"Leopoldo Fróes conheceu a fortuna de ter glória, e a glória de ter fortuna".
Filho do magistrado Dr. Luiz Carlos Fróes da Cruz e de d. Idalina Rodrigues Guimarães Fróes da Cruz, o ator, compositor, letrista e cantor brasileiro Leopoldo Constantino Fróes da Cruz nasceu na casa número 2 da rua de São Francisco, hoje Saldanha Marinho, em Niterói, no dia 30 de setembro de 1882, às cinco horas da manhã. Ao que Fróes contava, à hora de seu nascimento brilhava no céu um grande cometa. E, acrescentava, "nasci sob o signo da vagabundagem".
Aprendeu as primeiras letras no Colégio de D. Lolota, onde foi matriculado em 1889, recebendo do pai, como os outros irmãos, uma moeda de 10 mil réis de ouro com data do ingresso. Em 1890, mudou-se para a Rua da Praia, 49, hoje Rua Visconde do Rio Branco, 123, junto ao Colégio Plínio Leite, que dava fundos para a Rua Visconde do Uruguai, onde improvisou, na copa, seu primeiro palco de teatro.
Leopoldo Fróes, estudante de Direito, com 17 anos.
Em 1893, com o início da Revolta da Armada, a família se transfere para a fazenda de Santo Inácio, no Saco de São Francisco. Com o fim do conflito e logo após o falecimento de sua mãe, em 1894 voltaram para a casa no Centro da Cidade. No quintal da casa montam um pequeno palco onde ele e seus irmãos Corina, Luís Carlos e Celso, os amigos Nonoca e Judith, montam o seu "Teatro de Varieades", imitando artistas famosos. Leopoldo já tinha como ídolo o famoso Ator Peixoto.
Pisou num palco pela primeira vez, quando no Teatro Phenix Nictheroyense, seus pais promoveram a apresentação da peça 'A Moreninha', em benefício da viúva do autor, Joaquim Manuel de Macedo. Mas não foi como ator, mas apenas para entregar flores à atriz Clementina dos Santos. Aos 13 anos, matriculou-se no Ginásio Nacional, hoje Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro.
Inicia sua trajetória artística como amador num clube dramático liderado pelo maestro Francisco Assis Pacheco, estreando no palco do Theatro Municipal de Niterói a 6 de outubro de 1898, com 16 anos recém completados, vivendo o personagem Brécio na peça "Mister Fórceps", de autoria do próprio Assis Pacheco. Com a trupe atua em diversos espetáculos ao lado de reconhecidos atores fluminenses, como Irênio Coelho, Martins Teixeira Júnior (MTJ), Ismael Maia, Mario Continentino, Francisco Bastos, Virgínia de Castro, Ignacia Heredia, Esther Figner e Belinha Pereira da Costa.
Nos anos seguintes integra o Club Dramático do experiente ator Costa Velho, o Centro Artístico Fluminense (CFA) e o Club Riachuelense. No CFA, estreia em janeiro de 1901 na opereta 'O Botafogo', de Teixeira Júnior com músicas do maestro Pires Fernandes, vivendo Armando, o amor de Laura, protagonista vivida por Belinha.
No mesmo ano integra a recém-criada Associação Artística Theatral, com artistas do Rio de Janeiro e de Niterói. Ao lado de nomes como Olímpia Montani, Costa Velho, Irênio Coelho e Ismael Maia, estreou com a companhia no Theatro Municipal com a comédia vaudeville em três atos, 'Niniche', de Alfred Hennequin e Albert Millaud e música de Marius Boullard. Fróes já era uma amoador respeitado na cidade.
Seu pai, o advogado e professor de Direito Comercial, que também militou na política fluminense, não apoiava sua tendência à carreira artística, e, portanto, leva Leopoldo a se formar em Direito, em 1902, e em seguida lhe arruma um cargo diplomático na Embaixada Brasileira de Londres. Porém, Leopoldo nunca exerceu plenamente a função e, ao invés disso, foi para Paris, antes de voltar para o Brasil, quando seus recursos financeiros acabaram.
Leopoldo no teatro? Que pena! Rapaz tão talentoso!
