Arquiteta diplomada pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Rio de Janeiro, em 1961, Janete Ferreira da Costa nasceu em 3 de junho de 1932, em Garanhuns (PE), e faleceu em 28 de novembro de 2008, em Olinda (PE).

Ao participar ativamente no processo de reformulação urbanística de Niterói, Janete é lembrada como uma arquiteta da cidade. "Quando se formou, morava em Niterói. Teve uma linda loja de decoração na Praia de Icaraí, a Escala, com móveis de designers brasileiros, como Joaquim Tenreiro e Sergio Rodrigues. Depois abriu mais uma loja, além do escritório de arquitetura", conta o arquiteto Mario Costa Santos, filho de Janete.

Além de atuar como consultora na restauração da Igreja São Lourenço dos Índios, no bairro de São Lourenço, Janete também desenhou as estantes de exposição que abrigam as peças arqueológicas.

Em sua homenagem, a Prefeitura de Niterói inaugurou em 2012 o Museu Janete Costa de Arte Popular, num velho sobrado de 1862. A reforma do imóvel e restauração da fachada tombada, ficou a cargo do filho Mario Costa Santos. O Museu foi fechado no início de 2013 para requalificação do espaço interno e reaberto em julho do mesmo ano.


    Janete Costa, por Marjane de Andrade

    Janete desenvolveu uma carreira marcada por importantes projetos de arquitetura, design expositivo e de produtos. Mas, sem dúvida uma das suas maiores contribuições se dá na divulgação da arte popular e do artesanato brasileiro. Desde cedo, manifestou a sua preocupação com os artistas populares e com a sua inserção no mercado de trabalho. O ideal de Janete Costa foi o de fazer com que a arte, a arquitetura e o design, no Brasil expressassem as identidades culturais locais. A sua ação foi decisiva na valorização da arte popular brasileira e dos artistas, visando a inclusão social e a geração de renda através de seus projetos. Considerava essa integração, como ela mesma falou “...uma questão de brasilidade” ao mesmo tempo em que dava um lugar de destaque aos trabalhos de artesãos e artistas populares.

    Janete Costa e seu marido, o também arquiteto Acácio Gil Borsoi. Juntos, o casal mantinha o escritório Borsoi Arquitetura, no Recife, além de uma sucursal no Rio de Janeiro e outra em São Paulo. Clique para ampliar
    Janete também atuou como consultora de arquitetura de interiores em restaurações de sítios históricos, como o Teatro de São Luís; o Palácio dos Leões, também no Maranhão; o Solar do Jambeiro e a Igreja São Lourenço dos Índios, em Niterói. Foi ainda curadora da exposição sobre o designer de móveis Tenreiro, realizada no Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Foi responsável também pelo projeto de decoração de inúmeros hotéis, espaços comerciais e residências no Brasil e no exterior, sendo a grande referência na arquitetura de interiores durante várias décadas.

    A obra

    Janete Costa trabalhou com arquitetura residencial, edifícios públicos, cinemas, auditórios e teatros; hotéis, prédios comerciais, restaurantes e lojas. Nos últimos anos, dedicou-se ao projeto de hotéis, sendo um dos mais importantes o Pergamon, na cidade de São Paulo. Autora de cerca de 50 endereços em todo o Brasil, Janete acreditava que o hotel devia funcionar como agente de mudança e canal de informação cultural.

    Museu janete Costa, em Niterói. Clique para ampliar
    O design de produtos resultou da sua atuação em projetos de Interiores. Ela desenhava da cadeira à luminária, o castiçal e a colcha, levando em conta os mais variados materiais como a madeira, o metal, o vidro, o mármore e as fibras naturais. E, a execução desses projetos, na maioria das vezes ficava a cargo das cooperativas de trabalhadores e comunidades. Criou uma escola a qual muitos arquitetos e designers de interiores se sentem vinculados, principalmente no Nordeste. A “escola Janete” unia a cultura erudita e popular que eram absorvidas em pé de igualdade.

