Neto de uma mulher negra escravizada, o jornalista, advogado, escultor e escritor Alaôr Scisínio deixou uma grande produção literária como poeta, romancista, contista e historiador, deixando entre suas mais de 20 obras, o clássico 'Dicionário da Escravidão', sobre os 350 anos da saga do negro africano no Brasil. Em 1988, assumiu a Secretaria Municipal de Cultura, acumulando a presidência da Fundação Niteroiense de Arte (Funiarte) de 1988 a 1989.

Nascido em Cordeiro, interior Estado do Rio, a 19 de janeiro de 1927, Alaôr Eduardo Macuco Scisínio de Araújo iniciou sua vida profissional na cidade de Itaocara - cidade vizinha a Cordeiro, como aprendiz de alfaiate, aos 12 anos de idade. Ainda adolescente publicou suas primeiras poesias no jornal "O Lidador", de Itaocara.

Concluiu o curso de Contabilidade em 1954, no Rio de Janeiro, mas estabelece-se em Cantagalo, onde começou também a atuar no escritório de advocacia de seu tio-avô. Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como revisor dos jornais 'A Vanguarda', 'Idade Nova' e 'Correio da Manhã'.

Já em Niterói, escreveu para os jornais 'O Estado', 'A Manhã', 'A Palavra', 'Correio Fluminense', 'Diário Fluminense' e 'A Tribuna', neste último iniciando em 1964, com Luís Antônio Pimentel, a edição de uma página literária. Depois de 15 anos de atuação no campo do Direito, formou-se finalmente em 1965 pela Faculdade de Direito de Niterói, da qual mais tarde seria professor. Lecionou também nas faculdades de Direito da UFRJ e da SUESC, e foi membro do Instituto dos Advogados Brasileiros e Conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil.

Procurador Geral do município de Niterói, de 1973 a 1974, na gestão do prefeito Ivan de Barros, presidiu por duas vezes o Tribunal de Justiça Desportiva da Federação Fluminense de Desportos, no antigo Estado do Rio, e integrou como juiz o Tribunal Superior da Confederação Brasileira de Basquetebol.

No campo literário, pertenceu ao Cenáculo Fluminense de Letras, à Academia Maçônica de Letras, à Academia Fluminense de Letras e às Academias de letras de Cordeiro, Niterói, Itaboraí, Friburgo e Itaocara. Recebeu o título de Cidadão Niteroiense e a comenda de Grande Oficial da Ordem do Mérito Arariboia.

Escultor, Scisínio inaugurou em 1983 no Centro Cultural Paschoal Carlos Magno, uma exposição com 22 talhas e 6 esculturas. A apresentação do trabalho foi feita por Luiz Antônio Pimentel, Israel Pedrosa e Miguel Coelho. Presidente por dois mandatos do Lions Club de Niterói, em 1995 o Grupo Mônaco, que reunia amantes da literatura e das artes em Niterói, homenageou Scisínio com o título de Intelectual do Ano.

Gestão na Cultura de Niterói

Em 11 de abril de 1988, Scisínio assumiu a recém criada Secretaria de Cultura e pouco depois também a Presidência da Funiarte - atual Fundação de Arte de Niterói. Em seu discurso de posse, afirmou: "Nosso objetivo é fazer com que Niterói se constitua numa unidade cultural autônoma, onde ocorra a aproximação dos projetos aos segmentos populares."

Em sua gestão à frente da Fundação foram criados o periódico Nichtheroy (depois chamado de Niterói) e o projeto Música no Campo. Foi também incorporada ao patrimônio da Funiarte a Casa Norival de Freitas (Solar Notre Rêve), na rua Maestro Felício Toledo, Centro da cidade.

Em maio de 1988, Scisínio inaugurou no primeiro piso da sede Funiarte, a Sala José Cândido de Carvalho, em cerimônia que contou com a presença do homenageado. O novo espaço seria destinado a eventos culturais de curta duração, tais como lançamentos de livros, realização de palestras, recitais e exposições.

Livros

Em sua trajetória, publicou mais de 20 livros: "Três Estágios" (1962); "II Jogos Florais de Niterói" (1968, com Luiz Antônio Pimentel); "Árvore na Gaveta" (poesia, 1970); "Um Sertão Diferente" (1983); "Doce de Pedra" (poesia, 1984); "De Isabel a Euclides" (1986); "Fortes de Niterói - Sentinelas da Vila Real da Praia Grande" (1986, com Lucia Teixeira Siqueira); "Crônica Que Te Quero Conto" (1986); "Escravidão e a Saga de Manoel Congo" (1988); "Itaocara - Uma Democracia Rural" (1990); "D'Amor" (1991); "Júlio Santos Filho e os Santos de Cantagalo" (1992); "Letras no Ar" (1994); "Cordeiro - a Realização das Utopias" (1997); "Maranduera Piraquara" (contos, 1997); "As Maiorias Acionárias e o Abuso do Direito" (1998); "Um Tupiniquim na Terra do Sol Nascente" (biografia de Luís Antônio Pimentel, 1998); "Estratagemas de um Rábula" (póstumo, 2005).

Dentro das comemorações do terceiro centenário da morte de Zumbi, em 1997, Scisínio lançou a obra 'Dicionário da Escravidão', com capa de Israel Pedrosa, que apresenta em 400 páginas, 3.300 verbetes sobre os 350 anos da escravidão em terras brasileiras.

Como destacou o jornalista Gilson Monteiro, "de uma inteligência fulgurante e de um conhecimento jurídico acima do normal, Alaôr Scisínio advogava sem ter diploma." Faleceu no Rio de Janeiro, aos 72 anos, em 24 de outubro de 1999, deixando a esposa Elza Carvalho Scisínio, quatro filhos e cinco netos.


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Publicado em 05/08/2022

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