Considerado o maior arquiteto brasileiro, Oscar Niemeyer Soares Filho nasceu em 1907, na cidade do Rio de Janeiro. Em 1928, concluiu o curso secundário e se casa com Annita Baldo, filha de imigrantes italianos, com quem veio a ter uma filha, Anna Maria Niemeyer. No ano seguinte, Niemeyer se matricula na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, onde, cinco anos depois, em 1934, se forma como engenheiro arquiteto. Iniciou sua vida profissional em 1935, no escritório de Lúcio Costa, também no Rio, e conheceu lá Le Corbusier e Gustavo Capanema. Em 1939 projetou, com Lúcio Costa, o Pavilhão do Brasil na Feira Mundial de Nova Iorque, quando recebeu a Medalha da Cidade.
Aos 33 anos, o arquiteto foi convidado por Kubitschek para desenhar, em Belo Horizonte - MG, uma série de prédios, mais tarde conhecidos como Conjunto da Pampulha. Apesar da obra, pronta em 1943, ter dividido opiniões, foi fundamental para o arquiteto, pois rendeu a ele sua primeira projeção internacional. Em 1945 ingressou no Partido Comunista Brasileiro, do qual viria a desligar-se, junto com Luiz Carlos Prestes, em 1990.
Em 1946, foi convidado a dar um curso na Universidade de Yale nos Estados Unidos, mas por razões políticas não pôde entrar no país. No entanto, no ano seguinte, ganhou por unanimidade o concurso para a construção da sede da Organização das Nações Unidas em Nova York e obteve o visto de entrada para desenvolver seu projeto.
Em 1951, Niemeyer criou o Conjunto do Ibirapuera e o edifício Copan, em São Paulo (que se tornou um símbolo da cidade). Viajou pela primeira vez à Europa em 1954, quando participou do projeto para reconstrução de Berlim. No ano seguinte, fundou a revista "Módulo", no Rio de Janeiro, e assumiu a chefia do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da NOVACAP, empresa encarregada da construção de Brasília.
Cinco anos depois, em 1956, quando Kubitschek é eleito presidente do Brasil, Niemeyer é convidado por ele para um grande projeto: a criação da nova capital brasileira. Brasília foi projetada e teve suas obras concluídas e inauguradas em um período de quatro anos. Após a construção da mesma, Niemeyer torna-se coordenador da Faculdade de Arquitetura da UNB. No mesmo ano, viajou para o Líbano para projetar a Feira Internacional e Permanente de Trípoli e o Conjunto Esportivo do Líbano.
Em 1963, durante a Guerra Fria, é nomeado membro honorário do Instituto Americano de Arquitetos dos Estados Unidos e ganha o prêmio Lênin em favor da paz. No ano seguinte Niemeyer é surpreendido, em Israel, pela notícia do golpe militar no Brasil. Quando volta ao Brasil, passa por um período delicado. Sua posição esquerdista não é bem aceita e, como consequência, a revista Módulo, da qual ele era diretor, teve a sua sede parcialmente destruída.
Em 1965 retirou-se da Universidade de Brasília, com mais 200 professores, em protesto contra a política universitária. Com isso, seus clientes e projetos foram desaparecendo e Niemeyer decide se mudar para Paris. Lá, abre um escritório na renomada Avenida Champs-Élysées e consegue clientes de todos os lugares do mundo. Em sua primeira incursão no campo de mobiliário industrializado e comercializado, 1971, teve um de seus projetos considerado pela revista Vogue como um dos 10 imóveis do ano, por seu apuro e conforto.
Niemeyer volta ao Brasil nos anos 80. Nesta época, consegue diversos projetos. Entre eles, o Memorial Juscelino Kubitschek e o Sambódromo do Rio de Janeiro. No início da década seguinte, especificamente em 1991, com 84 anos, projeta o MAC - Museu de Arte Contemporânea de Niterói, considerado por muitos como a sua obra-prima.
Em 2002, é inaugurado em Curitiba o Museu Oscar Niemeyer. Em 2006, na Esplanada dos Ministérios - Brasília, o Museu Nacional Honestino Guimarães. No ano seguinte, é lançado nos cinemas o documentário "Oscar Niemeyer - A Vida É Um Sopro", dirigido por Fabiano Maciel. Neste mesmo ano, recebe das mãos do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva a medalha do Mérito Cultural, em homenagem ao seu centenário. Em junho de 2012, morre a única filha de Niemeyer, Anna Maria Niemeyer. Em dezembro do mesmo ano, o arquiteto morre, no Rio de Janeiro, aos 104 anos com um quadro de complicações renais e desidratação.
