Artista essencial para a compreensão da história da arte no Brasil e considerado uma dos maiores paisagistas e marinhistas de sua geração, Antonio Rafael Pinto Bandeira exercia o ofício de pintor desde os 16 anos na Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro. O início prematuro nas artes plásticas, a luta contra o preconceito por sua condição de negro, o reconhecimento por sua produção na época, e o talento nato para os pincéis projetou o artista como um dos grandes nomes da pintura no país.
Pinto Bandeira nasceu em Niterói, em 9 de março de 1863, e faleceu de forma trágica, em sua cidade natal, em 16 de agosto de 1896, lançando-se de uma barca na baía da Guanabara. Contemporâneo de Antônio Parreiras e descendente de escravos - seu pai era alfaiate, Pinto Bandeira, dedicou-se também ao magistério além de pintar com brilhantismo retratos e naturezas-mortas.
De 1879 a 1887, frequentou a Academia Imperial de Belas Artes, escola superior de arte fundada pelo rei Dom João VI. Na Academia, foi aluno de Victor Meireles, Agostinho José da Mota e João Zeferino da Costa, tendo como colegas Rafael Frederico, Oscar Pereira da Silva, Hilariao Teixeira, Eliseu Visconti, Batista da Costa e Rosalvo Ribeiro. Seu desempenho enquanto aluno chamava atenção.
Em 1886 realizou na Academia sua primeira mostra individual, quando se revelara artista já seguro do seu métier, dono de uma personalidade marcante - embora não contasse senão 23 anos. Apesar de não ter sido aluno de Georg Grimm, é considerado um fiel seguidor dos mais fiéis seguidores do realismo paisagístico do mestre.
Participou diversas vezes da Exposição Geral de Belas Artes, tendo conquistado diversos prêmios, entre eles a Menção Honrosa em Modelo Vivo (1883); Grande Medalha de Ouro, em pintura histórica (1884) e Imperatriz do Brasil (1885), criado cinco anos antes pelo Comendador Caetano de Araújo.
Em 1887 inscreveu-se no concorrido concurso "Viagem à Europa" não sendo classificado. Como o resultado foi contestado, entre outros pelo escultor e professor mexicano naturalizado brasileiro, Rodolfo Bernadelli, Pinto Bandeira foi compensado com a aquisição pelo governo de duas de suas obras, hoje pertencentes à Pinacoteca do Museu Nacional de Belas Artes: "Habitação na Raiz da Serra" e "Chácara em Niterói".
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Uma Chácara em Niterói (1887). Clique para ampliar |
Ainda em 1887, por indicação de Firmino Monteiro, mudou-se para Salvador, onde, durante dois anos lecionou no Liceu de Artes e Ofícios. No Liceu, em 1989, expôs 15 quadros, entre paisagens, santos e figuras, entre as quais 'São Jerônimo', 'Judas Iscariotes', 'Muçulmano em Oração', 'Paisagem de Niterói', 'Marinha - Pedra Furada' e 'Retrato do Aluno Conceição'.
Em Salvador pintou algumas das mais importantes paisagens de sua obra e chegou a sugerir ao governo da Bahia a criação de uma Escola de Belas Artes de Salvador, com um curso de Arte Sacro-decorativa, que seria por ele ministrado.
Retornando em 1890 depois dessa mostra a Niterói, Pinto Bandeira deu continuidade à sua carreira de pintor, ao mesmo tempo em que se esforçava por criar, na cidade, uma Escola de Belas Artes. Em 1890 e 1894, participou da Exposição Geral de Belas Artes, na Escola Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. Em 1892, por ocasião de uma grande ressaca, pintou uma admirável tela mostrando o mar em fúria.
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Habitação na raiz da Serra da Estrela (1884). Clique para ampliar |
O fracasso da tentativa de criar uma Escola em sua cidade natal, aliado a seu temperamento naturalmente arredio e melancólico, pode ter contribuído de modo preponderante para o seu trágico fim, muito embora seu colega e conterrâneo Antônio Parreiras tenha mencionado uma desilusão amorosa que Bandeira teria sofrido motivada por preconceito racial. Falecido no dia 16 de agosto, seu corpo só foi encontrado 12 dias depois, sendo sepultado sem maiores formalidades, em virtude do estado de decomposição do corpo. Os jornais, bem como a família, admitiram a hipótese de suicídio.
Postumamente, integrou as seguintes mostras coletivas: Exposição Retrospectiva da Pintura no Brasil (1948) e 150 Anos de Pintura de Marinha na História da Arte Brasileira (1982), ambas no Museu Nacional de Belas Artes, e a sala especial A Paisagem Brasileira até 1900, organizada por Rodrigo M. F. de Andrade para a Bienal de São Paulo de 1953. Também foi um dos homenageados nas mostras "Negros Pintores", no Museu Afro Brasil (2008), e "Pintores Negros do Século XIX" (2000), na Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Em 1953, Jefferson Ávila Júnior, diretor do Museu Antônio Parreiras, em Niterói, organizou naquela casa de arte uma exposição retrospectiva, com obras que pertenciam à sua irmã Julieta Borel Pinto Bandeira. No mesmo ano, parte de sua produção fez parte da mostra 'A Paisagem Brasileira até 1900', na décima segunda Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP). Em 1963, o MAP voltou a receber uma mostra de Pinto Brandeira.
