Pintor, desenhista e professor da Escola Nacional de Belas-Artes, Zaluar conduz sua obra das primeiras paisagens à geometria, tendência a que se manteria fiel pelo resto da vida. Nas telas, o artista traça grandes superfícies em cores fortes. A rigidez das linhas retas é quebrada por curvas e recortes, obtendo emoção e equilíbrio em cada trabalho.
Filho de Ari Zaular (pintor e desenhista) e Hortência Brunet Zaluar, nasceu no bairro de Santa Rosa, Niterói, em 21 de março de 1924 e faleceu no Rio de Janeiro em 16 de dezembro de 1987. Ainda adolescente, aluno do Liceu Nilo Peçanha já, gostava de pintar aquarelas e óleos pelas praias de Niterói. Ginasiano, concorreu em dos salões Fluminenses de Belas Artes e conquistou, sucessivamente, o prêmio Alberto Torres, a Medalha de Prata e o Prêmio Antônio Parreiras.
Estudou pintura na antiga Escola Nacional de Belas Artes, entre 1944 e 1948, dedicando-se mais à aquarela e em 1947, realizou sua primeira exposição, na própria Escola. Na década de 1950, trabalhou como ilustrador na imprensa carioca, na Revista da Semana e Ilustração Brasileira.
Exerceu várias atividades artísticas e integrou diversas associações. Foi sócio-fundador e diretor técnico da Escolinha de Arte do Brasil, no Rio de Janeiro, 1950-52; conselheiro de educação artística da Fundação Armando Álvares Penteado, São Paulo, 1950-52; fundador e vice-presidente da primeira diretoria da Associação de Artistas Plásticos Contemporâneos, 1957-58 e vice-presidente da Associação Internacional de Artistas Plásticos, Rio de Janeiro, 1968.
Em 1959, conquistou o primeiro lugar em desenho do Prêmio Leirner de Arte Contemporânea, na Galeria de Artes das Folhas, em São Paulo. Apaixonado também pela arquitetura, nos anos 1960 começou a apresentá-la em seus desenhos, em sua caligrafia pictórica.
Zaluar conquistou diversas premiações como as do Salão do Mar - Rio de Janeiro, 1958; Salão Municipal de Belo Horizonte, 1959; o Prêmio Leirner de Arte Contemporânea - São Paulo, 1959. Em 1963, recebeu o prêmio de viagem ao estrangeiro no XI Salão Nacional de Arte Moderna - Rio de Janeiro. Em 1969, obteve o prêmio de desenho na II Bienal de Salvador e em 1971, o do I Salão de Artes Visuais do Rio Grande do Sul.
Participou de diversas mostras coletivas entre 1959 e 1987, como a Bienal Internacional de São Paulo, o Panorama de Arte Atual Brasileira, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), e o Salão Nacional de Arte Moderna (SNAM), no Rio de Janeiro, do qual recebe prêmio de viagem ao exterior em 1963.
Taxado de subversivo por defender a democracia ao lado de nomes como Mário Barata e Quintino Campofiorito, foi aposentado na Enba pela ditadura militar. Em 1967, ganhou prêmio aquisição no 4º Salão de Arte Moderna do Distrito Federal. No Salão Nacional de Arte Contemporânea de 1969, levantou o maior prêmio que um artista brasileiro pode almejar: o Prêmio de Viagem à Europa, com estadia por dois anos.
Em 1975 e 1979 expôs em retrospectivas no MAM/SP e no Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC/PR), respectivamente. No ano seguinte apresentou trabalhos em ainda outra retrospectiva, desta vez no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs). Em 1978, na Cidade do México, recebeu menção honrosa na 1ª Bienal Ibero-Americana de Pintura.
Nos anos 1980, Zaluar recebeu o título de professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Fez parte de comissões de seleção e premiação de salões, como o 7º Salão Nacional de Artes Plásticas, em 1984, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ). No mesmo ano comemorou os 60 anos de idade e 40 de arte, com uma esposição na qual apresentou uma seleção de obras realizadas entre 1974 e 1984.