Entre seus mais recentes projetos está o "Caminho Niemeyer", que começa num terreno ao lado da Estação das Barcas, no Centro, e termina no Museu de Arte Contemporânea, também projetado por Niemeyer, na praia da Boa Viagem. O projeto incluia sete construções públicas, seis particulares e uma série de esculturas do arquiteto, que se encontram permanentemente a céu aberto. Dentre eles, se destacam, o Teatro Popular, O Centro Petrobras de Cinema e o Memorial Roberto Silveira.
Reconhecimento internacional
Oscar Niemeyer é considerado um dos nomes mais importantes da arquitetura moderna mundial. Embora a arquitetura seja misteriosa, como diz o próprio, os seus projetos são compreendidos e apreendidos pela população. Niemeyer será lembrado para sempre como alguém que rompeu com os padrões e desafiou os limites, conseguindo criar, não apenas magníficas obras, mas um estilo próprio. Entre suas mais famosas construções estão o Palácio da Alvorada e os edifícios da Praça dos Três Poderes em Brasília, o conjunto da Pampulha em Belo Horizonte, o Museu Oscar Niemeyer em Curitiba, o Ibirapuera e o edifício Copan em São Paulo tornaram-se ícones urbanos. Além desses, se destacam também os projetos internacionais assinados pelo arquiteto. Entre eles, a sede do Partido Comunista Francês, Paris; a Escola de Arquitetura de Argel, Argélia; a sede da Editora Mondadori, Milão - Itália e a sede do jornal L'Humanité, Saint-Denis - França.
Ao longo de sua carreira recebeu diversos prêmios e condecorações, tais como: Prêmio Lênin Internacional – URSS, 1963; Prêmio Benito Juarez do Centenário da Revolução Mexicana, 1968; Medalha do Conselho Artístico da Unesco, 1980; Medalha do Porto Oceânico de Le Havre – França, 1982; Prêmio Roma-Brasília - Cidade da Paz, da Prefeitura de Roma, 1985; Medalha Rodrigo Melo Franco de Andrade da Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 1987; Prêmio Pritzker de Arquitetura – Chicago, 1988; Medalha do Colégio de Arquitetos de Catalunha, Barcelona, Espanha, em cerimônia realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, 1990; Insígnia da Ordem do Mérito Cultural no Brasil, 1995; Ordem José Marti, outorgado pelo governo da República de Cuba, 1997 e a Royal Gold Medal do Royal Institute of British Architects – RIBA, 1998.
Em 1989, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos de Lucas - RJ, Brasil, dedicou seu enredo ao arquiteto. Entre os títulos adquiridos pelo conjunto de sua obra, destacam-se: Membro Honorário do Instituto Americano de Arquitetos dos Estados Unidos, 1963; Comendador da Ordem do Infante D. Henrique – Portugal, 1975; Oficial da Ordem da Legião de Honra da França, 1979; Membro Honorário da Academia de Artes da União Soviética, 1982; Comendador da Ordem das Artes e das Letras – França, 1982; Grã-Cruz da Ordem do Mérito de Brasília, 1985; Virtuoso da Pontifícia Insigne Academia Artística, 1985; Membro Honorário do Real Instituto dos Arquitetos Britânicos, 1999; Cavaleiro Comendador da Ordem de São Gregório Magno, Vaticano – Itália, 1990 e o diploma de Honra ao Mérito outorgado pela Associação de Arquitetos do Reino Unido, 1997. Niemeyer é, ainda, Doutor Honoris Causa do Centro de Pesquisa e Ensino de Arquitetura da Alemanha, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da Universidade de Braz Cubas, em São Paulo, da Universidade de São Paulo e da Universidade de Minas Gerais.
Sua obra foi exposta em muitas mostras no Brasil e no exterior, como no Palácio do Louvre – França, 1965; no Centro Georges Pompidou – França, 1979; no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, 1983; no Museu de Arte Moderna de São Paulo, 1997; no Memorial da América Latina, também em São Paulo, 1997; no Museu de Arte Contemporânea de Niterói, 1997 e ainda em cidades como Veneza, Florença, Turim, Pádua e Londres. Publicou diversos livros relatando sua experiência como artista, entre eles: “A Forma na arquitetura”, Rio de Janeiro: Avenir, 1978; “Rio: de província à metrópole”, Rio de Janeiro: Avenir, 1980; “Como se faz arquitetura”, Petrópolis: Vozes, 1986; “Meu sósia e eu”, Rio de Janeiro: Revan, 1992; “Conversa de arquiteto”, Rio de Janeiro: Revan, 1993; “Quase memórias: viagens”, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966; e “As curvas do tempo – Memórias”, Rio de Janeiro: Revan, 2000.
Bibliografia de Referência:
Entre as inúmeras publicações que fazem referência à obra de Oscar Niemeyer, podemos destacar (em ordem cronológica):
PAPADAKI, Stamo. The Work of Oscar Niemeyer. New York: Reinhold, 1950.
