Artigo de Sindulfo Santiago
Revista Guanabara Fluminense, novembro de 1955
Não quero perder a oportunidade de falar sobre as mulheres que passaram pela vida de Leopoldo Fróes. Sua sobrinha, Senhora Iris Fróes, que foi uma brilhante atriz e atualmente está afastada do palco, ao qual retornará para interpretar um papel na peça "Mimosa" que está em ensaios, proporcionou-me o grande ensejo.
Fiz uma entrevista com Dona Iris na residência de sua genitora, Senhora Corina Fróes, e procuro aqui reproduzir na integra o todo da agradável palestra que tivemos e do relato que me fez:
- Recentemente, disse Iris Fróes, reunidos alguns amigos que conviveram com Fróes, cada um contou um episódio em torno da sua vida amorosa. Falou-se em Maria Portuzellos, uma jovem portuguesa que Fróes conheceu quando ainda estudante. Essa mulher, dotada de violento amor por Leopoldo, deu-lhe, certa vez uma dentada que foi necessário que Fróes recorresse a uma farmácia, onde o médico perguntou-lhe: "Que bicho lhe mordeu, meu filho?" "Mulher", respondeu Leopoldo.
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Uma fotografia que Fróes ofereceu à sua sobrinha Iris, que concedeu entrevista reproduzida nesta reportagem, com esta dedicatória pitoresca: "Isto é para a Iris, com um beijo do Leopoldo. Rio, 27 de julho de 1917". |
Essa mesma criatura, certa ocasião, chorava desesperada em seu quarto vazio, porque havia recebido um bilhete de Leopoldo terminando o romance. Uma amiga consolava-a. Mas, nada fazia reter as lágrimas porque a carta era peremptória. Estava tudo acabado.
A certa altura, ouviu-se um assovio, alguém assoviava um fado português na esquina da rua... e Maria Portuzuellos saiu correndo e gritando "é ele que me chama... esse é o nosso fado!" e, na esquina caiu, aos beijos, nos braços do estudante Leopoldo Fróes.
Muitas mulheres passaram pela vida de Fróes. Amor? Quando lhe falavam em amor dizia: "entre dois amantes, um há que ama mais, não é isso? Pois bem, eu sou sempre aquele que menos ama". E se perguntavam porque não se casava, respondia: "Eu custo a ser um, como querem vocês que eu seja dois e, às vezes mais ... se eu pudesse seria meio..."
Houve, entretanto, um caso sério na vida de Leopoldo Fróes, foi Dolores Rentini. Rentini fugiu com Leopoldo, em automóvel, de Portugal para a Espanha quase na hora do espetáculo, deixando a espera dos artistas o público e... o marido de Dolores, o empresário Loureiro.
Rentini, mulher de grande beleza era dotada de uma maravilhosa voz de soprano. Era a estrela de sua companhia de operetas. Morreu de febre amarela em Recife, cercada do carinho e da estima das famílias pernambucanas que durante muitos e muitos anos lhe enfeitavam o túmulo nos dias de finados. Fróes nunca mais pôde ouvir a "canção da Vilha" do 2º ato de "Viúva Alegre" porque dizia ele, "Rentini cantava essa canção como ninguém".
Fróes tinha as paredes de seu camarim coberto de quadros com retratos de Dolores, em diversas peças.
Há, ainda, além de muitos outros, um caso pitoresco passado em S. Paulo. Fróes vivia, nesse tempo, maritalmente com uma grande atriz dramática. Era dia de carnaval e todos os artistas que se encontravam em S. Paulo iam ao baile do Teatro Casino da Antártica.
Fróes não gostava de carnaval, mas resolveu ir também ao baile pois estava muito interessado em certa atriz, muito "chic" que ele sabia que lá iria. A "esposa" de Fróes (chamemos as sim, porque como tal ela estava sendo considerada) ficou no quarto do hotel. Um espírito carnavalesco... existem sempre desses espíritos, telefonou para o hotel avisando à madame, que Fróes estava no Casino tomando "champagne" com... e disse com quem. Madame, que era trágica, levantou-se do leito onde repousava, com seu lindo "peignoir" de rendas, soltou os cabelos cor de mel (era assim que o saudoso João do Rio designava os cabelos dessa grande atriz) uma capa de cetim sobre os ombros e, com um revólver na mão, entrou no Casino da Antártica, que estava no auge da folia, gritando com aquela voz teatral, que era usada na "Rajada" e outras peças: "Onde está ele? O meu amor? Quero matá-lo! Quero matar o meu amor!..."
Os artistas reuniram-se em volta da "estrela" desarmaram-na e procuraram afastá-la. Fróes aproveitou sua colega Cecilia Porto, muito gorda e vestida de baiana (cheia de saias franzidas) e, acocorado por traz da "baiana" que dançava em passo de samba, foi-lhe acompanhando o ritmo até alcançar uma janela por onde escapuliu e foi ter ao hotel ficando a espera de madame que ainda lhe pediu que perdoasse a suspeita...
Fróes num "pic-nic", no Alto da Boa Vista, com o escritor Mario Magalhães, sua grande amiga e atriz Belmira de Almeida, seu irmão Celso Fróes, Zezé Cabral e Estevam Santos.
Admiradoras, essas eram às dúzias com seus telefonemas e suas cartas... uma, no meio de tantas, escreveu-lhe durante muitos anos. Fróes dizia não saber de quem se tratava... eram cartas lindas escritas no verso de imagens de santos. Dizia-se uma infeliz, casada sem amor; era honesta mas amava-o e amá-lo-ia eternamente sem se revelar... e, parece que assim foi.
Quando o corpo do grande ator, que morreu em Davos Dorf, na Suíça, e veio para o Brasil, estava sendo velado no Teatro João Caetano, no Rio, em meio daquela romaria que o visitou todo o dia e toda à noite, foi vista uma moça que ninguém conhecia. Apresentou-se à irmã do morto e disse ser uma admiradora de Fróes. Essa moça acompanhou Fróes até sua última morada no Cemitério do Maruí, em Niterói. Não chorava, mas conservou-se sempre triste e digna. Seria essa mulher a missivista anônima?...
Todas as atrizes que trabalhavam a seu lado o admiravam com verdadeiro culto e Fróes lhes devotava grande estima, tratando-as com a maior camaradagem. Ainda recentemente, Belmira de Almeida, numa entrevista que concedeu a uma revista carioca, referia-se a Fróes com uma grande saudade relembrando a sua arte e as suas qualidades de colega e amigo. Entre tantas mulheres bonitas e com predicados que com ele atuaram, muito poucas mereceram de sua parte outro interesse que não fosse de simples amizade inteiramente fraterna. E Fróes morreu solteiro, deixando viúva a sua arte incomparável a qual se dedicou completamente, com uma fidelidade mística.
Legenda foto de capa: Fróes na sua moderna Hudson, último tipo. Neste automóvel ele foi a São Paulo e de lá a Poços de Caldas, realizando um grande feito desportivo pois, conforme ele próprio escreveu "de São Paulo aqui 388 quilômetros, daqui a Poços 300 e tal". Isto, naquela época, era muita coisa.
Fotos do Arquivos da família Fróes da Cruz
Pesquisa e edição de Alexandre Porto
Série Reminiscências de Fróes
Reminiscências de Fróes: Uma homenagem a Leopoldo
Reminiscências de Fróes: Sob o signo de um Astro Vagabundo
Reminiscências de Fróes: Ele superou João Caetano
Reminiscências de Fróes: Mulheres e amores de sua vida
Reminiscências de Fróes: A morte do grande artista
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