O crítico José Teixeira Leite comparou as paisagens de Pinto Bandeira às de Hipólito Caron e Vasquez e Firmino Monteiro pelas cores e pela qualidade, o que as diferenciaria seria a fidelidade à natureza. Assim como Teixeira Leite, Quirino Campofiorito, pintor, crítico e historiador, também o associa aos discípulos de Georg Grimm. Ele o considera um sucessor do estilo, devido à cautela ao representar a natureza, o que faz com que suas obras sejam ricas em detalhes. Como exemplo, o autor cita as obras 'Paisagem do Rio de Janeiro' (1884) e 'Marinha' (1884), ambas pertencentes ao acervo do Museu Nacional de Belas Artes.
No retrato, também alcançou grande prestígio pela singularidade no uso cromático, pelos traços marcantes e pinceladas realistas, o que fez dele um artista que já flertava com a então emergente fotografia no período.
Em homenagem às Relações Diplomáticas entre o Brasil e a Geórgia, em 2013 foi lançado um selo comemorativo, tendo estampado na imagem referente ao Brasil, a obra "Lenhador" (1890) de Pinto Bandeira e uma de Niko Pirosman (que representa a Geórgia).
Pinto Bandeira integra os acervos do Museu Nacional de Belas Artes (RJ), do Museu Antônio Parreiras (Niterói) e Museu Afro Brasil (SP).
Crítica
"Não tendo se ligado ao grupo de George Grimm, Pinto Bandeira, entretanto, poderia ser incluído naquela sequência de paisagistas, pois, não fosse seu fim trágico, (...) teria, certamente alcançado sucesso no gênero a que se dedicava. Sua técnica é sólida, servindo a um cromatismo discreto e muito justo de tons". QUIRINO CAMPOFIORITO. História da pintura brasileira no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983
"As paisagens de Pinto Bandeira aproximam-se das de Caron, Vasquez e Firmino Monteiro, pela qualidade e pelo colorido. Delas já se falou serem exatas reproduções de sítios naturais, o que lhes empresta inegável valor iconográfico. Na verdade, Pinto Bandeira vai muito além da mera cópia verista, pois, paisagista extremamente sensível, fez uso de uma fatura e de um colorido admiráveis. Se mais não chegou a realizar, foi porque morreu muito moço, sem ter a oportunidade de viajar até a Europa para ali estudar, cotejando as obras dos grandes paisagistas com as suas. Tímido e sem força para impor-se a um meio indiferente, lutou quanto podia, e depois abdicou voluntariamente da carreira e da vida, não sem antes ter construído sua pequena obra de paisagista, da qual ressalta a Natureza observada com melancolia." JOSÉ ROBERTO TEIXEIRA LEITE. Dicionário Crítico da Pintura no Brasil. ArtLivre, Rio de Janeiro, 1988
"Há nestas paisagens aquele sentido verista exigido por Grimm e que lhes empresta, hoje, inegável valor histórico. Neste particular, pelo que reproduzem das velhas restingas, dos morros, das gargantas e dos atalhos da antiga Praia Grande, estes quadros de Pinto Bandeira valem por admiráveis documentários da cidade". VOL. 1 DOS ANAIS DO MUSEU ANTÔNIO PARREIRAS, publicado em 1952 - 1953
Exposições Individuais
1886 - Individual, na Academia Imperial de Belas Artes (Aiba) - Rio de Janeiro, RJ
Exposições Coletivas
1883 - Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba - menção honrosa em modelo vivo - Rio de Janeiro, RJ
1884 - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba - medalha de ouro em pintura histórica e menção honrosa - Rio de Janeiro, RJ
1885 - Exposição Geral de Belas Artes - Prêmio Imperatriz do Brasil - Rio de Janeiro, RJ
1889 - Mostra no Liceu de Artes e Ofícios - Salvador, BA
1890 - Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - Rio de Janeiro, RJ
1894 - 1ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - Rio de Janeiro, RJ
Exposições Póstumas
1948 - Retrospectiva da Pintura no Brasil, no MNBA - Rio de Janeiro RJ
1953 - Retrospectiva, no Museu Antônio Parreiras - Niterói, RJ
1953 - 2ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão dos Estados - São Paulo, SP
1963 - Exposição no Museu Antônio Parreiras - Niterói, RJ
1977 - Aspectos da Paisagem Brasileira: 1816-1916, no MNBA - Rio de Janeiro, RJ
1985 - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, Fundação Bienal de São Paulo, SP
1986 - Dezenovevinte: uma virada no século, na Pinacoteca do Estado - São Paulo, SP
1988 - A Mão Afro-Brasileira, no MAM/SP - São Paulo, SP
1989 - O Rio de Janeiro de Machado de Assis, no CCBB - Rio de Janeiro, RJ
1993 - Pintores Negros do Século XIX, na Pinacoteca do Estado - São Paulo, SP
2005 - Arte Brasileira: nas coleções públicas e privadas do Ceará, Fundação Edson Queiroz - Fortaleza, CE
2008 - Negros Pintores, Museu Afro Brasil, São Paulo, SP
2018 - Histórias Afro-atlânticas, MASP e Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP
2018 - Isso É Coisa de Preto – 130 Anos da Abolição da Escravidão, Museu Afro Brasil, São Paulo, SP
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