Em 1903 estreia no Theatro São Pedro de Alcântara, hoje Theatro João Caetano, no Rio de Janeiro, com a peça "João José", vivendo o personagem André, de pouca significância para o espetáculo. Em junho do mesmo ano viaja pelo interior fluminense com uma companhia própria, estreando na cidade de Paraíba do Sul.
A Noite Illustrada, 1932, arquivo Nirez
Sem sucesso nas suas primeiras tentativas de seguir a profissão de ator em seu país de origem devido à oposição de sua família, além da pouca valorização que a arte em geral recebia aqui na época, volta à Europa. Em novembro de 1903 estreia pela Companhia Alves da Silva, com o drama de Marcelino Mesquita, "O Rei Maldito", realizado no Teatro do Príncipe Real, em Portugal. No ano seguinte ingressa no elenco do ensaiador e dramaturgo português José Ricardo, estreando na revista "O Velho Gaiteiro". Sobre sua atuação, escreveu o jornal 'O Dia', da capital portuguesa: "Um artista novo, mas que progride a olhos vistos, porque é inteligente e, em extremo, estudioso". Em 1905, atua no Brasil com a companhia de José Ricardo.
Em 1908, depois de percorrer províncias de Portugal, Leopoldo Fróes foi trazido ao Rio pelo empresário Afonso Taveira. Aqui, como viesse a se apresentar a 1º de junho no Teatro Recreio ao lado de Cremilda de Oliveira na zarzuela "A Mulata" de Paso Abate, encarregando-se do papel de "Nogueira", recebe uma entusiástica manifestação por parte de amigos da juventude, antigos colegas do Club Assis Pacheco.
Logo, desligando-se do elenco português, veio a fundar em Niterói, com o tenor Almeida Cruz, a Companhia Cruz & Fróes que estreia no Theatro Municipal de Niterói, com a peça "O Burro do Sr. Alcaide", tendo como estrelas Dolores Rentini e Helena Cavalier. No carioca Teatro Apolo leva à cena "A Capital Federal" e encarna o papel de "Barnabé" da mágica de Eduardo Garrido, "O Gato Preto".
Neste período, engaja-se em diversas modalidades da carreira cênica além de ter estabelecido contatos com importantes figuras deste meio, sempre alternando entre atividades no Brasil e na Europa ao longo destes anos. Com a pela "Castra Suzanna", em 1912 estreia no Teatro Apolo, no Rio de Janeiro, sua companhia de atores portugueses.
Em 1914, novamente no Brasil, depois de passar por diversas companhias teatrais, integra a Companhia de Eduardo Victorino, no Teatro Apolo, e funda, em parceria com a atriz Lucília Peres, com quem convivia, a Companhia Lucília Peres e Leopoldo Fróes, que estreia no Cine-Theatro Rio, em Niterói, com a peça "Alsacia-Lorena", de Gaston Leroux e Lucien Camille.
Montaram mais de vinte peças durante o período relativamente curto de funcionamento da Companhia, mas, devido a rixas pessoais constantes além de divergências criativas e administrativas relativas à empresa, os dois artistas a extinguiram e se separaram em dezembro de 1916. Lucília e Fróes voltaram a trabalhar juntos em 1920.
Em 1915, Leopoldo Fróes assume a programação do Cine-Theatro Pathê, onde estreia com o espetáculo "Mulheres Nervosas". Logo em seguida ocupa o Theatro Phenix, estreando com a peça "Champignol à Força".
O ator teve sua estreia no universo cinematográfico em 1916, com a gravação do filme mudo "Perdida", do diretor Luís de Barros, exibido no Pathé, na Avenida Rio Branco (Rio de Janeiro). Porém, devido a desavenças de Fróes com o diretor, "Perdida" obteve críticas negativas relativas principalmente ao desempenho do ator, inferior quando comparado à sua atuação nos palcos. Tal repercussão negativa levou Fróes a ficar quinze anos sem participar de outra produção cinematográfica.
A grande projeção do nome de Fróes perante o grande público carioca se consolida no Teatro Trianon, onde estreia a 3 de fevereiro de 1917 com a comédia de Gervásio Lobato, "O Comissário de Polícia". Nela, interpreta o papel de "Pigmalião Sereno". A seguir cria no teatro o compère "Seu Aquele" da revista de Raul Pederneiras, música de Paulino de Sacramento: "Chama um taxi".
