A obra do "Poeta sem livro", o niteroiense Firmino Rodrigues da Silva, antecipa, ainda no século XIX, elementos que farão parte do romantismo brasileiro, em especial no indianismo, tópico central e distintivo dos movimentos literário no país.

Poeta, jornalista, jurista e influente político do Partido Conservador, Firmino Rodrigues da Silva nasceu a 23 de outubro de 1816, nas terras que hoje formam a cidade de Niterói*. Filho de Firmino Rodrigues Silva e de Ana Joaquina, casou-se em 1852 com a mineira de Piranga, Elisa Belarmina Coelho Duarte Badaró, com quem teve 5 filhos: Francisco Bernardino, Firmino Júnior, Antônio, Alberto e Elisa.

Seguindo a carreira jurídica, bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Academia de São Paulo em 1836. Nos anos 1836 e 37 publicou o periódico "O Cronista", de oposição ao governo da Regência do padre Diogo Feijó, tendo por companheiro Justiniano José da Rocha e o Conselheiro Josino do Nascimento Silva. Com os mesmos parceiros, lançou logo em seguida "O Brasil", este para combater a causa da Maioridade de D. Pedro II.

Em 4 de fevereiro de 1839, ingressou como Sócio Honorário do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Voltando ao Rio de Janeiro, dedicou-se por algum tempo à advocacia, ingressando depois na magistratura. Foi juiz municipal em Valença, juiz de direito em Ouro Preto (1841), chefe de Polícia em Minas Gerais, quando da Revolução Liberal de 1842. Ainda em 1842 foi nomeado Juiz da Comarca de Paraibuna, a qual tinha por sede a cidade de Barbacena e se estendia pelos municípios das Vilas de Pomba, São João Nepomuceno e Presídio de São João Batista (hoje Visconde do Rio Branco). Em 1848 tornou-se juiz em Lages, Santa Catarina (1846), enviado que foi, como represália política, pelo governo Liberal. Logo após, em 1848, voltou a Minas para assumir a comarca da cidade de Sapucaí.

No entanto, a política o exigia muito, e Firmino Rodrigues Silva era entusiasta da bandeira conservadora. A província de Minas Geraes dera-lhe assento na Câmara dos Deputados desde a legislatura de 1843. Duas vezes a mesma província de Minas Geraes o apresentou em listas tríplices para o Senado, à escolha da Coroa, e na segunda, em 1861, mereceu ser o escolhido e nomeado para o cargo que exerceu até 1879.

Seus incontestáveis méritos motivaram sua transferência para a 1ª Vara da Corte, sendo promovido, posteriormente, a Desembargador da Relação do Rio de Janeiro, cargo em que se aposentou em 1875, devido à fragilidade de sua saúde, e esteve, a partir de 1867, exercendo a presidência do Tribunal do Comércio do Rio de Janeiro.

Como escriba, foi uma das mais hábeis penas do jornalismo brasileiro, com destacada atuação nas páginas de "O Despertador (1839)", "Jornal do Comércio", "O Correio Mercantil" (1867/8), "O Cronista" (1836-37), "O Constitucional" (1862-64), e o "O Bom Senso" (1852-58), de Ouro Preto, então capital de Minas Gerais.

Firmino foi autor da celebrada Nênia, ao meu bom amigo o Dr. Francisco Bernardino Ribeiro (1837, publicado em 1841 no jornal "O Brasil"), considerada, por muitos estudiosos, obra prima do romantismo indianista tipicamente brasileiro. Publicou ainda os poemas "Fantasia Poética", "A Partida", "Os Dois Lírios", "Elegia", "Mané-Sapo, uma cobra e um cisne", "Conselho", "A Saudade", "A Coroação", etc., que ficarão como joias de nossa melhor ourivesaria literária, além de diversos discursos sobre temas políticos, como: "A Dissolução do Gabinete de 5 de maio ou a facção áulica" (1847), "Discurso sobre a questão religiosa" (1873); "Discurso na discussão do Voto de Graças" (1870); e O Bom Senso (1849), em que discorreu sobre a Revolução Francesa de 1848.

Segundo o pesquisador Wilton José Marques, "escrito cinco anos antes dos 'Primeiros Cantos' (1846) de Gonçalves Dias, cujas 'Americanas' configuram a mais alta realização da temática indianista na lírica, "Nênia", gênero poético próprio ao lamento fúnebre, é obra de um poeta algo bissexto, cuja produção restrita, não dá a dimensão de sua possível repercussão no momento em que surgiu".




Em 1873, tornou-se o primeiro presidente da Sociedade Tipográfica Literária. Comendador da Ordem de Cristo e oficial da Ordem da Rosa, com a fundação da Academia Fluminense de Letras, em 22 de julho de 1917, teve seu nome escolhido para patrono da Cadeira n° 20. Escreveu também um longo poema intitulado "Nictheroy", que figura na Biblioteca Internacional de Obras Célebres.

Vítima de pertinaz moléstia que lhe minou as forças do corpo e do espírito, em 18 de agosto de 1876, com licença do Senado, Firmino viajou à Europa a fim de ver se lhe seria ali possível recuperar a saúde perdida. Acompanhado de sua esposa e da filha Elisinha, lá ficou em Paris, durante quase 3 anos. Aos 64 anos de idade, em 4 de julho de 1879, faleceu na Capital Francesa.

O nome do Senador Firmino foi ligado a um dos mais florescentes municípios da Zona da Mata Mineira pelo Decreto-Lei nº 148 de 17 de dezembro de 1938, assinado pelo Governador Benedito Valadares Ribeiro.

*Em 1816 Niterói era ainda uma aldeia vinculada à Corte, a Cidade do Rio de janeiro.




Fontes: 'Niteroienses Ilustres do Século XIX', de Elmo Lutterbach; Revista do Instituto Geográfico Histórico Brasileiro (1884); Diversos jornais de época (Hemeroteca da Biblioteca Nacional).

Leia também

"O poeta sem livro e o indianismo romântico", de Júlio Cezar Bastoni da Silva
Livro: "Um Jornalista do Império", Nelson Lage Mascarenhas


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Publicado em 29/04/2023

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