O pintor Antonio Parreiras chegou ao Brasil com o quadro encomendado pela municipalidade, em 4 de julho de 1909, a bordo do navio Magellan. Apenas 5 dias antes da publicação dessa coluna no jornal O Seculo.
O capitão João Antonio da Silva, nosso colega d'O Fluminense, e membro da Comissão Glorificadora à Data da Fundação de Nictheroy, dirigiu ontem ao prefeito municipal um memorial, solicitando não ser recebido o retrato de Martim Affonso de Souza, o "Arariboia", de cuja confecção se encarregara o notável pintor Antonio Parreiras, porquanto, segundo está no domínio público, não é ele modelado pelo existente na Biblioteca Nacional.
O reclamante faz outras considerações, todas baseadas na deliberação n. 55 de autoria do então vereador José Ferreira de Aguiar de março de 1906, que exigia fosse o retrato modelado pelo existente na Biblioteca Nacional, o qual está revestido das roupas que o rei d. Sebastião lhe fez presente, e não como um simples representante de nossas florestas, nu e coberto de pelos de bichos.
A reclamação do nosso colega é a mais justa possível.
Sobre tal assunto, já por duas vezes nos externamos com algum desenvolvimento, censurando o procedimento do prefeito municipal que não soube interpretar o sentimento da municipalidade desta capital, na merecida homenagem prestada ao invicto herói, que com tamanho denodo agiu, já em nome dos princípios civilizastes da comunidade, para a consolidação do domínio português em terra que mais tarde lhe foi doada.
Nós só admitiríamos Arariboia figurando como simples elemento aborígene, dando ideia do valor dos nossos silvícolas em confronto com as raças ocidentais já civilizadas, numa grande tela em que se pusesse em destaque essa luta homérica das duas correntes humanas - a civilização a procurar vencer a barbárie.
Num simples retrato, porém, atestado vivo da galhardia e valor do índio civilizado Martim Affonso, braço forte do governo da metrópole portuguesa nesta parte do Brasil, não podemos permitir a feição rude e selvagem do nu contrastando com a admissão do retratado, como nos ensina a historia, nos palácios dos governadores, onde era recebido como amigo e cavalheiro.
De Nosso Correspondente, 'O Seculo', 9 de julho de 1909.
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Ainda sobre esse Memorial, publicou O Fluminense, na mesma data:
O signatário do memorial alega que o quadro deve ser também de acordo com a clausula 2ª do contrato lavrado em 24 de Agosto de 1907, no qual assinara como testemunha, e não como idealizará aquele insigne pintor, que o ajustou por 10:000$000.
Ainda nas suas considerações o peticionário, diz que o pintor Parreiras receia tanto não ser aceito o quadro, que afirmou ter um outro de acordo com o que está na Biblioteca Nacional, para oferecer à Câmara Municipal.
O Fluminense, 09 de Julho de 1909
Nota: João Antonio da Silva e José Luiz de Ararigboia Cardoso foram as testemunhas do contrato assinado em 24 de agosto de 1907.
SÉRIE: ARARIBOIA DE PARREIRAS
01 - Introdução
02 - A Encomenda e as Primeiras ideias do pintor
03 - O Contrato
04 - A Cidade Dividida
05 - Fundamentos para a Composição, por Antonio Parreiras
06 - Carta Aberta ao Insigne Pintor Antonio Parreiras, por J. A. da Silva
07 - Petição pede ao prefeito que não aceite o quadro de Parreiras
08 - O Quadro segundo Manoel Benício
09 - Surge Nictheroy, crítica de O Paiz
10 - O Quadro de Antonio Parreiras, por Rubens Barbosa
11 - Manoel Benício responde a Rubens Barbosa
12 - Parreira responde aos críticos
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