A temporada do Trianon foi longa e proveitosíssima, sob todos os pontos de vista. Fróes teve como estrelas de sua companhia naquele teatro, Belmira de Almeida, Amália Capitani e Apolonia Pinto. Logo em seguida, Fróes ocupa os teatros São José, Carlos Gomes, Lyrico, Recreio, Palace-Théatre e Glória. Em temporadas sucessivas foram estrelas das companhias de Fróes, Adriana Noronha, Silvia Bertine, Iracema de Alencar e Dulcina de Morais. À frente de uma companhia de comédia com o seu nome, esteve em Buenos Aires em 1925.
Durante o período de 1917 a 1927, Fróes deu continuidade e total empenho à carreira teatral, tendo incrível sucesso no eixo Rio-São Paulo. Conquistava mais glória e fortuna a cada espetáculo que realizava, com destaque para a comédia "Flores de Sombra", de Cláudio de Sousa, que chegou a ser representada mais de cem vezes consecutivas, e a peça "O Simpático Jeremias", de Gastão Tojeiro. Criou e estrelou dezenas de outras peças consagradas, além de escrever duas peças para o teatro musicado: "Outro amor" (que estreou no Theatro Lyrico em julho de 1920) e "A mimosa" (em março de 1921 no Theatro Phenix), sendo esta última sua única atuação como cantor, de onde saiu sua famosa canção de mesmo nome, que gravou em disco Odeon (da Casa Edison), em 1921.
Mimosa (a canção) seria regravada na mesma época por Bahiano e pela Orquestra Odeon e o Grupo Campista. Bahiano também gravaria a paródia de Mimosa, chamada Cachaça. Ao que parece, a canção foi composta antes da peça ser escrita. O sucesso da canção atravessaria décadas, tendo ela sido gravada pelo tenor italiano Beniamino Gigli em 1951. Gigli cantou os versos de Leopoldo Fróes em português.
Além disso, compõe o lundu "Samba fidalgo", o one-step "Aime l'amour" e o choro "Samba choroso" (com J. F. Machado), entre muitos outros.
Em 1918, Fróes cria, em conjunto com alguns amigos do meio artístico e jornalistas, a Casa dos Artistas", sendo seu principal fundador e posteriormente presidente de honra. A Casa foi idealizada com o objetivo de acolher artistas que precisassem de amparo; foi edificada em 1919, depois da doação de um terreno em Jacarepaguá (Rio de Janeiro). O artista não mediu esforços para ajudar a financiá-la, promovendo eventos e festivais para arrecadação de fundos, além de contribuir ele mesmo com grande parte dos recursos e donativos. A associação chegou a alcançar subvenções dos governos municipal e federal e existe até hoje, no mesmo local, reunindo pouco mais do que trinta moradias voltadas a artistas que não têm outro lugar para ir, contando com o apoio de voluntários e doações para se manter.
Depois de deixar um marco indiscutível no cenário teatral brasileiro da época, sendo o artista que mais impulsionou e contribuiu para a valorização e engrandecimento da arte desde João Caetano, Leopoldo Fróes vai à Paris, em 1930, contratado pela Paramount para gravar o filme "Minha Noite de Núpcias", com Beatriz Costa e Estevan Amarante. Só aceitou fazer parte do filme depois que lhe ofereceram uma pequena fortuna, depois da experiência negativa que havia vivenciado quando em contato com a sétima arte pela primeira vez na produção de "Perdida".
Como este período foi concomitante ao início do cinema falado, a companhia americana de cinema passou a produzir versões de suas principais obras em vários idiomas. Dirigido por E. W. Emo e tendo o elenco formado pelos artistas portugueses Beatriz Costa, Álvaro Reis, Estevão Amarante, Maria Emília Rodrigues e Maria Sampaio e pelos artistas brasileiros Leopoldo Fróes, Francisco Azeredo, Maria Janocopulos e Mario Marano, "Minha Noite de Núpcias" seria a versão em português da produção "Her Wedding Night" (1930).
