museus, onde mantínhamos guias para orientar esses visitantes. É um convite para um passeio do museu de maior destaque até os outros, normalmente, desconhecidos do grande público", detalhou Valério.

O secretário justificou, ainda, a escolha do nome da arquiteta Janete Costa para batizar o novo museu. "É uma pernambucana que morou muitos anos em Niterói. Desenvolveu uma carreira marcada por contribuições nos campos da arquitetura de interiores, design expositivo, design de produtos e divulgação da arte popular e do artesanato brasileiros. Foi uma colaboradora, estudiosa e incentivadora da área, daí a homenagem", resumiu.

De acordo com estimativas da Secretaria Municipal de Cultura, o centro de arte popular já poderia receber exposições, efetivamente, a partir de meados do próximo ano.

O restauro

"Desapropriamos este casarão no momento certo. Mais alguns meses e teriam que derrubá-lo por completo", afirmou o secretário de Cultura. Por ser um prédio que tem a fachada tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), a obra foi dividida em duas frentes. A de restauração e a da recuperação.

"No início de 2010 viemos aqui para fazer o levantamento físico e arquitetônico e o mapeamento de danos e diagnóstico. A fachada, o telhado e as esquadrias - que são as janelas e as portas - foram restauradas preservando a arquitetura original por serem tombados. Já o interior foi liberado para alterações", explicou a diretora do núcleo de restauração, Fernanda Teixeira.

"A fachada deste museu será do século XIX e seu interior do século XXI. Queremos também que os visitantes saiam daqui conhecendo um pouco de arte popular e se tornando 'amigos' de Janete", completou o prefeito, dizendo ainda que o filho da homenageada deverá ser o curador do museu.

O arquiteto Mário Costa Santos agradeceu a homenagem a sua mãe. "Nasci debaixo da prancheta de minha mãe. Ela era uma apaixonada por arte popular e vou dar sequência a este trabalho que ela iniciou", disse.

Leia também: Restauro do prédio do Museu Janete Costa


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Publicado em 10/01/2013

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