    Como arquiteta, realizou projetos em bibliotecas, cinemas e auditórios, clubes, edifícios públicos, escritórios, galerias, hotéis, prédios comerciais e residenciais, lojas, museus, salas VIP, restaurantes e teatros. Fez edifícios públicos, palácios de governo, clubes, cinemas, teatros, escritórios, museus, salas vip de aeroportos. Foram mais de 3.000 projetos em meio século de atividades. Toda a experiência que adquiriu em 2.000 residências ela foi passando nos últimos anos para os hotéis. Seus projetos preenchem todos os requisitos técnicos da hotelaria internacional, mas ultrapassam as receitas rígidas da hotelaria suíça e da americana, resultando em espaços com personalidade e expressão cultural.

    O trabalho de Janete em design de produtos foi uma decorrência de sua atuação nos interiores, como arquiteta e decoradora. Em sua obsessão pelo detalhe, se não encontrava na produção industrial o que imagina para um ambiente, ela própria desenhava os elementos que iriam compô-lo – da cadeira à luminária, da colcha ao castiçal, lidando com facilidade com materiais como granito, mármore, vime, vidro, madeira, metal etc. A execução desses projetos era confiada, sempre que possível, a comunidades e cooperativas de trabalhadores.

Com projeto de Janete Costa e Acácio Gil Borsoi, o antigo Hospital São Tarcísio, em Belo Horizonte, foi transformado no Centro de Arte Popular - Cemig. Clique para ampliar.


    A paixão

    A valorização da arte popular brasileira e do artesanato foi a forma encontrada por Janete Costa de dar a arquitetura aquilo se convencionou chamar de função social. Pesquisadora da arte popular a cerca de 40 anos e uma das maiores conhecedoras do artesanato brasileiro, a arquiteta sempre procurou incorporar peças produzidas, artesanalmente em seus projetos. Considerava que "...o artesanato aquece e embeleza os ambientes, não se trata apenas de alternativa barata" dizia Janete.

    Através da curadoria e montagem de exposições, no Brasil e no exterior procurou divulgar a arte popular, os artistas e artesãos brasileiros. Entre as exposições organizadas por ela podemos citar: Artesanato como um caminho, Fiesp/Ciesp, São Paulo, 1985; Viva o povo brasileiro, Museu de Arte Moderna – MAM, Rio de Janeiro, 1992; Arte popular brasileira, Riocult, Rio de Janeiro, 1995; Pernambuco – Arte Popular e Artesanato, Rio Design Barra, Rio de Janeiro, 2001; Arte Popular Brasileira e Arte Popular dos Estados, Carreu du Temple, Paris, 2005; Que Chita Bacana, Sesc Belenzinho, São Paulo, 2005; Somos – Criação Popular Brasileira, Santander Cultural, Porto Alegre, 2006, Do Tamanho do Brasil, Sesc Avenida Paulista, São Paulo, 2007.

Galeria Janete Costa no Parque Dona Lindu, Recife.


    O artesanato na opinião de Janete Costa precisa sair dos limites regionais e atingir um preço que assegure ao artesão uma melhor qualidade de vida, necessitando este trabalho de assistência técnica e a organização através de cooperativas. Janete defendia ainda um projeto de desenvolvimento técnico onde o artesanato tradicional pudesse evoluir, sem perder as suas raízes. Como disse Adélia Borges, na despedida da amiga: “...apaixonada pelo que fazia e pelas pessoas, Janete Costa foi uma grande brasileira.”

    Texto de Marjane de Andrade, designer e especialista na restauração em madeira.



Rio Design Barra (2001)

Organizada por Janete Costa, a mostra "Pernambuco - Arte Popular e Artesanato" movimentou os espaços do Rio Design Barra em maio de 2001. Clique para ampliar.