A comédia estreou em maio de 1931, em Lisboa, e foi um tremendo sucesso, tendo como principal destaque a atuação muito elogiada de Fróes. Porém, o ator não pôde comemorar plenamente esta conquista, pois caiu doente durante as filmagens da obra, e, alguns meses depois, veio a falecer de pneumonia, em um sanatório suíço no dia 2 de março de 1932.
Homenagens
Niterói, sua cidade natal, prestou ao artista algumas homenagens. Leopoldo Fróes empresta seu nome a uma importante rua, que liga os bairros de São Francisco a Icaraí. Conhecida como Estrada Fróes, foi até a inauguração do Túnel Roberto Silveira, nos anos 1950, a única via de ligação entre os bairros. Em 1973, a prefeitura da cidade, por meio do Instituto Niteroiense de Desenvolvimento Cultural, arrendou o Teatro Alvorada, localizado no Centro da cidade e pertencente à Mitra Arquidiocesana de Niterói, e o rebatizou em sua homenagem. Hoje o teatro se encontra fechado. Há na Praça da República um busto em sua homenagem, obra do escultor Honório Peçanha.
Repertório
O repertório de Leopoldo Fróes, no Brasil, comportou desde as comédias de França Júnior, Artur Azevedo, Moreira Sampaio, até aos originais dos acadêmicos Claudio de Souza, Viriato Correia, dos jornalistas Bastos Tigre e Antônio Torres e dos teatrólogos Gastão Tojeiro, Armando Gonzaga, Abadie Faria Rosa, Batista Junior, Antônio Guimarães, Renato Viana e Paulo Magalhães.
Leopoldo Fróes, criou no palco do Teatro Municipal, do Rio, a peça de Martins Fontes "Viagem a Citera". Por sinal, foi brilhante como apenas ele poderia ser, ao tempo, entre nós, na interpretação de um original de Martins Fontes. Segundo o jornalista Brício de Abreu, "Deve ser dito que para escrever papéis para Leopoldo Fróes ninguém, na literatura nacional poderia competir com Martins Fontes. Também nenhum outro intérprete poderia viver assim, perfeitas, personagens ideadas por Fontes. Eram, Fontes e Fróes, criaturas de espirito encantador, fantasioso, cavalheiresco e irresistível". Outro teatrólogo para cujo repertorio Fróes seria o ator ideal, foi Paulo Gonçalves.
Ao contrário do que foi escrito muitas vezes, Fróes representou numerosíssimos originais brasileiros. Entre as peças nacionais desempenhadas pelo ator niteroiense figuraram: "As Doutoras", "Flores de Sombra", "No Tempo Antigo", "Os Sonhos do Teodoro", "Longe dos Olhos", "Outono e Primavera", "Nossa Terra", "Sol do Sertão", "O Genro de muitas Sogras", "O Simpático Jeremias", "O Dote", "Micróbio do Amor", "O Jovem Presentino", "Deputado a Muque", "Eu Arranjo Tudo", "Soldadinhos de Chumbo", "Viuvinha do Cinema", "Tipos da Atualidade", "Amor e Ovos", "Mulher Brasileira", "Doutor sem Sorte", "O Outro Amor". "Luciano, O Encantador", "A Senhorita Gasolina", "Viagem à Roda das Mulheres", "Mulheres não querem Almas", "O Coração não Envelhece", "A Descoberta da América", "O Gigolo", "O Pulo do Gato", estas, todas em 3 atos.
Do repertório brasileiro de Fróes constaram ainda as peças em 1 ato: "Por amor de Magdala", "Ensinai a Ler", "Quadro de Wateau", "O Homem que dá Azar" e "O Elegante Doutorzinho".
Leopoldo Fróes contracenou, no Brasil, com todos os principais artistas patrícios ou aqui estreados, contemporâneos: Lucília Péres, Jaime Costa, Átila de Morais, Armando Rosas, Dulcina de Morais, Nestório Lips, Carlos Torres, Teixeira Pinto e Carmen Azevedo.
Colaborou no jornalismo, tendo escrito assiduamente na primeira fase de um semanário brejeiro e que marcou época na imprensa brasileira, "O Rio Nú". Poeta, músico, teatrólogo, bacharel em Direito, empresário, Leopoldo Fróes foi, antes e acima de tudo, ator, ator de nascença, pode-se dizer.