Professora Emérita da Universidade Federal Fluminense (UFF), onde se gradou (1967) e se licenciou em História, a professora Ismênia de Lins Martins tornou-se doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutora pela École des Hautes Études em Sciences Sociales (EHESS), de Paris. Com atuação destacada e reconhecida nacionalmente no meio político e acadêmico, presidiu a Fundação de Atividades Culturais de Niterói (FAC) entre 30 de junho de 1978 e 25 de julho de 1980, na gestão do prefeito Moreira Franco.

Os estudos de Ismênia, ao longo de sua carreira acadêmica, versam sobre temáticas ligadas à imigração, questões de gênero e história de Niterói, com ênfase na história fluminense do Segundo Reinado e dos primeiros anos da República. Fundadora do Laboratório de História Oral e Imagem LABHOI/UFF e presidenta da Associação Nacional de História (ANPUH), coordenou o Grupo de Trabalho (GT) Imigração, Identidade e Cidadania da ANPUH/Nacional.

Nascida em 20 de julho de 1942, foi presidente da Associação Brasileira de Historiadores, pró-reitora da UFF e sócia honorária do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro (IHGB). Presidiu a Associação Cultural do Arquivo Nacional (ACAN), onde coordenou o Projeto Estrangeiros no Brasil. Publicou inúmeros artigos em periódicos nacionais e internacionais, e organizou e/ou publicou diversos livros e capítulos de livros. Foi coordenadora de Editoração e Acervo da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e membro da Comissão de Altos Estudos do Programa Memórias Reveladas da Casa Civil da Presidência da República.

Em sua profícua produção intelectual, se destaca, dentre outros livros: "O oitocentos sob novas perspectivas" (2014), "E/Imigrações: questões e inquietações" (2013), "As mulheres médicas nas entrelinhas do centenário da Faculdade de Medicina da UFMG" (2011), "E/Imigrações: histórias, culturas, trajetórias" (2010), "D. João VI e a Biblioteca Nacional: Um legado em papel" (2008), "Emigração portuguesa para o Brasil" (2007) e "Portugueses no Brasil: migrantes em dois atos" (2006).

Gestão na Fundação de Atividades Culturais de Niterói


Ismênia Martins e o professor Aníbal Bragança


A professora Ismênia Martins assumiu a FAC em 30 de junho de 1978 com muita expectativa da classe artística e intelectuais da cidade, incomodada com a gestão anterior, do produtor carioca Albino Pinheiro, que, segundo eles, se preocupava mais em promover artistas do Rio de Janeiro e de outras praças, não dando o mesmo espaço aos artistas locais.

A dinamização das atividades do Museu da Cidade - localizado então no antigo Paço Municipal, no Jardim São João - e dos Teatros Municipal e Leopoldo Froes - então arrendado pela Prefeitura -, a criação de mais salas de leitura e a conscientização do público de que "são suas as salas de cultura" estiveram entre os principais objetivos da nova administração. Entre suas primeiras ações, a nova diretora anunciou os nomes dos 13 representantes do Conselho Deliberativo da Fundação, criado na gestão anterior, mas nunca instalado oficialmente.

Em sua gestão a professora Ismênia criou a Coordenação de Documentação e Pesquisa e comandou a compra do acervo fotográfico de Manoel da Paixão Coutinho da Fonseca, o Fonsequinha, que conta com mais de 25.000 itens, entre fotos e negativos. Criou também diversos projetos, como o Domingo Boa Praça, a Agenda da FAC, o Foto Memória, o Concurso de Crônicas, o Sábado é Dia de Criança e comandou as comemorações do 4º Centenário da morte de Camões.

Na Sala Quirino Campofiorito, no Centro Cultural Paschoal Carlos Magno, criou uma sala de leitura de Arte, com livros doados pelo próprio Quirino - um dos pintores mais icônicos da cidade - e outros adquiridos pela Fundação. Nesse período, havia um programa de contação de histórias, durante a semana e nos fins de semana.

O programa Ônibus da Cidade, com três diferentes percursos, levava a população, nos fins de semana e feriados, a conhecer a história da cidade, seu patrimônio cultural e artístico, as belezas naturais, mas sobretudo, Ismênia gostava de enfatizar, os equipamentos sociais que a cidade oferecia.

Inspirado em uma ideia da dramaturga Maria Jachinta, a FAC, em 1978, abrigou no Theatro Municipal o projeto "Teatro Estável", que em sua estreia apresentou a peça "Anfitrião 38", com a direção de Isaac Bardavid. O objetivo era dar a Niterói uma Companhia teatral que pudesse ser uma referência para artistas e o público da cidade.

Com 14 representantes foi empossado em agosto de 1978, o primeiro Conselho de Cultura do Município.

No mesmo ano, Ismênia inaugurou, no Centro Cultural Paschoal Carlos Magno, a I Feira do Humor, com trabalhos de 11 artistas da cidade, e uma homenagem a Luiz Sá, um dos pioneiros do cartum no Brasil. No teatro Leopoldo Fróes foi lançado o projeto "Em Boa Hora" que tinha como objetivo apresentar um artista novo da cidade e outro já consagrado. Na estreia, o cantor Byafra, que se lançava em carreira solo, dividiu o palco com Alceu Valença.

Em julho de 1979, diante de um inesperado corte de verbas do Fundo de Educação do município, a professora Ismênia reuniu-se com artistas da cidade em busca de uma solução para o financiamento dos projetos da Fundação. Na reunião, cerca de 130 artistas autônomos se comprometeram, durante dois meses, a realizar eventos destinados a angariar fundos junto à comunidade, a fim de manter em funcionamento as atividades da fundação. O movimento, que contou com apresentações no Theatro Municipal, Leopoldo Fróes e no Campo de São Bento, teve seu momento mais simbólico nos eventos "Niterói Vai Sumir" e "Niterói Vai Assumir", com dezenas de shows em agosto e setembro daquele ano. Byafra, Dalto, Oswaldo Montenegro, Ângela Rô Rô, Fátima Regina, Marina Lima, Marcos Sabino e O Circo foram alguns dos artistas que subiram ao palco nos teatros Municipal e Leopoldo Fróes.

Em agosto de 1980, Ismênia trouxe para o Theatro Municipal de Niterói, as comemorações do primeiro aniversário da Anistia, com as presenças de Chico Buarque, Gonzaguinha e todas as lideranças nacionais do movimento.

Como presidente da FAC, Ismênia liderou uma campanha popular solicitando ao governo do Estado a devolução da área, que, desde 1969, estava ocupada pelo esqueleto do prédio do Palácio da Justiça do antigo estado do Rio, para que fosse restaurada, no local, a antiga Praça da República. A mobilização iniciada por Ismênia, só deu resultados efetivos em 1989, quando o esqueleto foi enfim demolido e a praça devolvida à população.

Histórica militante política de esquerda, Ismênia, inconformada com a migração do prefeito Moreira Franco para o PDS, partido dos militares que governavam o Brasil, pediu, junto com sua equipe de gestão, demissão com uma carta aberta que foi publicada apenas no jornal O Pasquim. Ismênia foi substituída pelo professor Nilo Neves.


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Publicado em 26/07/2022

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