Os textos que acompanhavam as exposições como a realizada no Rio Design Barra, no Rio de Janeiro, uma das mais importantes da trajetória de Janete Costa, e que se intitulou "Pernambuco - Arte Popular e Artesanato", em 2001 explicavam que o artesanato de utensílios domésticos no Nordeste é consumido pela própria comunidade local e por pessoas da mesma classe social, cujo poder aquisitivo não lhes dá condições de acesso a produtos industrializados. Hoje, este setor ocupa 60 milhões de pessoas das regiões Norte e Nordeste do país que trabalham produzindo de forma rudimentar, enfrentando dificuldades técnicas e de comercialização.

"No Rio Design Barra, minha intenção não era fazer mais uma exposição, mas mostrar que objetos de artesanato podem ser usados sem culpa junto a outros de design sofisticado, desde que haja um diálogo entre eles. O artesanato aquece e embeleza os ambientes, não se trata apenas de alternativa barata", explica Janete. A ideia da exposição partiu dos próprios artesãos de Tracunhaém e Caruaru, em Pernambuco, que, isolados, absolutamente anônimos e sem conseguir vender seus produtos, pediram ajuda à arquiteta.

Ao todo, foram mais de 5 mil peças, tanto de arte popular (bruxas de pano, mamulengos, máscaras, figuras de cerâmica, peças de fibra) quanto de artesanato tradicional, objetos de uso doméstico como potes e panelas de barro, leiteiras de zinco, tapetes, cestas, mantas, toalhas de mesa e colchas de cama bordadas ou de retalhos, rendas etc.

    Crítica

    "A nova geração de arquitetos não tem preconceito e valoriza a arte popular e o artesanato graças a ela. Nos projetos dela, essas peças conversam de igual para igual com produtos industrializados e importados", Roberta Borsoi, filha de Janete.

    "Nos projetos de Janete, o objeto não é simples adorno para preencher algum buraco. Não é maquiagem nem embalagem. Pelo contrário, os objetos parecem transpirar. São personagens do projeto arquitetônico". Marcelo Silveira, artista plástico

    "Janete tinha para mim um significado especial, pois em tudo, revela uma força interior nítida, e seu amor pela profissão faz parte de sua estrutura íntima". Burle Max, paisagista

    "Ela entendeu Cultura como o abarcar todo o pensar e todo o fazer humanos. Soube exaltar as habilidades técnico-utilitárias populares, por isso andou o Brasil inteiro. Soube compreender tudo o que há de libertador e de integrador na Cultura. Por isso, suas mão cuidaram tão bem da arte contemporânea – coitada, ainda tão questionada –, dos traços da arquitetura, do confortável na ambientação, da voluptuosidade das curvas do barroco, da sonoridade do carnaval de Olinda, do brilho dos vidros, da opacidade de madeiras, do cheiro das comidas de milho ou do vatapá. A tudo deu trato. A tudo deu lugar. Janete Costa viveu aberta ao sincretismo da diversidade, sublinhando as diferenças para melhor refletir o Brasil e melhor se solidarizar com os amigos." Marcos Vinicios Vilaça, membro da Academia Brasileira de Letras

    "Janete Costa, com propriedade, não fazia diferença entre arte popular e erudita, arte popular e arte contemporânea. Ela procurava qualidade e expressão; com seu olhar sensível e experiente, sabia ver e nos ensinar quando estávamos diante de uma obra excepcional. Na verdade, Janete foi mais do que isso, ela foi responsável pela criação de diversas coleções, apresentando a arte popular ao universo de conhecimento e à apreciação dos mais importantes colecionadores de arte brasileira. Janete Costa foi a grande incentivadora da introdução da arte popular na casa brasileira. Quem teve a oportunidade de conhecer Janete Costa foi, certamente, transformado por sua generosidade; aprendeu a reconhecer o valor da arte popular brasileira, a olhar o mundo vendo-o diferente, a ser um pouco mais generoso; aprendemos todos a ser um pouco melhores." Claudio Valério Teixeira, artista plástico e ex-secretário de Cultura de Niterói


Todos os anos a Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte) de Pernambuco homenageia a artistas na "Alameda dos Mestres Janete Costa". Clique para ampliar.



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Publicado em 10/06/2013

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