YOSHIZAKA, Takamasa; SUZUKI, Makoto. Oscar Niemeyer. Tokyo: Bijutsu-Shuppan-Sha, 1960.
SPADE, Rupert. Oscar Niemeyer. Londres: Thames and Hudson, 1971.
ARJITEKTURA i Oshchestbo: Oskar Nimeier. Moscou: Progress. 1975.
NORWICH, John Julius. Great Architecture of the World. London: Mitchell Beazley Publishers, 1975.
SODRÉ, Nelson Werneck. Oscar Niemeyer. Rio de Janeiro: Graal, 1978.
HORNING, Christina. Oscar Niemeyer: Bauten und Projekte. München: Heinz Moos, 1981.
FILS, Alexander. Oscar Niemeyer: Selbstdarstellung, Kritiken, Œuvre. Münsterschwarzach: Frölich und Kaufmann, 1982.
PENTEADO, Hélio, org. Oscar Niemeyer. São Paulo: Almed, 1985.
RIBEIRO, Darcy. O Livro dos CIEPS. Rio de Janeiro: Bloch, 1986.
LUIGI, Gilbert. Oscar Niemeyer: une esthétique de la fluidité. Marseille: Parenthèses, 1987.
BOTEY I GOMEZ, Josep Maria; DALMAU, Miguel. Oscar Niemeyer. Barcelona: Fundació Caixa de Barcelona, 1990.
SHARP, Dennis. Twentieth Century Architecture: a Visual History. New York: Facts on File, 1990.
KATINSKY, Julio. Brasília em três tempos: a arquitetura de Oscar Niemeyer na capital. Rio de Janeiro: Revan, 1991.
BALBY, Edouard. Niemeyer par lui-même. Paris: Balland, 1993.
UNDERWOOD, David. Oscar Niemeyer and Brazilian free-form of modernism. New York: George Braziller,1994.
PETIT, Jean. Oscar Niemeyer: poète d'architecture. Lugano: Fidia, 1995.
CORRÊA, Marcos Sá. Oscar Niemeyer: Rio de Janeiro: Relume-Dumará; RioArte, 1996.
PEREIRA, Miguel Alves. Arquitetura, texto e contexto: o discurso de Oscar Niemeyer. Brasília: Universidade de Brasília, 1997.
Crítica
"A arquitetura de Oscar Niemeyer tem um lugar decisivo, absolutamente singular, na história da arte contemporânea [...] ao longo de sua vida, Niemeyer foi firmando uma posição desassombrada, de homem engajado na evolução política da civilização, na luta pela paz mundial e - apesar de uma lúcida visão da fragilidade humana - na esperança de um tempo de justiça e fraternidade, onde parecem ficar os espaços que cria para os seus semelhantes, transeuntes passageiros da Terra [...] A admirável simplicidade com que Oscar Niemeyer reafirma sempre: 'a vida é mais importante que a arquitetura', marca, desde o nascimento, os três destinos da Fundação que leva o seu nome: a beleza, o humanismo e a liberdade." ÍTALO CAMPOFIORITO, 1991
"Planning a church has proven an involved problem for contemporary architects. The general tendency is to go back to the old, well worn forms, because of some strange inhibition created by the subject itself. The Pampulha Church, however, had, of necessity, to maintain some spirit which prevails in the other buildings of that locality designed by Niemeyer, and to show a faith in the plastic possibilities of contemporary methods of construction. Two great vaults cover the nave and high altar and dominate the whole composition which develops into successive vaulting at the rear. The bell tower and the marquee at the entrance serve as contrasting elements [...] The building provoked, however, a great deal of animosity among some people. One mayor went as far as to propose the demolition of the building and its replacement by a copy of the church of Saint Francis in Ouro Preto. Prevented from doing this, he proceeded to have the church filled with altars, benches and pews of miscellaneous origin. Finally, the National Department of Artistic and Historical Patrimony decided to take the church under its jurisdiction, saving it from those who were either unable or unwilling to understand it." STAMO PAPADAKI, no livro "The Work of Oscar Niemeyer", 1950, p93.
"Sited on a promontory some distance from the Pampulha amusement complex, this small church embodies an entirely revolutionary use of concrete for ecclesiastical purposes. At the time of its construction the only comparably daring structure had been Auguste Perret's vertical and largely precast structure at Raincy in France, built in 1924. Niemeyer employed the plastic qualities of concrete by using the same structural element for walls and roof in a series of parabolic arches. The outer screen wall on the north side is finished with a tiled mural depicting scenes from the life of St. Francis." RUPERT SPADE, no livro "Oscar Niemeyer", 1971, p126.
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