Sua obra figura em acervos de diversas instituições. No Rio de Janeiro, o Museu Nacional de Belas Artes-MNBA, Museu de Arte Moderna-MAM e IBM do Brasil; em São Paulo, o Museu de Arte Moderna-MAM, Museu de Arte Contemporânea-MAC, Pinacoteca do Estado e Museu Assis Chateaubriant. Está também representado nas coleções do Museu de Arte Contemporânea do Paraná, do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, do Museu Antônio Parreiras, em Niterói, e Brazilian Art Cultural Institute, em Washington, EUA.
Sua vida e produção artística foram retratadas nos documentários "Zaluar - Vida e Obra", de Frederico de Moraes, 1975; "Encontro Marcado com Abelardo Zaluar", de Araken Távora, 1983 e "Linha e Cor", de Sérgio Ricardo, 1984.
Do Figurativismo à Pintura Racional (fonte: CR-Rom "500 Anos da Pintura Brasileira")
Após começos figurativos, em que fixava, através de aquarelas e desenhos, aspectos da natureza, Zaluar enveredou pela vertente não-representativa, pautando toda a sua produção, desde então, pelo severo jogo de linhas, formas e cores dispostas racionalmente, numa depuração crescente.
Como disse Mário Barata em 1970, "o senso de medida talvez seja a maior característica da arte de Zaluar, ao lado da finura, do elevado grau de harmonia de suas trajetórias e do vigor visual de suas obras". Tal depuração gradativa levou-o, no devido momento, à vertente construtivista, sem que, contudo, atingisse ao ascetismo minimalista.
Na verdade, em Zaluar dá-se um equilíbrio entre razão e emoção, pois, como observou um de seus mais persistentes críticos, Frederico Morais, "através da geometria, Zaluar filtra e decanta a realidade, suas próprias emoções, eliminando impurezas e fixando-se no essencial".
A presença sutil do desenho - A formação básica como desenhista transpira nitidamente de sua pintura, via de regra estruturada com auxílio da linha, a qual contém as formas e ao mesmo tempo as amarra num todo significativo. Em anos subsequentes, Zaluar buscou reinterpretar a riqueza do Barroco Mineiro em quadros que se destacam pelo cromatismo. Nesses quadros, ele recriava as relações espaciais barrocas, imprimindo-lhes sua austeridade.
A partir da década de 1980 a cor vai-se impondo gradualmente sobre a linha: Zaluar, que em começos de sua atividade como pintor fazia quase pintura desenhada ou desenho colorido, torna-se um colorista, sem abandonar contudo a severa estruturação formal, as relações racionais que as formas desenvolvem no espaço pictórico.
Crítica
"[...] A forma orientada pela forte presença das linhas, elementos formais de divisão e orientação dos espaços, cede espaço aos planos cromáticos nos quais se insere a matéria, a pintura. A linha, é certo, ainda existe: ela, porém, muitas vezes aparece até de forma irônica, sugerindo equilíbrios que a cor despreza. [...] A contenção - linha base da obra de Zaluar - mantém-se sempre presente. Alia-se a ela a forma esclarecedora e didática. O ofício do pintor como desbravador dos mistérios da razão e da emoção, simultaneamente." MARCUS DE LONTRA, 1984
"A linha e o espaço, conduzidos pelo instinto da cor e pela ilusão de tridimensionalidade, transpassam esta obra moderna e vibrante, fruto da experiência de um artista que atende rigorosamente às fórmulas científicas da composição, sem se descuidar da aura mágica e indecifrável de suas veredas espaciais. Como um objeto vivo, não identificado, visto por dentro e por fora, móvel e lançado para um horizonte infinito, os trabalhos de Abelardo Zaluar se colocam no limiar exato entre a pintura e o desenho." WALMIR AYALA, 1972
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